Ex-atleta de vôlei de praia, Cida Lisboa alterna entre os papéis de mãe e treinadora. Ela é mãe de Duda e foi sua primeira treinadora durante a carreira. Agora, a sergipana, dona de um projeto que revela talentos da modalidade na cidade em que vive, atua como técnica de Tainá e Victoria, mas também faz a função de mãe quando elas estão fora das quadras.
Nascida em São Cristovão (SE), Cida Lisboa morava perto do ginásio do município e começou a praticar vôlei aos 16 anos. Pouco tempo depois, passou a disputar alguns Campeonatos Brasileiros e outras competições de regiões próximas. Mas a quadra não era favorável financeiramente. Cida, então, decidiu migrar para a areia, que distribuía melhores premiações.
No vôlei de praia, Cida Lisboa tinha consciência de que não era uma “atleta top” por ter iniciado os treinamentos na modalidade tardiamente. Ainda assim, alcançou as principais competições a nível nacional, participou do Circuito Nacional por alguns anos e melhorou sua condição de vida.
Nascimento e ascensão de Duda
Três anos antes de se tornar uma atleta profissional, Cida Lisboa teve Duda. A filha viveu o auge da mãe no vôlei de praia, passou a brincar com a areia e mostrou que teria um futuro brilhante pela frente. Neste momento, Cida alterna do papel de mãe para o de treinadora.
“A Duda sempre foi uma menina disciplinada, sempre pegou todos os treinos muito fácil. Ela era muito à frente de cabeça. Psicologicamente ela era muito melhor que as outras crianças da idade dela, sempre tinha algo mais. Aí eu vi que era diferenciada”, disse Cida, em entrevista ao Olimpíada Todo Dia.
A análise de Cida Lisboa estava correta. Duda era diferente. A sergipana foi campeã mundial sub-13 uma vez, sub-19 três vezes e sub-21 duas vezes, além do ouro nos Jogos da Juventude de 2014. No vôlei adulto, venceu o Circuito Mundial de 2018 ao lado de Ágatha. A mãe não esconde o orgulho que tem da filha.
“A sensação de ver ela chegar onde está é a melhor possível. Eu me sinto realizada, porque além dela ter escolhido o mesmo esporte que eu, ela é essa atleta excepcional. Eu tenho a sensação de dever cumprido, porque tudo que a gente propôs para ela deu certo. E a Duda assimilou muito bem”, afirmou.
Filha que o esporte deu
No começo de 2017, Duda recebeu o convite para ser a dupla da medalhista olímpica Ágatha. Mais do que uma nova parceira, a decisão culminou em um desafio familiar. A jogadora deixou São Cristovão e foi morar no Rio de Janeiro. Cida Lisboa, por sua vez, seguiu na cidade sergipana para tocar o CT do qual é dona.
Apesar de ficar longe da filha de sangue, a ex-atleta tinha a filha do esporte para cuidar. Em 2015, Cida Lisboa fez o convite para Victoria deixar o interior do Mato Grosso do Sul e passar a morar com ela no Sergipe para seguir o sonho de se tornar uma jogadora profissional.
“A Victoria mora comigo faz cinco anos. Era uma menina que não tinha muitas perspectivas de evoluir no esporte. Veio de um lugar que não tinha histórico no vôlei. Conversei com a Victoria e a família, trouxe ela para morar comigo e comecei tratá-la como filha. Meu papel é praticamente de mãe”, disse.
Em São Cristovão, Victoria evoluiu e encontrou em Duda sua primeira dupla. Ao lado dela, a sul-mato-grossense foi campeã mundial sub-19 em 2016. Mas a parceria não persistiu e após jogar alguns torneios com Sandressa, ela decidiu atuar com Tainá, com quem já treinava no CT de Cida. Juntas desde 2017 e comandadas por Cida Lisboa, elas evoluíram e atualmente são vice-líderes do ranking nacional.
“São meninas jovens, Tainá, Duda e Victoria começaram praticamente juntas. O diferencial é que elas amam o esporte. E eu acredito que a evolução delas é nisso, confiar no profissional que está com elas e serem disciplinadas, porque os resultados estão chegando. Nós somos os vice-líderes do ranking nacional e isso é fruto de muita dedicação”, disse Cida.
Coração dividido
Com Ágatha e Duda e Victoria e Tainá participando das principais competições do vôlei nacional, seria impossível evitar os confrontos entre as duplas. Isso é motivo de orgulho para Cida Lisboa, mas ao mesmo tempo deixa seu coração dividido. Quando isso acontece, ela prefere não sentar no banco com a equipe que treina.
“Para mim, como mãe da Duda, não posso ficar contra a minha filha por mais profissional que eu seja. Eu não tenho como dar dicas para minha dupla, Tainá e Victoria, contra Ágatha e Duda. Ela é minha filha, eu não vou ser contra a minha filha nunca. Por isso não sento no banco com elas, já deixei claro e elas entendem”, afirmou, detalhando o coração dividido.
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“Não é uma sensação boa, porque fico dividida entre a minha filha e minha dupla, mas a gente sabia que isso um dia aconteceria. É uma mistura de sentimentos, porque quando elas vão para a final todo mundo ganha de alguma maneira. Agora quando elas se enfrentam nas oitavas, nas quartas, é triste porque eu sei que uma vai ficar de fora. É estranho, mas a gente tem que aprender a conviver com isso. É o nosso esporte”, afirmou.
CT Cida Vôlei
Enquanto alterna os papéis de mãe e treinadora, Cida Lisboa toca o Centro de Treinamento Cida Vôlei há quase 20 anos. O local, além de propiciar a prática esportiva para crianças da região, segue ‘parindo’ talentos em prol do vôlei de praia brasileiro, entre eles Tainá e Duda.
“Tainá era uma menina que jogava vôlei de quadra. A tradição aqui em Sergipe é que a gente só tem vôlei até os 17 anos, que é a idade escolar. Eu via que Tainá era uma menina muito boa na quadra, mas quando ela completasse 17 anos iria parar de jogar, porque ia fazer faculdade e a gente não tem clubes de vôlei. Conversei com os pais dela e perguntei se deixariam ela treinar vôlei de praia comigo no CT para ela evoluir mais. Eles aceitaram”, disse, antes de exaltar o papel do treinador no esporte.
“No ano seguinte, depois que começou a treinar no CT, Tainá e Duda foram campeãs mundiais sub-19 jogando juntas em Portugal. Foi uma sensação muito boa saber que a gente faz a diferença na vida do atleta. O papel do técnico, do professor, é ser o diferencial, ensinar esse atleta, essa pessoa, e colocá-lo no caminho do bem”, finalizou.