Tainara Lemes Santos, de 20 anos, foi apresentada oficialmente como reforço do Osasco Audax/São Cristóvão Saúde nesta quarta-feira (5). Mesmo jovem, a jogadora chega a um dos clubes mais tradicionais do país como uma das maiores promessas do vôlei brasileiro. Com experiência na seleção brasileira de base, vestiu a camisa da equipe adulta pela primeira vez em 2019, com menos de dois anos como profissional.
O vôlei não foi a primeira modalidade de Tainara. Na verdade, quando era criança nem conhecia muito sobre o esporte. “Eu jogava futebol até que o professor de educação física da minha escola, chamado Nico, perguntou se eu não queria bater bola com eles no final de semana por eu ser alta. No começo não sabia nada de vôlei e nunca tive interesse. Eu gostava de jogar futebol”, contou em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia.
Tainara mudou de ideia em 2012, quando tinha 12 anos. Ela foi jogar com o pessoal de sua escola e lá tinha uma colega que atuava na base do GRB Barueri na época, que perguntou porque que ela não ia fazer uma peneira. Tainara decidiu ir e foi acompanhada de seus pais Fábio e Maria Tereza. “Os meus pais me levaram e eu passei, mas passei mais pelo fato de ser alta, porque não tinha contato com a bola. Foi aí que tudo começou”, lembrou.
Início como profissional
Tainara jogou pela primeira vez no vôlei profissional com a camisa do Barueri, na Superliga B, em 2017, com 17 anos. No ano anterior, atuava pelo Bradesco, time de base de Osasco, e estava lá porque a equipe de base do Barueri havia acabado em 2015.
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No entanto, a nova contratada do Osasco não completou 2016 no Bradesco e se preparava para defender o Brusque na divisão de acesso da competição nacional. Tudo mudou quando surgiu o técnico José Roberto Guimarães que, inicialmente, permitiu que a jogadora treinasse para manter a forma.
“Eu ia jogar a Superliga B em Brusque e voltaria para a base em Barueri quando a competição acabasse. Rescindi com o Bradesco e só voltaria a jogar em janeiro, então, perguntei ao Carlinhos, que era o técnico da base do Barueri, se eu não poderia treinar alguns dias da semana para ficar parada. Ele me disse que perguntaria ao Zé Roberto. Aí ele falou com o Zé e ele disse que eu poderia treinar sem problemas”, relatou.
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Primeiro treino e jogo
“No primeiro treino, no período da tarde, eu fui com meus pais e família e treinei normalmente. No final do treino, o Zé Roberto chamou meu pai para conversar e falou: ‘ela só vai para Brusque se ela quiser, pois a gente quer ficar com ela’. O meu pai não pensou duas vezes e eu também não pensei duas vezes e decidi ficar em Barueri. Fui apenas treinar para não perder ritmo e ele acabou gostando. Não tinha como negar e fiquei.”
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Tainara começou no vôlei como central e ainda atuou como oposto antes de decidir por se fixar como ponteira. Na Superliga B, por Barueri, entrava pela saída de rede. “Foram dias marcantes. Meu pai sempre brincou comigo que com 18 anos eu já estaria jogando a Superliga no adulto. Acabou sendo mais precoce do que a gente pensava. O time só tinha a Sara como oposto, por isso, atuei nessa posição e entrava nas inversões”, comentou.
Troca de posição e seleções de base
Tainara foi campeã representando o Brasil de dois Campeonatos Sul-Americanos, em 2016, com a seleção brasileira infanto-juvenil, e, em 2018, com a juvenil. Além disso, participou de três Mundiais, um pelo sub-18 e dois com o sub-20. No primeiro título continental, ganhou o prêmio de melhor jogadora da competição jogando como central. No segundo, já estava atuando como ponteira.
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“O primeiro Sul-Americano foi no meu segundo ano na seleção. Em 2016, eu já queria ter feito essa transição, não queria mais jogar de central. Mas mudei de time e como me contrataram como central eu tive que continuar. Fui para a seleção como central e acabei sendo a MVP do Sul-Americano. Em 2018 também ganhamos, mas o campeonato já foi mais pegado. Aí eu já jogava de ponteira. Foi mais desafiador para mim”, descreveu Tainara.
Experiência em Mundiais na base
Campeã do Sul-Americano de 2016 no sub-18, Tainara se credenciou ao Mundial de sua categoria no ano seguinte. A atleta não só participou da competição na categoria infanto-juvenil como também integrou o grupo que disputou o juvenil em 2017. No sub-18, ela e as colegas de seleção ficaram em 11º. Já no sub-20, o Brasil terminou na quinta colocação. Em 2019, esteve no elenco do juvenil, mas não encerrou sua história na base como gostaria.
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“Em 2017 estive em dois mundiais: o da minha categoria e da de cima. Na de cima fiquei em 5º e na minha em 11º. Eu não me preparei com a minha seleção. O Mundial da seleção mais velha foi antes e acabei treinando somente com elas. Eu só cheguei faltando três dias para a viagem para a Argentina. Em 2019, no sub-20, não tive muita experiência em quadra porque também não participei da preparação porque estava na seleção adulta”, contou o novo reforço do Osasco.
