Nesta semana em que comemoramos o Dia Olímpico, 23 de junho, data de aniversário de fundação do Comitê Olímpico Internacional, ressalto a importância dos Valores Olímpicos: – Amizade, Respeito e Excelência. São eles que norteiam nossa carreira e fazem de nós multiplicadores do Olimpismo.
A pandemia do novo coronavírus paralisou o mundo, imobilizou o esporte olímpico e levou atletas de alto rendimento a conviver com as incertezas da retomada, o cancelamento dos treinamentos e a perda do condicionamento físico. Vivenciamos o adiamento do maior evento esportivo do planeta.
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Mas gostaria de reforçar que o caminho do pódio nunca foi uma trajetória fácil para nenhum atleta, em tempo algum. Para chegar ao topo de nossas modalidades, temos inúmeros obstáculos a vencer. E essa fórmula de vitória só é alcançada através da superação.
Equilíbrio, determinação e dedicação são qualidades fundamentais para superar as adversidades deste ciclo olímpico. As barreiras sempre vão existir, fazem parte do esporte, da nossa história e temos que encará-las como nosso maior adversário. O bem-estar físico e mental de nossos atletas é a maior preocupação nesse momento.
Falo por experiência própria. Tive um ciclo olímpico desafiador antes de conquistar o ouro no judô em Barcelona 1992. Fiquei longe das competições por dois anos e meio por ter participado, com outros atletas da seleção brasileira, de um movimento que buscava melhorias na estrutura de treinamento e maior presença em competições internacionais. Foi um período muito duro. Deixei de fazer o que mais amava. Naquele momento pensávamos nos benefícios coletivos para toda a comunidade esportiva. Ali, foi o pontapé inicial para a transformação do judô brasileiro.
O momento era muito difícil. Vivenciei a perda do meu irmão Ricardo, atleta olímpico nos Jogos Olímpicos Seul 1988. Ricardo sempre foi meu ídolo, minha referência. Em 1992, após retornar aos treinamentos e competições internacionais, participei da primeira seletiva da categoria para escolha da equipe que iria aos Jogos de Barcelona.
Não tínhamos patrocínio individual. Treinávamos em tatame de palha, com lona por cima. As viagens ao exterior eram raras e não tínhamos profissionais multidisciplinares à nossa disposição. Cheguei a Barcelona 1992 para competir com um quimono emprestado. Na minha bagagem, apenas determinação, aprendizado e muita garra. Lutei com cinco grandes oponentes até o último instante.
Aquela vitória foi a maior conquista da minha vida. E junto dela também vieram marcos importantes. A medalha foi o único ouro individual do Brasil em Barcelona e fui eleito pela Federação Internacional de Judô o melhor judoca do mundo de todas as categorias.
Como evoluímos! Hoje os atletas da seleção brasileira treinam no equipamento esportivo que vão usar nos campeonatos internacionais, participam de inúmeros torneios e treinamentos no exterior. O COB, em parceria com as Confederações, promove toda a infraestrutura necessária à evolução dos atletas, algo que era impossível sonhar há 28 anos. Na minha época não havia o Programa de Carreira do Atleta, como hoje o COB oferece aos atletas através do Instituto Olímpico Brasileiro.
A resiliência e a superação foram o passaporte para minha trajetória. O esporte sempre foi minha motivação e quero continuar lutando por melhorias com a mesma determinação da época dos tatames. É isso que norteia minha existência e o que tenho feito depois que encerrei minha carreira como competidor.
Mesmo antes de assumir a Diretoria-Geral do COB, a convite do presidente Paulo Wanderley – presente em toda minha trajetória como treinador da seleção brasileira de judô, da base até a seleção adulta, passando pelos Jogos Olímpicos de Barcelona –, tenho ajudado na busca da transformação do esporte e na sua sustentabilidade.
Não existe atalho para a excelência. Esta busca é feita de resiliência, comprometimento, determinação e superação. Neste momento difícil que estamos passando, tais valores são ainda mais importantes.