A seleção feminina de handebol tem um currículo invejável. Nove vezes campeã sul-americana, hexa campeã dos Jogos Pan-Americanos e detentora do difícil título mundial. A “geração de ouro” de Duda Amorim, Alexandra Nascimento, Babi Arenhart, Ana Paula Belo, Mayssa Pessoa, Deonise Fachinello e inúmeras outras, ajudou a elevar o papel do Brasil de coadjuvante para protagonista no cenário mundial. Falta a essa vitoriosa geração, entretanto, um único grande feito: a conquista da medalha nos Jogos Olímpicos.
+ Se classificado, o que esperar do handebol masculino em Tóquio?
Exatamente daqui há um ano, as guerreiras do handebol brasileiro estrearão nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Muitas delas se despedirão das Olimpíadas após o término da competição e gostariam de fechar suas carreiras com chave de ouro, prata ou bronze.
A missão, no entanto, não será fácil. Como chegará a seleção no Japão? Quem serão as principais jogadoras? Quem são os principais adversários? Para responder essas e outras perguntas, o Olimpíada Todo Dia preparou um mini-guia do handebol feminino em Tóquio. Confira!
Duro golpe no Rio
Das derrotas brasileiras nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro há quatro anos, uma das mais dolorosas foi a da seleção feminina de handebol para a Holanda nas quartas de final. Na ocasião, o Brasil chegou bastante prestigiado após o título mundial de 2013, conquistado na Sérvia.
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Jogando em casa com imenso apoio da torcida, a seleção fez bonito na primeira fase. O time venceu quatro das cinco forte adversárias – incluindo a Noruega, até então campeã olímpica e mundial – se classificou em primeiro do grupo, mas deu o azar de enfrentar uma equipe holandesa em ascensão (é atualmente a campeã mundial) e de não conseguir encaixar o jogo, sendo novamente eliminado nas quartas.
O quinto lugar dentre os 12 participantes na Rio-2016 foi o melhor da história até hoje, mas ficou o gosto amargo de não poder chegar às semis e buscar uma medalha.
Fim da “Era Soubak“, início da “Era Dueñas”
A derrota para a Holanda marcou o fim do trabalho do dinamarquês Morten Soubak no comando da seleção feminina de handebol. O técnico foi o grande mentor das brasileiras rumo ao heroico título mundial da Sérvia. O grande trabalho que realizou, entretanto, não foi tão bem aproveitado, muito em função da má administração do handebol brasileiro que já dura anos.
O Ciclo Olímpico
Os problemas extra-quadra prejudicaram a seleção feminina durante todo o ciclo olímpico. A CBHb (Confederação Brasileira de Handebol), por exemplo, demorou mais de seis meses após a demissão de Soubak para contratar um novo treinador.
Em junho de 2017, quase um ano após o fim da Rio-2016 e há apenas seis meses antes do Mundial da Alemanha, Jorge Dueñas foi escolhido como o novo treinador. O espanhol seria o responsável por conduzir uma mescla da nova geração com as remanescentes do título mundial da Sérvia e da derrota na Olimpíada do Rio.
Resultados ruins
Os resultados nos campeonatos mundiais não foram nada bons. Em 2017, na Alemanha, o Brasil terminou a fase de grupo fora dos quatro primeiros, não avançando às oitavas-de-final, algo que não ocorria desde 2009. O país terminou o torneio em 17º lugar, pior posição desde 2003, quando foi 20º.
Era esperado que os dois anos de experiência das jovens jogadoras e a maior familiaridade com o estilo de jogo de Dueñas levasse a melhores resultados no Mundial do Japão, mas não foi o que ocorreu. Em outra campanha decepcionante, o Brasil terminou mais uma vez na quinta colocação do grupo, não se classificou a próxima fase e fechou outra vez em 17º, atrás inclusive da Argentina, freguesa histórica na América do Sul.
Luz no fim do túnel
Em meio a batalhas judiciais e o retorno polêmico presidente da CBHb, Manoel Oliveira, o Brasil chegaria aos Jogos Olímpicos de Tóquio de maneira bem diferente da qual desembarcou em Londres-2012 ou Rio-2016. O adiamento dos Jogos Olímpicos para 2021, entretanto, pode ser bastante benéfico ao elenco brasileiro.
Esse ano a mais de preparação será valioso para os jovens talentos da nova geração. Bruna de Paula, por exemplo, foi eleita a melhor jogadora da temporada 2019/20 na Liga Francesa, uma das principais do mundo. As promissoras goleiras Gabi Moreschi e Renata Arruda também vem apresentando grande evolução e podem se beneficiar com o adiamento.
Mais um ano enfrentando grandes adversárias na Europa pode ajudar quatro jogadoras na casa dos 26 anos que vem se afirmando cada vez mais no cenário mundial: Larissa Araújo, Tamires Morena, Paty Marieli e Samara Vieira.
Campeãs do mundo
Essas jogadoras citadas anteriormente terão de elevar seus jogos para dividir o protagonismo com as campeãs mundiais Ana Paula, Babi, Deonise, Samira, dentre outras. Todas seguem jogando em alto nível, mas não aguentam mais o ritmo alucinante do handebol moderno como há 10 anos.
Uma jogadora que aparentemente já tinha se despedido da seleção também pode voltar e contribuir muito é Alexandra Nascimento. Eleita melhor jogadora do mundo em 2012, a ponta se transferiu para a França para jogar na equipe de Deonise, com quem pode adquirir um entrosamento essencial para o sucesso do jogo do Brasil no lado direito.
Grande destaque
Uma das melhores jogadoras da história do handebol europeu, Duda Amorim fará em Tóquio sua última participação olímpica. A melhor defensora da Champions League – principal torneio de clubes do mundo – de 2019 continua em ótima forma e deve comandar a seleção na busca da medalha.