Fim de ciclo na base
Por não ter participado da preparação, Tainara foi preterida pelo técnico Hairton Cabral, que optou por deixar entre as titulares as atletas que estiveram desde o início dos trabalhos visando o Mundial. “O técnico Hairton optou por não me colocar e deixar as que estavam treinando desde a preparação. Não atuei muito e fiquei chateada porque era meu último ano de base, já que não tem mais sub-23, e queria ter encerrado de outra forma”, revelou a atleta.
Os dois lados da posição de ponteira
A mudança definitiva para a posição de ponteira aconteceu durante a Superliga B. “Eu conversei com o Zé Roberto e ele perguntou: ‘você quer mesmo ser ponteira’? Quando respondi que sim ele já disse que me ajudaria. Aí no finalzinho da Superliga B já comecei a treinar na posição. No começo foi bem difícil. É difícil até hoje, pois, como comecei de central, não tinha muito recurso e não treinei muito passe”, disse.
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“Isso me prejudicou um pouco. Por causa disso sempre tive que correr a mais e treinar e passar a mais. Acredito que me adaptei muito rápido, já que gostava muito e sempre quis jogar como ponteira e passando”, completou Tainara, que tem consciência que a recepção é o fundamento que mais precisar aprimorar. No ataque, ela não enfrentou tantos problemas na entrada de rede, porém, admite ter mais facilidade na saída.
“O ataque que mais tenho tranquilidade é na saída de rede, pois joguei por mais tempo como oposto. Na ponta a bola faz uma trajetória maior e como fui central em algumas oportunidades é difícil pegar o tempo da bola. Em algumas ocasiões eu perco o tempo por ter saído antes e a bola veio mais alta. A bola para trás (saída de rede) é muito mais rápida do que a bola para frente (entrada de rede)”, explicou a ponteira.
Inspiração
Tainara já revelou que na infância não acompanhava o vôlei. Por ter começado a jogar como central, ela teve em Thaisa sua primeira referência na modalidade. Quando começou a atuar de ponteira, passou a se inspirar em Natália e Gabi que, atualmente, jogam fora do país, sendo a primeira no Dínamo Moscou, da Rússia, e a segunda no VakifBank, da Turquia.
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“Eu comecei assistir vôlei depois e, como eu era central, a minha inspiração era a Thaisa. Ela tem uma história de superação muito grande e admito bastante. Isso foi mudando com o tempo e hoje me inspiro na Natália e na Gabi. Além de serem da minha posição, elas têm muita coisa que posso somar ao meu jogo. Eu me inspiro na habilidade, nos movimentos de ataque e, principalmente, no passe delas”, afirmou.
Momentos marcantes
E foi ao lado de Natália e Gabi que Tainara debutou na seleção adulta em 2019. A ponteira contratado pelo Osasco classifica como um dos momentos mais marcantes de sua curta trajetória. “Foi a maior experiência que tive na carreira até agora. Foi bem desafiador e fiquei muito feliz, pois não esperava tanto, já que, até então, não tinha ido como convocada. Fui mais utilizada na adulta do que na minha categoria. Foi incrível”, destacou.
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Outro momento que Tainara considera marcante foi a conquista do título do Campeonato Paulista de 2019 pelo São Paulo-Barueri. Na decisão, o time do técnico Zé Roberto superou o Osasco com vitória por 3 sets 0 no primeiro confronto como mandante e um 3 a 2 na segunda partida, em pleno ginásio José Liberatti, um dos locais mais difíceis de atuar como visitante no vôlei feminino.
“Nos dois anos anteriores a gente bateu na trave. No primeiro, ficamos em segundo no próprio Liberatti, contra Osasco, e no segundo, perdemos na semifinal para o Bauru. Nesses dois anos eu não jogava de titular. Estava no banco e participava entrando nas partidas. Poder jogar e ainda ser campeã Paulista com um time tão novo foi muito gratificante. Ali mostramos para todo mundo que a nova geração está vindo com tudo”, afirmou Tainara.
Nova geração e seleção brasileira
Tainara e outras atletas que estão surgindo terão um grande desafio pela frente. Não será nada fácil para elas substituir uma geração que conquistou o bicampeonato olímpico, nas edições de Pequim-2008 e Londres-2012. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, é bem provável que Zé Roberto ainda selecione boa parte das atletas que ganharam as duas medalhas de ouro, no entanto, de Paris-2024 em diante o bastão será passado em definitivo.
Natural de Jandira, em São Paulo, Tainara disse que está preparada para lidar com essa pressão. “Desde cedo a minha preparação é para isso. Acho que será um desafio enorme, mas, tanto eu quanto a minha família, estamos preparados. Desde sempre nós soubemos que não seria fácil. O meu pai sempre me disse: ‘é mais fácil você chegar do que se manter’. Quando eu conseguir chegar lá, vou ter que manter e melhorar, o que será a parte mais difícil”, disse.
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“Vou ter que manter o que elas fizeram e melhorar os resultados que elas tiveram. Tenho certeza que será bastante difícil, mas estou totalmente disposta a isso e quero muito. E, certamente, será um dos maiores desafios que alguém poderia ter na carreira e espero assumir isso logo mesmo sendo tão nova”, concluiu Tainara.