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Tóquio 2020

À beira do suicídio, Daniel Chaves foi resgatado pela corrida

Depressão e drogas quase levaram Daniel Chaves ao suicídio. Mas ele foi resgatado, voltou ao esporte e vai aos Jogos

Daniel Chaves Maratona de Valência 42.195 metros Jogos Olímpicos
(Instagram/Danichavesrun)

“É bom saber que estou no caminho certo, porque já estive no errado.” Daniel Chaves, da maratona, viajou e conquistou o mundo através do atletismo, mas também chegou ao fundo do poço, pensando em suicídio, por causa dele.

De peito aberto, sorriso escancarado e livre de ressentimentos, o maratonista contou em live do Olimpíada Todo Dia que chegou perto do suicídio – “cheguei a subir na ponte algumas vezes” – mas que foi resgatado e salvou-se do fim trágico.

Hoje recuperado de depressão, Daniel Chaves está classificado para a maratona de Tóquio 2020 e não hesita em contar sua história. “Precisei passar por tudo isso para dar valor ao meu dom.”

O início

“Comecei correndo aos 12 anos de idade, por influência da São Silvestre. Minha mãe não tinha condições de pagar o transporte em Petrópolis, então eu ia e voltava correndo da escola.”

Maluco por esportes, como ele próprio se define, Daniel Chaves acelerava ainda mais na volta da escola. “Eu só tinha 15 a 20 minutos para chegar em casa para assistir o Globo Esporte. Subia correndo para casa, ligava a televisão e sentava para assistir. Assisto e gosto de tudo, principalmente os olímpicos.”

À beira do suicídio, Daniel Chaves foi resgatado pela maratona e vai a Tóquio-2020
Daniel Chavez em uma das suas primeiras provas de rua (Instagram/Danichavesrun)

Da corrida como meio para ir e vir da escola para o atletismo, Daniel Chaves contou, como em tantas histórias, com a figura de uma pessoa que o iniciou no esporte. “Uma assistente social do bairro anunciou que teria uma prova em Petrópolis, ‘vamos lá correr’. Eu fui, fui mal, mas aquilo me chamou a atenção e me interessei.”

Só que Daniel Chaves não começou na maratona. O atleta passou a treinar na equipe Pé-de-Vento, sediada em Petrópolis, e ganhou o mundo correndo cinco mil e 10 mil metros.

“Fiquei quase dois anos treinando e morando na Holanda com Eliud Kipchoge.” O queniano é campeão olímpico na maratona e mundial nos cinco mil metros, enquanto Daniel Chaves ainda não conseguiu participar de nenhuma Olimpíada.

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“2008, na China, eu era muito novo, tinha 19 para 20, era muito precoce. Londres 2012 eu já estava pronto, tinha esperanças, mas na última prova eu me lesionei. Não consegui, estourei as duas panturrilhas de tanto treinar, meu corpo não estava preparado. E na Rio 2016, fiquei a 18 segundos de me classificar nos 10 mil metros.”

A queda

Com seguidas frustrações, Daniel Chaves chegou ao fundo do poço. “Para a Rio-2016, eu montei uma base de treinamento em Petrópolis para receber amigos que estavam classificados. Acompanhei o treinamento e fui levá-los até a porta da Vila Olímpica, mas não pude entrar. Eu retornando e indo embora para casa, nossa, foi um dia que eu balancei”.

Sem patrocínio, já que todos acabavam após a Rio-2016, Daniel se fechou em casa, se fechou para as pessoas ao seu redor, parou de correr e se afundou na depressão.

“Tive uma sucessão de erros pessoais, não aguentava tanta decepção. Em maio de 2017, fiquei perto de encerrar minha carreira. A cabeça deu uma pifada, comecei a engordar, todo dia sem correr e minha depressão aumentava. Eu não queria ver ninguém. Não queria decepcionar ninguém.”

De promessa do atletismo brasileiro para um fim melancólico e trágico. “Eu comecei a usar drogas pra limpar e esquecer de tudo, mas isso me deixou mais pra baixo ainda. Foi o pior caminho, eu tentei o suicídio, cheguei a subir numa ponte para me jogar.”

O retorno

Um passo atrás na ponte representou vários passos para frente na retomada da carreira. De novo, assim como no começo da carreira, uma pessoa indicou o caminho certo.”Meu amigo Vinícius Alves Canhedo me levou a buscar ajuda. Recebi o diagnóstico de que convivia com uma síndrome bipolar depressiva. Minha psiquiatra recomendou que eu corresse 30 minutos por três dias da semana”.

À beira do suicídio, Daniel Chaves foi resgatado pela maratona e vai a Tóquio-2020
Daniel Chaves correndo em sua cidade natal, Petrópolis-RJ (Instagram/Danichavesrun)

Mas não era o suficiente. O maratonista precisava curar seu espírito. “Mesmo voltando a correr, eu não me sentia curado. Larguei tudo em Brasília, dei meu móveis para moradores de rua e fui para um mosteiro no sul de Minas Gerais. Lá eles têm uma cultura de subsistência e de meditação.” O suicídio estava superado.

Cuidando da alma, Daniel não deixou de cuidar do corpo. “Saí de lá com uma nova visão. Fiquei quase dois meses lá e treinei muito. É um sobe e desce danado naquela região.”

No fim de 2018, Daniel participou da sua primeira maratona como profissional, em Valencia, na Espanha, e se redescobriu no atletismo. Em sua segunda maratona, a de Londres 2019, veio o índice para Tóquio 2020.

Agora, apesar da pausa causada pela quarentena, ele não quer mais parar. A Olimpíada mudou para o ano que vem, mas continua perto. O sonho, que quase o levou ao suicídio, é o que agora o faz pulsar de esperança no caminho de uma vida melhor. Que venha Tóquio em 2021!

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