“Em relação às estrangeiras, com certeza, me considero uma novata!” Vencedora até no nome, Vittoria Lopes, 23 anos, tem uma carreira relativamente curta no triatlo, mas ao mesmo tempo meteórica. Não à toa é a melhor brasileira no ranking mundial e está bem perto de se garantir em Tóquio 2020.
São apenas cinco anos dedicados totalmente ao triatlo. Vittoria veio da natação e sofreu nos primeiros anos para se habituar a nova modalidade, mas cresceu como atleta, se livrou das lesões e não olhou mais para trás.
“Minha mãe fez triatlo”, comenta. Hedla Lopes foi nadadora profissional, competiu nos Jogos Pan-Americanos no México, em 1975, e depois iniciou carreira como triatleta amadora. Hedla certamente influenciou Vittoria, que seguiu os passos da mãe, mas trilhou um caminho próprio, um caminho que a levou à ‘Disney do Triatlo’.
Celeiro de campeões
“Por influência da minha mãe, eu sempre escutei sobre Boulder, mas nunca imaginei que chegaria aqui. É mesmo uma coisa do destino.” Boulder, no Colorado, Estados Unidos, a 1,8 mil metros de altitude, é considerada a capital mundial do triatlo. “Depois que eu soube que aqui era a ‘Disney do Triatlo’ eu me empolguei mais ainda!”
Os principais nomes da modalidade treinam em Boulder. O ar rarefeito estimula a produção de hemácias. No começo não é fácil se acostumar com a altitude, e o cansaço bate. Mas a resistência vai melhorando aos poucos.
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Boulder também tem muitas estradas com asfalto bom e que podem chegar a 3 mil metros de altitude. Diversos ciclistas fazem períodos de treinos na região.
Vittoria Lopes chegou à ‘Disney do Triatlon’ através de seu treinador, Ian O’Brien, fundador da Origin Performance, equipe com sede lá. Ian é técnico da seleção americana e já foi premiado como o melhor dos Estados Unidos, em 2018.
Passo a passo
Por ter vindo da natação, Vittoria Lopes sempre se destaca nesta parte do triatlo. Não é raro vê-la saindo da água na frente ou brigando pelas primeiras colocações. Contudo, o ciclismo e a corrida pesam um pouco, mas ela está mudando este cenário.
“Eu e meu treinador focamos na melhora progressiva, mas de uma maneira muito natural, sempre respeitando meu corpo. Acreditamos na consistência do treinamento.”
Os principais nomes do no mundo começaram desde pequeno na modalidade e possuem uma certa vantagem. Mas Vittoria Lopes está correndo atrás.
“Por exemplo, na Europa, as melhores competem entre elas no circuito internacional desde criança. Elas se conhecem muito bem, conseguem competir em diversas condições, seja frio, calor, chuva. Também possuem técnica na bike, sabem como fazer um milhão de curvas. No Brasil, a nossa confederação vem fazendo um trabalho bem legal, para que possamos ter o contato com o triatlo mundial o mais cedo possível. Estamos tendo resultados bem positivos.”
As provas deste trabalho foram o desempenho no Pan-Americano de Lima e o quarto lugar conquistado por Vittoria no Evento-Teste de Tóquio 2020, no mesmo percurso que será a disputa em 2021.
Gostinho de Tóquio
“O percurso é bem legal, uma água bem quente, uma bike bem técnica e uma corrida plana.” Assim foi definido a experiência de Vittoria Lopes no evento-teste.
E para surpresa da triatleta, as condições foram favoráveis. “O engraçado é que antes o frio era o meu ponto forte. Eu achava que só me dava bem no frio. Aí veio o evento-teste, um calor, abafado e foi meu melhor resultado no triatlo mundial!”
Por mais que já esteja no mais alto nível, a brasileira ainda está se descobrindo como atleta. “Às vezes você cria muita teoria, depois é surpreendida pelo oposto. Então o negócio é estar preparada para a hora certa e estar treinada, que o resto vem.”
E já que experimentou um pouco do que será a Olimpíada de Tóquio 2020, a triatleta só aguarda os novos capítulos para retornar à Terra do Sol Nascente participando da disputa olímpica.
Quase lá
“Não sabemos os novos critérios da ITU (União Internacional de Triatlo) e da CBTRI (Confederação Brasileira de Triatlo), mas acredito que não deve mudar muita coisa. Afinal, o nosso critério é classificação através de ranking.”
Antes do adiamento de Tóquio 2020, 55 atletas se classificariam para a disputa em cada naipe. Desses, 14 viriam do ranking olímpico de revezamento. Outras seis vagas viriam do Qualificatório Olímpico de revezamento, que foi adiado.
Outras 26 vagas serão definidas de acordo com o ranking mundial e é nessa que Vittoria está bem na fita. A brasileira ocupa a 32ª posição no ranking, mas é a 9ª no ranking olímpico, descontando os outros critério de qualificação. “Estou bem no ranking. Mas se tiver que competir mais, tudo bem, estamos trabalhando para isso.”
Vale ressaltar que Luisa Baptista vem logo atrás, e também deve carimbar uma vaguinha para Tóquio 2020.
Bom senso
Depois de um 2019 bem intenso, Vittoria fechou a temporada dominando o Mundial Militar, isso em outubro. “Minha última competição foi Wuhan. Sim! Wuhan, onde tudo isso do coronavírus começou! Ainda bem que saímos de lá no tempo certo!”
Juntando as férias, mais o período de readaptação e o isolamento por causa da pandemia, ela pode ficar sem disputar nada por um enorme período. “Posso ficar até um ano sem competir, mas todos vão ficar. Não é uma situação que depende de mim. Não posso controlar isso. Até trabalhei esse assunto com a minha psicologa. Tem coisas que não temos como controlar e temos que fazer o melhor no que a gente pode controlar.”
Vittoria sabe que o momento é complicado e cheio de incertezas. “Se vai ser um ano, seis meses parada, faz parte do jogo, e eu não tenho esse controle. Aliás, prefiro nem ter esse controle para não me desesperar. Prefiro manter a mente tranquila e poder agir com o que tem.”
Isolada sim, deixar de treinar jamais
E o melhor que Vittoria pode fazer em tempos de quarentena é treinar do jeito que dá. “Estou em Boulder, no Colorado, e ultimamente venho fazendo bike indoor, cordz (cordas elásticas) para simular a natação e musculação tenho uns pesinhos. A corrida nós alternamos entre esteira e fora. Aqui podemos, desde que sozinhos, mantendo distância e usando um pano ou máscara na cara. Mas sempre acabo optando pelos treinos indoors, até por questão de segurança mesmo.”
E sobre o adiamento da Olimpíada de Tóquio 2020, a triatleta encara da mesma forma que enfrenta as provas de triatlo: com tranquilidade. “O momento é de cuidar da saúde sua e do outro. Sem contar que não estamos em condições de treinar 100%. Claro que eu gostaria de competir nos Jogos Olímpicos, é muita expectativas. Por outro lado, será mais um ano de treinamento,e mais tempo de triatlo. Afinal, vou para meu sexto ano desde que comecei a pedalar e correr pela primeira vez na vida.”