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Tóquio 2020

Na Croácia, com técnico croata, Brasil tentará ir ao Japão

Há um ano do início do basquete nos Jogos, seleção masculina comandada por Aleksander Petrovic terá difícil missão em Split, mas já provou que nada é impossível

Aleksandar Petrovic técnico da seleção brasileira de basquete masculino mundial guy peixoto cbb
Croata Aleksander Petrovic terá em seu país natal a difícil missão de levar o Brasil ao Japão(Crédito: Fiba)

Após décadas de gestões contestadas que levaram o tradicional e consagrado basquete do Brasil há dificuldades, os últimos anos foram para arrumar a casa e trazer novos ares para a seleção masculina de basquete.

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Apesar de não estar garantido em Tóquio, o Brasil tem ainda uma chance de disputar a Olimpíada através do torneio pré-olímpico, em junho do ano que vem. Se a vaga vier, a estreia na Olimpíada ocorrerá daqui a exatamente um ano. O caminho até lá, no entanto, será longo. Como chegará a seleção para tentar carimbar o passaporte ao Japão? Quem são os adversários? Uma vez nos Jogos Olímpicos, quais são as chances do Brasil de buscar uma medalha? E quem são os principais adversários?

Para responder essas e outras perguntas, o Olimpíada Todo Dia preparou um mini-guia da caminhada do Brasil a Tóquio e dos possíveis adversários. Confira!

Sai o argentino, entra o croata

A eliminação da seleção masculina de basquete foi dura de se assistir há quatro anos. O Brasil ficou muito, mas muito perto de se classificar para as quartas de finais dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Em um grupo duríssimo, acabou caindo na última rodada diante da rival Argentina, na prorrogação.

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Logo após a eliminação na primeira fase da Rio-2016, a CBB decidiu por trocar o homem que comandou a seleção brasileira por seis anos. O argentino Rubén Magnano, campeão olímpico com a Argentina nos Jogos de Atenas-2004, foi um dos principais responsáveis pela recuperação do prestígio do consagrado basquete nacional e levou o país de volta aos Jogos Olímpicos de Londres-2012 após um hiato de 16 anos.

Para o seu lugar, a CBB contratou mais um estrangeiro. O Aleksandar Petrovic, ex-treinador da seleção do seu país na Rio-2016. O croata chegou às terras tupiniquins com o objetivo de levar o Brasil aos Jogos Olímpicos de Tóquio.

A um ano da possível estreia da seleção masculina de basquete em Tóquio-2020, o OTD mostra o que será preciso para obter a vaga nos Jogos e fazer história Petrovic
Aleksandar Petrovic foi o escolhido para levar o Brasil aos Jogos Olímpicos de Tóquio (Divulgação/FIBA)

Chocando o mundo

Diferentemente do que ocorre no vôlei, o basquete possui poucas competições mundiais durante o ciclo olímpico. Por esse motivo, o primeiro grande desafio de Petrovic com a seleção brasileira de basquete veio no Campeonato Mundial de 2019, disputado na China, em setembro. Com um sorteio pra lá de desfavorável, o Brasil teria de enfrentar três grandes adversários: Nova Zelândia, Montenegro e Grécia, com a última sendo a grande favorita pela força que tem no cenário europeu e pela presença do astro da NBA Giannis Antetokounmpo.

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Calando muitos críticos que diziam que a queda precoce seria inevitável, o Brasil teve aproveitamento de 100% na primeira fase. Primeiro, venceu um duro jogo contra a Nova Zelândia. Na sequência, chocou o mundo ao bater a poderosa Grécia de Antetokounmpo em um jogo pra lá de eletrizante (confira os melhores momentos no vídeo abaixo). Embalada, a seleção masculina de basquete emendou o 3º triunfo contra Montenegro e foi a fase seguinte de maneira invicta.

