O técnico Renan Dal Zotto completa 60 anos neste domingo (19) e sua trajetória está marcada na história do vôlei brasileiro. Atuou como levantador no início da carreira, mas foi como ponteiro que se tornou ídolo e foi eleito o melhor jogador do mundo em 1985. Foi referência como atleta e hoje como treinador.
Para isso, no entanto, foi preciso muito trabalho e dedicação. “Quando eu comecei a jogar, em 1972, era paixão pura, imaginando o orgulho de um dia vestir a camisa da seleção brasileira. Com 16 anos, fui convocado pela primeira vez e em 1977 começou a nascer um sonho. Foi a primeira vez que tivemos um treinamento centralizado. Para o Mundial juvenil, no Rio de Janeiro, nós tivemos uma seleção quase permanente. Éramos um bando de malucos que queria jogar e colocar o Brasil entre os melhores do mundo”.
Momentos históricos
E eles conseguiram. A histórica medalha de prata, que colocou a geração de Renan ao lado de ícones como William, Montanaro, Xandó, Amauri, Bernard, entre outros, ficou conhecida como a “Geração de Prata”. Eles e a medalha são um marco até hoje e provavelmente para sempre serão. Mas Renan considera um período anterior a esse de fundamental importância para a construção desta história.
“Em 1982 acho que foi a grande virada. Muita gente acha que foi em 1984, nos Jogos de Los Angeles, com a medalha de prata, mas eu acredito que em 1982 foi a grande explosão do vôlei. Nós fomos campeões do Mundialito e vice mundiais neste ano e eu morava junto com outros atletas como Roese, Leonídio, Marcus Vinícius, e a minha cama era ao lado da janela. Acordei num domingo de manhã com barulho de bola. Até que consegui ouvir ‘atacou Montanaro, passou Renan, William levantou, ponto do Xandó, ponto do Brasil'”, relembrou Renan.
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“Eles estavam falando nosso nome, o que até então era algo inimaginável. Aqueles garotos de 16, 17 anos estavam jogando vôlei e não futebol. Aquilo foi muito marcante e o momento em que eu percebi que o vôlei veio para ficar”.
Relembre abaixo mais sobre a trajetória vitoriosa de Renan Dal Zotto no vôlei brasileiro e mundial. E quem vai contar é ele mesmo.
De fã a companheiro de seleção
“Em 1976 fui para o Sul-Americano e ali foi meu primeiro grande desafio. Em 1975, um ano antes de ser chamado, eu vi a seleção jogando e vi o Bernard atacando, o Bebeto levantando… Enfim, era uma seleção muito boa e ali eu quase desisti. Achei que nunca fosse chegar neste nível, mas um ano depois eu estava jogando ao lado deles”.
Levantador e ponteiro
“Em 1978 eu fiz meu primeiro Mundial ainda como levantador, em Roma, ficamos em quinto lugar, e em 1979 eu comecei a ser só atacante. Para mim foi muito bom ter tido esse aprendizado no início da carreira. Me tornou um atleta mais completo, mais dedicado em todos os fundamentos e sabendo valorizar a importância de cada um deles”, comentou Renan Dal Zotto.
O inventor do saque viagem
“Quando viajávamos, ficávamos meses fora. Em uma dessas viagens, aproximadamente em 1978, na China, tinha um chinês fazendo um saque lateral tirando o pé do chão. Aquilo me fez pensar. Por que não tirar os dois pés? Na Sogipa, em Porto Alegre, comecei a brincar de dar esse saque. Na final do Campeonato Gaúcho, em 1979, estávamos perdendo, perguntei ao técnico se podia dar aquele saque e acabei fazendo uns 12 pontos. Ganhamos o jogo, o campeonato e comecei a brincar na seleção também”.
“Rapidamente William e Montanaro também começaram e acho que a primeira vez que fizemos esse saque foi em 1982, no Mundial, na Argentina. Hoje percebemos que é o saque utilizado por quase todos os atletas. A única diferença é que na época nosso saque chegava a 90, 100 por hora e hoje vemos saques a 120, 130 por hora. Antes o saque era a primeira ação do jogo. Hoje pode ser considerado o primeiro ataque”, completou.
Tensão pré-Olimpíada
“Em 1984 conquistamos a prata em Los Angeles. Para mim foi muito difícil. Eu tive uma lesão grave no pé em um amistoso 15 dias antes dos Jogos Olímpicos. Fiz um tratamento intenso, recorri a tudo que foi possível. Estava praticamente fora dos Jogos, mas, como o regulamento não permitia trocas, o Bebeto perguntou se eu queria ir. Eu não tinha condição de jogo, mas quis ir e pensei em fazer de tudo para ajudar em algum momento”
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“Fiz uma cirurgia espírita, muita fisioterapia, e o fato é que eu fui para os Jogos e consegui jogar da metade para frente. Não na minha melhor condição, mas dei minha contribuição. Acabamos perdendo a grande final e a sensação na hora que acaba o jogo é de que perdemos a medalha de ouro. Mas depois vimos que ganhamos a prata, uma medalha que se tornou parte da história”.
Mais espetacular do planeta
“Totalmente recuperado, em 1985 eu vivi o meu melhor momento. Na Copa do Mundo, no Japão, fui eleito o jogador mais espetacular, o melhor atacante do mundo e foi muito legal pessoalmente. Mas, por outro lado, fiquei triste porque queria ter feito tudo aquilo um ano antes, nos Jogos Olímpicos, e não consegui. Mas faz parte da história e nós estamos falando de uma parte dela, já que o melhor ainda estava por vir, em 199, e dali em diante”.
De volta à seleção
“Não estava no meu radar estar à frente de uma seleção brasileira naquele momento. Estava como diretor de seleções e quando eu recebi o convite falei não. Na segunda, de novo. E na terceira vez acabei aceitando. Na época o que eu mais escutava era que eu ia estragar minha carreira. E eu queria cumprir um papel importante e dar sequência a tudo que vinha sendo construído. Não pensei em substituir o Bernardinho, porque ele é insubstituível. O vôlei é um projeto vencedor, campeão. Mas o maior desafio era manter o Brasil vencedor, entre os melhores do mundo. E seguimos no topo do ranking mundial, sem ter saído em nenhum ano. Somos líderes há 17 anos. Esse desafio foi cumprido”.
Preparação para Tóquio
“Conseguimos uma performance muito legal no ano passado, e isso fazia parte da preparação para os Jogos Olímpicos. Jogamos 45 partidas e vencemos 41, com aproveitamento de 92%. Só perdemos na Liga das Nações. Tudo isso fez parte do trabalho de construção, conhecimento de vários atletas que estavam chegando a seleção. Veio, então, o adiamento e nós temos que pensar da seguinte maneira: estamos vivendo um momento difícil, único, ninguém esperava por isso, mas está todo mundo no mesmo mar. Em breve estaremos todos no mesmo barco. E temos que pensar que ganhamos mais um ano de preparação. E o Brasil, quando tem tempo para se preparar, chega bem. Não é garantia de nada, porque sabemos que temos seis, sete seleções com condições de conquistar uma medalha olímpica em Tóquio. Mas nós vamos estar entre os favoritos”.