“Eu preciso retribuir um pouco”. Giovane Gávio sabe o quão importante o esporte, no caso o vôlei, foi para sua vida. Sendo assim, o bicampeão olímpico vai se dedicar à base e ao desenvolvimento das novas gerações.
Em live do Olimpíada Todo Dia, Giovane Gávio revelou seus projetos, já que o time masculino do Sesc-RJ, do qual era treinador, foi interrompido.
“Assumi o desafio de tirar o jovem de casa”, diz brincando. “Quero ensinar através do esporte, passar valores que valem para a vida inteira, ser parte do processo de desenvolvimento das crianças.”
Mini escolas
Mesmo sem dar continuação ao projeto de alto rendimento no vôlei masculino, o Sesc-RJ pretende irá ampliar o programa na base e terá Giovane Gávio como figura principal. “Assumi o compromisso de seguir no Sesc-RJ e desenvolver as novas gerações. A gente sonha com números, quem sabe mais de mil jovens praticando o vôlei no Rio de Janeiro. Esse é um objetivo até modesto, vamos ver o desdobramento dessa pandemia, é um projeto bem legal.”
Com bolas mais leves, quadras menores e redes mais baixas, Giovane acredita que irá tornar o vôlei mais acessível para as crianças. “O começo no vôlei tem que ter um carinho muito especial. A rede é alta, a bola machuca o braço. Temos que torná-lo mais legal, mais fácil, mais divertido. Não só para formar mais campeões, mas para criar uma sociedade que irá consumir o esporte.”
A preocupação em individualizar cada criança será um dos principais pontos do novo trabalho. E ao falar do projeto, os olhos de Giovane brilham com as infinitas possibilidades. “A gente precisa oferecer condições do jovem se sentir diferente, valorizado, ser parte de um movimento maior, esse é o nosso intuito. Criar um espaço para experiências inesquecíveis, porque essas experiências vão para a vida, sendo um campeão dentro ou fora da quadra. Quero criar momentos de reflexão, conversando sobre valores, respeito, amizade, olha quanta coisa bonita.”
Momento atual
Só que para criar e dar condições para os mais jovens da base, Giovane Gávio precisa estar atento à realidade. E o ex-jogador sabe e sente de perto o momento. “Temos que nos reinventar. A situação não é fácil. Os valores terão que mudar, haverá uma saída dos principais jogadores brasileiros, um movimento comum. Mas isso pode ser bom para os jovens, que terão mais espaço.”
Falta de jogos
“E o desafio é colocar os jovens para jogar, conseguir criar dificuldades e forçar os mais jovens a criar suas próprias opções dentro dos jogos. O que mais falta são jogos, a gente treina muito. Evoluímos muito nessa parte, mas falta a prática.”
Giovane sabe que o início de tudo é a base dos clubes, são eles que geram os novos talentos e fomentam as seleções. “Precisamos de mais copas estaduais. Só assim os jovens vão ganhando força, e a gente não pode parar essa máquina.”
Seleção brasileira
Apesar de não seguir mais à frente de um time profissional, Giovane Gávio segue no comando da seleção sub-21. “Infelizmente acabaram com a sub-23, que também era importante para dar rodagem. Continuo na seleção sub-21, não sabemos, por causa da pandemia, os próximos passos, mas esse ano teríamos o Sul-Americano e o Mundial no fim do ano que vem.”
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E, como não poderia ser diferente, o técnico fez alguns pitacos sobre a seleção adulta já pensando para o próximo ciclo. “A gente tem que cuidar muito do Bruninho. O levantador é uma peça chave, o Cachopa vem crescendo muito, e ele nesse processo ele será bem importante para 2024. O Thiaguinho tem muita mais experiência também. Temos o Lucarelli, que ainda tem lenha pra queimar, conseguiria chegar em 2024, passou um perídoo delicado e voltou com tudo. O Alan vem crescendo como oposto, já é uma realidade. O Douglas Souza vem ganhando consistência, ele é muito bom. Temos líbero também, Mayke, Rogerinho e Thales. Até 2024 dá para montar uma seleção competitiva, para fazer um ciclo bacana.”
Revivendo as glórias
Um bate-papo com o bicampeão olímpico não poderia deixar de fora o passado vitorioso. “Em 89, as seleções adulta e juvenil treinaram juntas em Brasília. Isso acelerou o nosso processo, com 21 anos a gente era campeão olímpico. O Zé Roberto tinha acabado de assumir, óbvio que era um ciclo olímpico para 96, mas as mudanças e o crescimento foram muito rápido.”
Mas o caminho para o ouro em Barcelona-1992 teve seus percalços. “Em 92 ficamos fora das finais da Liga Mundial, mas mesmo assim o time cresceu. Era vôlei na veia, quase oito horas de treino por dia, não tinha como não ser bom.”
E Giovane Gávio fez questão de ressaltar a mistura de gerações. “Antes da final de 92 estávamos muito elétricos. E foi bom para a gente ter alguns remanescentes. Ainda no vestiário, o Amauri acalmou as coisas, nos trouze tranquilidade. Em 2004, eu e o Maurício fizemos os mesmo. Vamos ter calma, faz parte. Essa possibilidade dos mais velhos de administrar a euforia é fundamental.”
Pavimentando o futuro
“A medalha de 92 proporcionou patrocínio, dando condições de treinamento e trabalho. Tínhamos a melhor estrutura do mundo. Saímos à frente 10 anos antes dos países, e isso foi um reflexo das conquistas lá atrás e foi determinante para transformar.”
É nessa pavimentação do futuro, do fortalecimento da base e das novas gerações que Giovane Gávio acredita e irá trabalhar daqui para frente.