Na sequência, bastava que Brasil vencesse o bom time da República Tcheca para conseguir uma improvável classificação para as quartas de final. Em um jogo ruim, a seleção foi derrotada e se complicou, uma vez que teria de enfrentar na sequência os Estados Unidos, recheados de jogadores da NBA, ainda que não fossem as grandes estrelas da liga. Mesmo jogando bem contra um forte adversário, o Brasil acabou caindo e foi eliminado.

A 13ª colocação no Mundial foi elogiada pelo trabalho apresentado em quatro dos cinco jogos. Se o sorteio tivesse colaborado um pouco mais – como correu com a Argentina, por exemplo -, o Brasil provavelmente teria terminado entre os 8 melhores se jogasse da mesma maneira que jogou e conseguiria uma vaga direta aos Jogos Olímpicos de Tóquio.

A um ano da possível estreia da seleção masculina de handebol em Tóquio-2020, o OTD mostra o que será preciso para obter a vaga nos Jogos e fazer história
Anderson Varejão girando para cima de Giannis Antetokounmpo na vitória da seleção masculina de basquete diante da Grécia em 2019 (divulgação FIBA)

Decisão na Croácia

A colocação final no campeonato deu ao Brasil a chance de disputar um dos torneios pré-olímpicos mundiais. A seleção masculina de basquete masculino está garantida no torneio de Split, na Croácia, marcado para ocorrer entre 22 de junho a 4 de julho de 2021.

O Brasil está no grupo B da mini-chave, ao lado da Tunísia e dos anfitriões croatas. No outro grupo da mini-chave estão Alemanha, México e Rússia. Os dois melhores de cada mini-chave avançam para as semifinais, sendo que apenas o campeão conquista uma vaga na Olimpíada de Tóquio-2020.

Petrovic convoca Brasil para duelos contra o Uruguai
Petrovic orientando a seleção brasileira de basquete (Foto: Divulgação/FIBA)

Teoria versus Prática

Mesmo estando melhor no ranking da FIBA (Federação Internacional de Basquete) do que todos os adversários, na teoria, o caminho do Brasil é bem complicado.

Um triunfo como visitante contra a tradicional Croácia diante de uma torcida extremamente fanática parece complicada. Uma vitória diante da Tunísia, inferior no papel, colocaria o Brasil no caminho de Rússia ou da Alemanha na semifinal, com um possível reencontro com os donos da casa em uma hipotética decisão valendo a vaga em Tóquio.

Rumo a Tóquio 2020: Dos adversários do pré-olímpico, Brasil está melhor ranqueado do que Rússia, Croácia e Alemanha (reprodução/FIBA)

A improvável vitória contra a Grécia no Mundial, entretanto, mostra que a prática é bem diferente da teoria. Petrovic terá de calar os críticos novamente, tal qual fez na China em 2019. A postura e a filosofia do treinador dão indícios de que isso pode acontecer.

“Não é tão importante olhar quem vamos enfrentar, mas sim focar na nossa equipe. É um torneio muito curto, de uma preparação muito curta e não podemos nos equivocar na forma de jogar. O Brasil tem a chance de ganhar esse torneio em Split”, disse o treinador, em entrevista coletiva após o sorteio.

Vale lembrar que antes do jogo contra a Grécia, o croata disse que tinha a fórmula para parar Giannis Antetoukounmpo. O grego saiu com cinco faltas e apenas 13 pontos da partida. Não é demais pontuar que Petrovic estará jogando o pré-olímpico em seu país, diante de sua ex-equipe, algo que pode favorecer a seleção masculina de basquete.

Petrovic como técnico da Croácia em 2016 (divulgação)

Pontos positivos

Não é só a presença de Petrovic que traz razões para o torcedor acreditar na classificação aos Jogos Olímpicos. De nada adiantaria ter um técnico renomado se os jogadores não se adaptassem aos seus conceitos e ideias.

