Isolada do tênis muito antes da pandemia, Bia Haddad Maia segue sem poder jogar. Foram 10 meses de suspensão pelo doping que terminou bem com o esporte paralisado pelo novo coronavírus. “Eu me sinto uma pessoa normal agora.” Liberada para jogar, mas presa na quarentena. Não tem faltado emoções para a tenista, nem vontade de retornar e sorriso no rosto.
“Independentemente das coisas estarem fechadas, já é um alívio saber que eu posso ir para o clube e treinar”, explicou.
Bia Haddad, 24 anos, foi suspensa por doping em 22 de julho de 2019. Seu exame realizado durante o WTA de Bol, na Croácia, entre os dias 3 e 9 de junho de 2019, deu positivo para duas substâncias proibidas pela WADA (Agência Mundial Antidoping).
A tenista provou a contaminação no seu exame e recebeu uma suspensão de 10 meses, que acabou no dia 22 de maio. Só que o isolamento segue. “Lembro que no último quarto da pena, eu já tinha a notícia que poderia voltar às quadras, mas veio a pandemia.”
Em breve, Bia Haddad Maia vai completar um ano longe das quadras, um ano de emoções fortes, mas de cuidados com o corpo e a mente.
A notícia
“Foi um soco no estômago”. Desespero, angústia e desorientação. “Eu estava em família e recebi o e-mail da ITF (Federação Internacional de Tênis). Comecei a ler, foi bem difícil de entender, acreditar e aceitar. Foram muitos pensamentos ruins, sem fazer ideia do que tinha acontecido. Fui para o banheiro chorar. Não consegui ler tudo.”
Bia Haddad estava retomando o ritmo após uma cirurgia, quando foi isolada do tênis por causa do doping. “Pelos jogos que vinha fazendo, eu estava muito confiante. Fazendo semi e finais de torneio importantes. O ano poderia ter sido muito melhor”, lamenta a tenista. “Minha reação foi chorar mesmo e ligar para as pessoas que poderiam me ajudar no primeiro momento.”
No momento da suspensão, Bia Haddad ocupava o posto de número 99 do ranking mundial da WTA. Afastada, ela caiu e é, atualmente, a 286º do mundo.
Só que como o tênis “é difícil, em uma semana você poder ter um grande resultado e subir no ranking, mas você também pode fazer uma semana ruim e cair”, Bia Haddad procurou isolar essas inúmeras possibilidades e resolveu focar no real, no concreto.
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“Às vezes, por não conseguir bater bola, a gente fica meio desesperada, de não estar treinando. Mas o tênis em si, o tempo de bola, isso está na gente, isso a gente não perde. Eu mantive meu físico, meu corpo, mesmo bem longe das quadras. Acho que o físico é o principal e tênis é uma maratona.”
Angústia e alívio
“Eu fiquei que nem o pessoal está nessa pandemia, sem saber o que iria acontecer. Mas quando recebi o dia que poderia voltar a jogar, eu comemorei muito.” Passado o pesadelo do doping, Bia Haddad pôde respirar aliviada.
“Foram muitos meses. Eu não podia fazer o que queria, não podia ganhar dinheiro com o tênis. Sem salário, sem patrocínio, foi muito duro, preocupante. Mas o alívio veio, por mais que eu ainda não pudesse jogar por causa da pandemia, foi um dia especial, um grande passo.”
Só que a pandemia segue sem dar chances para Bia Haddad retomar sua carreira. O doping saiu de seus ombros, só que a situação global é calamitosa.
Livre, mas esperando
Mais leve, porém ainda sem pode jogar, a tenista diz não saber quanto irá retornar às quadras. “Sendo bem otimista e sincera, eu acho que se voltar, não será antes de setembro, outubro. Mas acho bem difícil, pelos bastidores dos atletas, está bem complicado.”
Grande parte da receita dos torneios de tênis vem do público pagante. E mesmo as ligas e modalidades esportivas que já voltaram, estão sem a presença de público. “O tênis, sem o público, perde em torno de 80% da renda, então isso tem que ser levado em conta. Sem falar que é um esporte global. A retomada será bem complicada.”
Mas se tem alguma tenista com vontade de voltar e experimentar essa tal liberdade é Bia Haddad. “Até retomar o ritmo de jogo vai levar um tempo. Mas a grande maioria dos tenistas estarão assim, então eu não saio tão atrás. E vai rolar zebra e surpresas na volta.”
Simples e duplas
Com fome de jogar, a tenista disse que seguirá se dividindo, jogando o máximo de torneio que o calendário permitir. “Eu nunca deixei de jogar duplas. Sempre achei que a dupla fosse tão boa quanto a simples. Não acho que a simples esteja acima da dupla por causa de premiação e por ser individual, eu respeito a dupla e gosto muito, acho que ela me ajuda muito a jogar a simples.”
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Com a ascensão de Luisa Stefani nas duplas, o tênis feminino brasileiro cercou-se de expectativas com a parceria. Bia Haddad não esconde a empolgação. “Tenho certeza que eu e a Lu ainda vamos jogar muito juntas ainda. A gente tem um bom entrosamento, tenho certeza que podemos fazer muito estrago, somos muito novas ainda. Então acredito muito nessa dupla.”
Com 24 anos, Bia Haddad ainda tem muito pela frente no tênis e espera já ter passado pelo momento mais duro de sua carreira.