Medalha olímpica é “mais fácil” que a do mundial
Vale lembrar que diferentemente do Mundial, o torneio de handebol nos Jogos Olímpicos é mais curto. As 12 equipes são divididas em dois grupos de seis, com as quatro primeiras avançando à segunda fase. Nela, as seleções cruzam com o outro grupo nas quartas de final e o vencedor já entra automaticamente na briga por medalhas.
As adversárias em 2020
O handebol feminino é um dos esportes mais disputados de todos. Se em 2016 a Noruega chegou com um leve favoritismo, em um degrau acima dos demais adversários e não conseguiu o tricampeonato olímpico, a edição desse ano está ainda mais em aberto, algo que beneficia o Brasil.
Até o momento, seis países estão classificados. O Japão (país sede), a França (campeã europeia em 2018), o Brasil (campeão pan-americano em 2019), a Coreia do Sul (classificada no torneio asiático de 2019), Angola (classificada pelo torneio africano em 2019) e a Holanda (campeã mundial em 2019).
Mesmo se os Jogos de Tóquio tivessem somente esses seis países, seria difícil prever as medalhas. Holanda e França seriam favoritas, com o Brasil e a Coreia do Sul brigando por fora. Acontece que ainda ocorrerão três torneios pré-olímpicos mundiais que darão vaga a mais seis times. Muito provavelmente todos serão da Europa. Devem ir aos Jogos Olímpicos Espanha, Suécia, Rússia, Noruega, Sérvia/Hungria e Romênia/Montenegro.
Geração vitoriosa
A Holanda chega em um momento melhor que as demais. A geração que surpreendeu o mundo no Campeonato Mundial de 2015 com o vice-campeonato está mais madura e jogando o fino da bola. Não à toa, foi amadurecendo e subindo de lugar no pódio.
Na Rio-2016, ficou em quarto lugar. Um ano depois, foi bronze no Campeonato Mundial. Em 2018, novamente o terceiro lugar no campeonato europeu. Em 2019, finalmente o lugar mais alto do pódio: ouro no campeonato mundial, com autoridade.
Com jogadoras muito habilidosas como Lois Abbingh, Estavana Polman e Tess Wester, e grande elenco de apoio, tem tudo para brigar por mais uma medalha.
Campeãs do mundo e da Europa
A França segue com um time muito forte, mas um pouco abaixo do que apresentou no início do ciclo olímpico. A atual vice-campeã olímpica teve grande performance em 2017 e 2018, conquistando respectivamente o título mundial e europeu. Em 2019, entretanto, a equipe caiu ainda na fase de grupos. Possui um elenco com grandes atletas, como as goleiras Catherine Gabriel e Amandine Leynaud e as goleadoras Siramba Dembelé, Allison Pineau e Alexandra Lacrebere. Devem dar trabalho em Tóquio.
A Coreia do Sul não é a grande potência que foi nos anos 1980 e 1990, mas segue forte e incomodando as principais potências europeias. No campeonato mundial do Japão de 2019, surpreendeu a todos na fase do grupo: venceu três partidas e empatou outras duas, avançando a segunda rodada em primeiro e eliminando a atual campeã França.
Japão e Angola estão em um degrau abaixo dos demais, mas podem dar trabalho e tirar pontos dos favoritos na fase de grupos. Angola já fez isso na Rio-2016. À época, todos achavam que o país africano seria o saco de pancadas do grupo. No entanto, a equipe bateu as tradicionais Romênia e Montenegro e se classificou para as quartas de final.
O Japão conseguiu avançar na fase de grupos em 2017 e 2019, eliminando inclusive o Brasil três anos atrás.
O retrospecto nos Jogos
O Brasil chega a sua sexta participação em Jogos Olímpicos no handebol feminino. A estreia ocorreu 20 anos atrás, em Sydney-2000. Desde então, o país evoluiu progressivamente. Na Austrália, o Brasil só conseguiu ganhar das anfitriãs, se classificando em quarto e perdendo nas quartas de final para a forte Coreia do Sul. O Brasil não conseguia fazer frente as potências europeias + Coreia do Sul e perdia sempre por larga diferença de gols.
Quatro anos mais tarde, em Atenas-2004, o Brasil mostrou evolução. Com as experientes Aline e Chicória aliadas a novas jogadoras como Alexandra, o time passou a fazer jogos mais equilibrados com as principais potências. As brasileiras ficaram na sétima colocação.
Em Pequim-2008, Duda Amorim e Ana Paula eram as grandes novidades. O já experiente time do Brasil fez duros jogos, mas em um dificílimo grupo, agora com seis integrantes ao invés de cinco, não conseguiu avançar. Foi a pior posição desde a estreia: nono lugar.
Mudando de patamar
Em Londres-2012, o Brasil chocou a todos. Venceu quatro dos cinco jogos que teve na fase de grupos e se classificou em primeiro do grupo. Há quem diga que a atual campeã Noruega perdeu o último jogo propositalmente para enfrentar o Brasil. Com sangue nos olhos, Ana Paula, Duda, Alexandra e cia viraram o primeiro tempo liderando por 13 a 9. A Noruega mostrou porque era a maior potência do esporte à época e venceu o segundo tempo por 12 a 6, eliminando o Brasil. O quinto lugar obtido foi a melhor colocação até então.
Na Rio-2016, como dito, o Brasil repetiu o quinto lugar, mas ficou com o gostinho de quero mais. A torcida é para que as surpreendentes derrotas nas quartas-de-final de 2012 e 2016 se transformem em uma surpreendente vitória no Japão em 2021, levando a seleção feminina de handebol a uma inédita luta por medalhas.