Uma dos principais pontos do trabalho de Petrovic que foi absorvido pelo elenco que atuou no Mundial foi a calma, tanto no ataque quanto na defesa, principalmente nos momentos decisivos. Por diversas vezes no passado, o Brasil se precipitava no ataque, cometia faltas bobas na defesa e desperdiçava lances livres em horas pra lá de chave. No jogo contra a Grécia, por sinal, a seleção chegou a estar 17 pontos atrás no placar e conseguiu a virada.

A nova geração se adaptou a nova filosofia do treinador. Jogadores que não participaram muito da “Era Magnano” como Cristiano Felício e Bruno Caboclo deram conta do recado e tiveram boas partidas. Caboclo, inclusive, cresceu muito defensivamente sobre o comando do croata. Rafa Luz, que substituiu o lesionado Raulzinho no Mundial, foi muito bem durante todo o torneio. Mais jovens dentre todos, Didi Louzada, apesar de alguns momentos de instabilidade, também foi bem.

O adiamento da Olimpíada para 2021 deve ser benéfico para todos esses jogadores e pode dar mais experiência a atletas que se destacaram no NBB, como o Georginho, ganhador de cinco prêmios dos melhores da temporada – incluindo o de MVP – e Dikembe, eleito o melhor jogador jovem.

Veteranos em boa forma e elenco forte

Petrovic também fez um ótimo trabalho com os veteranos de seleção brasileira de basquete. Anderson Varejão, Marcelinho Huertas e Alex fizeram grandes partidas no Mundial da China, com a mesma vontade de quem veste a camisa da seleção pela primeira vez.

O Brasil também possui ótimas opções para vir do banco. Vitor Benite e Augusto Lima, por exemplo, vem de grande temporada na Espanha e Leandrinho foi o cestinha do NBB. Marquinhos também pode ser opção nos arremessos de fora. Nenê Hilário não esteve no Mundial em 2019, mas se jogar o pré-olímpico, reforça e muito o time comandado por Petrovic com toda sua experiência na NBA.

Seleção masculina de basquete: elenco forte rumo a Tóquio

Os possíveis adversários no Japão

Em caso de classificação para Tóquio-2020, o Brasil enfrentará outras 11 seleções. Até o momento, oito países estão classificados: Japão (país sede), Espanha, Argentina, França, Austrália, Estados Unidos, Nigéria e Irã (todos classificados através do Mundial de 2019).

Cartas Marcadas?

O basquete masculino pode ser uma modalidade de cartas marcadas em Tóquio, assim como ocorrerá no feminino. Tudo dependerá da convocação dos Estados Unidos para os Jogos Olímpicos.

Se os americanos forem ao Japão com força máxima como vem fazendo desde o fiasco de Atenas-2004 – quando ficaram em terceiro e voltaram para casa sem o ouro olímpico apenas pela 3ª vez na história -, fica praticamente impossível vencê-los.

Porém, não foi o que aconteceu no Mundial de 2019. Os americanos foram com bons jogadores como Kemba Walker e Donavan Mitchell, mas não contaram com Steph Curry, Lebron James, James Harden, Russell Westbrook, Kevin Durant, Paul George, dentre muitos outros super-astros da NBA. Como resultado, uma derrota para a França nas quartas de final e um amargo sétimo lugar.

Com os 12 melhores americanos da NBA no elenco, comprometidos tal qual o Dream Team de 1992, o time só não leva o tetracampeonato olímpico e o 16º título em 19 possíveis se uma catástrofe ocorrer no Japão.

A um ano da possível estreia da seleção masculina de basquete em Tóquio-2020, o OTD mostra o que será preciso para obter a vaga nos Jogos e fazer história
astro da NBA, Lebron James não participou nem da Rio-2016 nem do Mundial 2019. Sua pida ao Japão ao lado de outros astros credencia EUA como favoritos (Instagram/usabasketball)

Atuais donos do Mundo

Se os Estados Unidos repetirem o erro de não levar as estrelas ao Mundial, a Espanha vira uma das grandes favoritas ao ouro. Atual campeã mundial e vice-olímpica, a seleção espanhola se consolidou nas últimas décadas como uma das – se não a – principais forças do basquete do velho continente. Para se ter uma ideia, das últimas seis edições do Campeonato Europeu, os espanhóis foram ao pódio em todas, com direito a três títulos conquistados.

