Daqui a exatamente um ano, um dia após ser celebrado o “Dia do Maratonista”, uma das provas mais tradicionais dos Jogos Olímpicos terá início. Em razão do calor de Tóquio no verão, os 42.195 km da maratona masculina ocorrerá nas ruas de Sapporo, mas não deixará de atrair os olhares do mundo para todos os seus corredores, incluindo o brasileiro Daniel Chaves.
Tentando repetir ou superar o histórico 3º lugar em Atenas-2004 de seu maior ídolo Vanderlei Cordeiro de Lima – que poderia ter sido ouro caso não houvesse sido atrapalhado pelo famoso padre irlandês -, o carioca de 31 anos que já flertou com o suicídio busca surpreender naquela que será apenas a sua terceira maratona como profissional.
Para saber como foi o ciclo olímpico de Daniel Chaves e como ela chegará no Japão para os 42.195 km, quais são as suas principais chances e quem são seus rivais, o Olimpíada Todo Dia preparou um mini guia sobre a maratona masculina em Tóquio-2020. Confira!
Frustrações Olímpicas e quase suicídio
A história de Daniel Chaves na maratona nem sempre foi de glórias. Em entrevista ao Olimpíada Todo Dia, o atleta relembrou suas decepções ao não conseguir se classificar para nenhuma edição de Jogos Olímpicos.
“2008, na China, eu era muito novo, tinha 19 para 20, era muito precoce. Londres-2012 eu já estava pronto, tinha esperanças, mas na última prova eu me lesionei. Não consegui, estourei as duas panturrilhas de tanto treinar, meu corpo não estava preparado. E na Rio 2016, fiquei a 18 segundos de me classificar nos 10 mil metros.”
Com seguidas frustrações, Daniel Chaves chegou ao fundo do poço. Sem patrocínio, já que todos acabavam após a Rio-2016, Daniel se fechou em casa, para as pessoas ao seu redor, parou de correr e se afundou na depressão.
“Tive uma sucessão de erros pessoais, não aguentava tanta decepção. Em maio de 2017, fiquei perto de encerrar minha carreira. A cabeça deu uma pifada, comecei a engordar, todo dia sem correr e minha depressão aumentava. Eu não queria ver ninguém. Não queria decepcionar ninguém,” contou.
“Eu comecei a usar drogas pra limpar e esquecer de tudo, mas isso me deixou mais pra baixo ainda. Foi o pior caminho, eu tentei o suicídio, cheguei a subir numa ponte para me jogar,” completou Daniel Chaves
Volta por cima na Espanha e índice em uma Major
O final doa ano de 2018 foi marcante para “virar a chave” de Daniel. Ao participar da Maratona de Valência, na Espanha, terminou em 18º e se reencontrou no atletismo.
Sua segunda prova como profissional foi em uma das seis principais maratonas do mundo, conhecidas pelos corredores como “Majors”.
Em abril do ano passado, na Maratona de Londres, Daniel Chaves correu o percurso de 42.195 quilômetros em 2h11min10s, vinte segundos abaixo do índice da Federação Internacional de Atletismo (2h11min30s), chegou em 15º lugar na prova e conquistou o índice olímpico.
Quem chegará forte?
Três vezes medalhista em Olimpíadas, atual campeão olímpico, mundial e recordista mundial (2h01min39s), Eliud Kipchoge parece estar um nível acima de qualquer ser humano. O queniano venceu as quatro majors que disputou no ciclo, deixando os segundos colocados muito atrás diversas vezes.
Mais do que isso, entrou para a história em outubro do ano passado ao se tornar o primeiro ser humano a correr 42.195 km abaixo da marca de duas horas, algo que ninguém jamais pensou que seria possível ocorrer um dia. (Vale lembrar que a prova era um desafio não oficial, e que portanto a marca de 1h59min40 não foi homologada como recorde mundial). Quem vê Kipchoge em ação tem a impressão de que é fácil correr uma maratona.
Prata e bronze em aberto
Um pouco abaixo de Kipchoge, outros atletas devem brigar por medalhas e, quem sabe, surpreender o grande favorito ao bicampeonato olímpico. Um deles é o etíope Kenenisa Bekele, um dos maiores fundistas de todos os tempos.
Campeão olímpico e recordista mundial dos 5.000 e 10.000 metros, o corredor da Etiópia decidiu se arriscar nos 42.195 km e fez história. No ciclo, venceu quatro grandes majors, incluindo a Maratona de Berlim no ano passado, quando fez o tempo de 2h01min41s e ficou a apenas dois segundos do recorde mundial de Kipchoge.
Diversos outros nomes aparecem como grandes candidatos ao pódio. Compatriotas de Kipchoge, Lawrence Cherono e Amos Kipruto são dois bons nomes. A equipe da Etiópia ainda não está definida, mas qualquer corredor do país africano aparecerá bem.
Não são somente os africanos que devem disputar as medalhas. Atual bicampeão olímpico dos 5.000 e 10.000 metros, o britânico Mo Farah vem se aventurando nas principais maratonas do planeta desde 2018. Com alguns títulos e outras boas colocações, deve figurar no pelotão da frente, se optar por correr a prova. Galen Raupp, dos Estados Unidos, medalhista de bronze na Rio-2016, também pode surpreender nos próximos Jogos Olímpicos.
Prova Imprevisível
De todas as provas olímpicas, a maratona é uma das mais difíceis de se prever. É uma das únicas em que o campeonato mundial não é parâmetro para saber quem chegará com força aos Jogos Olímpicos. Isso ocorre porque a premiação oferecida pelas seis Majors é bem mais interessante para os principais corredores do mundo.
Diversos fatores contribuem para a imprevisibilidade da maratona, inclusive o climático. Se as condições foram extremas no dia, os grandes favoritos podem ficar para trás e os outros, surpreender. Na Maratona de Boston de 2018, por exemplo, a chuva e o frio fizeram com que Yuki Kawauchi, japonês de 31 anos e atleta amador, batesse os grandes favoritos e vencesse a prova mais antiga e tradicional do planeta.
Graças ao coronavírus, cinco das seis majors de 2020 foram canceladas. Não se sabe como os grandes atletas chegarão daqui um ano nas ruas de Sapporo. Quem sabe o surpreendente Daniel Chaves não surpreenda novamente nos Jogos Olímpicos e consiga uma medalha em sua terceira maratona como profissional?