Com uma das Ligas mais disputadas da Europa e requisitada por muitos jogadores de alto nível, o elenco da Espanha é sempre repleto de craques. Ricky Rubio, Rudy Fernandez, Marc Gasol, Sergio Llull e outros devem ser figuras garantidas no elenco espanhol. Na Rio-2016, os espanhóis começaram mal – perdendo inclusive para o Brasil -, quase ficaram de fora, mas se recuperam e garantiram a medalha de prata.

Espanha campeã mundial em 2019 (Instagram/baloncestoesp)

Times encardidos que brigarão por medalhas

A Espanha pode ser forte, mas não é imbatível. Austrália e França, por exemplo, batem de frente com o país da Península Ibérica.

Jogadores de destaque na NBA, Joe Ingles, Matt Dellavedova. Andrew Bogut, Patrick Mills, Dante Exum e Aron Baynes formam há anos uma equipe muito entrosada que faz da Austrália grande candidata a uma medalha olímpica em Tóquio. No Mundial de 2019, por exemplo, os jogadores da terra do canguru foram derrotados pela Espanha na semifinal do mundial no detalhe, em um jogo eletrizante que só terminou após duas prorrogações.

Patty Mills (San Antonio Spurs) e Matthew Dellavedova (Cleveland Cavaliers): destaques na NBA e na seleção da Austrália

O fato de ser da Oceania e não disputar um torneio continental competitivo como o europeu de dois em dois anos prejudica a Austrália. A experiência coletiva e a calma em momentos decisivos que custou a vaga na final do Mundial – e também nas quartas da Rio-2016 – aos australianos sobra à França.

Cascuda e muito forte na defesa, a seleção francesa eliminou os Estados Unidos do Mundial em 2019, venceu a Austrália na disputa do bronze e foi responsável por calar os espanhóis no Ginásio de los Desportes de Madrid, no Mundial de 2014, realizado na Espanha. Com Rudy Gobert como grande astro e outros excelentes jogadores como Clint Capela, Frank Ntilikina, Nicolas Batum e Evan Fournier e Nando de Colo.

Astro francês, Rudy Gobert é peça-chave do sistema defensivo francês (instagram/ffbb_officiel)

Sempre eles

A freguesia que a Argentina tem com o Brasil no futebol mundial é inversamente proporcional no basquete masculino. Por diversas vezes, os hermanos foram a pedra no nosso sapato, incluindo nas duas últimas edições olímpicas.

A geração de ouro de Manu Ginobili, Luis Scola, Andres Nocioni e cia, que conquistou um histórico título olímpico em Atenas-2004, já está praticamente toda aposentada. Em 2019, apenas o eterno carrasco do Brasil Scola esteve no elenco que conquistou a medalha de prata.

A renovação argentina no entanto, foi muito bem feita, diferentemente do que ocorreu por aqui. Jogadores como Gabriel Deck, Nicolas Brussino e Patricio Garino tem tudo para fazer uma grande Olimpíada. Por outro lado, Scola foi o grande destaque da heroica prata em 2019 e provavelmente não estará no elenco que irá a Tóquio.

Carrasca do Brasil, Argentina foi prata no mundial 2019 (Instagram/cabboficial)

Vem mais por aí

Últimos três garantidos em Tóquio, Japão, Irã e Nigéria estão em um nível abaixo dos demais, com os africanos levando um pouco de vantagem. No entanto, não devem ter chances de medalha com a definição dos últimos cinco integrantes dos Jogos Olímpicos.

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