O ano de 2021 será especial para o surfe. Daqui exatamente um ano, a modalidade vai estrear no programa olímpico em Tóquio-2020, com o intuito de tentar rejuvenescer a programação do maior evento esportivo do mundo. E além dos fãs, quem ganhou com isso foi o Brasil, que está na elite do surfe mundial há alguns anos e vai com 100% das vagas disponíveis para os Jogos. No masculino, os representantes serão Ítalo Ferreira e Gabriel Medina, enquanto no feminino, serão Tati Weston-Webb e Silvana Lima.
A disputa vai ser boa e as chances brasileiras de medalha são melhores ainda. Por isso, o Olimpíada Todo Dia preparou um guia com tudo sobre o surfe brasileiro em Tóquio-2020. Confira!
O caminho até a vaga
Tatiana Weston-Webb
Com uma vitória nas oitavas de final da Etapa de Peniche do Circuito Mundial, em outubro do ano passado, Tati Weston-Webb foi a primeira brasileira a garantir a classificação para Tóquio-2020. “Eu fiquei sem palavras (quando conseguiu a vaga). Quase chorei, porque é uma coisa que eu sempre sonhei”, relembrou Tati em contato com o Olimpíada Todo Dia.
A gaúcha, filha da brasileira Tanira Guimarães e do inglês Doug Weston-Webb, foi criada no Havaí desde os dois anos de idade, mas decidiu defender o Brasil a partir de 2018. A decisão lhe valeu alcançar seu maior sonho na carreira até hoje, que é ser justamente uma atleta olímpica.
“Me sinto brasileira. Nasci aqui, minha mãe é brasileira, meu noivo é brasileiro, minha equipe é do Brasil. Sou muito grata por ter nascido em Porto Alegre. Tive de optar e foi muito fácil escolher o Brasil. Foi a melhor escolha da minha vida, porque eu realmente amo o Brasil. É uma honra”, disse Tati Weston-Webb.
Assim, o Brasil acabou ganhando uma representante de peso, que promete ir forte para Tóquio-2020 enfrentar as principais adversárias, entre elas a líder do ranking, Carissa Moore, Sally Fitzgibbons e, claro, Silvana Lima.
“Eu comecei a pensar em Jogos Olímpicos quando anunciaram que o surfe ia estar na Olimpíada, que para mim sempre foi uma coisa fora do normal. Isso me mudou bastante ao pensar que seria uma realidade para mim e um sonho que eu poderia conquistar. Então eu quero muito ganhar uma medalha de ouro”.
Silvana Lima
A segunda vaga brasileira do surfe em Tóquio-2020 foi confirmada apenas na última etapa do circuito, em Maui, no Havaí, quando Silvana Lima conquistou a classificação após a neozelandesa Page Hareb ser eliminada. Assim, a cearense conquistou o oitavo e último posto em disputa pelo Circuito Mundial.
“É um sonho que está sendo realizado. Nunca imaginaria que um dia eu iria representar meu país, que eu poderia estar em uma Olimpíada competindo. Só imaginava que poderia estar lá assistindo. Vai ser muito especial, uma honra estar lá. Espero que tudo dê certo, e eu consiga trazer uma medalha para o Brasil”, comemorou Silvana à época da classificação.
Silvana estreou no CT em 2008 e já conquistou dois vice-campeonatos em duas etapas do circuito. No ano seguinte, vieram os primeiros títulos e em 2010 fechou a temporada na quarta colocação. Depois alguns anos complicados, Silvana foi dando a volta por cima e fechou 2019 na 12 colocação do ranking mundial. Fato é que ninguém pode duvidar de que ela vai com tudo para Tóquio-2020. E uma medalha olímpico seria um passo importante para o surfe feminino brasileiro, que ainda está atrás do masculino.
Ítalo Ferreira e Gabriel Medina
A chamada Brazilian Storm vem com tudo para a Olimpíada. Ítalo Ferreira, atual campeão mundial, e Gabriel Medina, bicampeão do circuito, serão os representantes do Brasil no surfe em Tóquio-2020. A classificação deles veio apenas na última etapa do CT, na tradicional prova em Pipeline. E não faltou emoção.
Após a oitava etapa, vencida por Gabriel Medina, ele e Filipe Toledo lideravam a competição com mais de 10 mil pontos de diferença para Ítalo, e tinham larga vantagem para garantir presença nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Ítalo Ferreira, no entanto, não desistiu. Terminou a etapa da França em segundo e foi campeão em Portugal, chegando em Pipeline com chances de título e classificação olímpica. E conseguiu. Após Filipe Toledo cair nas primeiras fases, Ítalo garantiu presença nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 e ainda faturou o inédito título mundial, vencendo na final justamente Medina, que também conquistou a classificação para a Olimpíada.
“Eu não era o favorito para ganhar esse título. Cheguei na Europa meio apagado, como muitos sites disseram e soltaram vídeos, eu vi, até joguei meu celular na parede na hora, mas isso me deu mais gana ainda. Na França, fiz final, perdi do Jeremy. O campeonato era dele, tem vez que é assim mesmo. Mas alí comecei a me recuperar”, pontuou Ítalo em coletiva de imprensa em São Paulo após o título.
Formato da competição
A competição do surfe em Tóquio-2020 contará com 20 homens e 20 mulheres, sendo que cada país pode inscrever no máximo dois competidores por gênero. A disputa será na praia de Tsurigasaki, em Chiba, a 64 km de Tóquio, entre os dias 26 a 29 de julho. Mas como a modalidade depende de condições climáticas favoráveis, não é certo que a final olímpica acontecerá na data programada. O torneio terá, portanto, todo o período da Olimpíada para realizar as baterias.
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O formato adotado em Tóquio será o tradicional. Eles serão divididos em cinco baterias de quatro competidores, com os melhores avançando para a próxima fase. A partir das quartas de final, cada bateria será disputada por dois atletas, como melhor seguindo em frente, rumo à medalha.
Como chegam os brasileiros
Feminino
O feminino larga atrás do masculino na briga por uma medalha no surfe em Tóquio-2020, mas ainda assim tem boas chances de subir ao pódio. Silvana Lima garantiu a última vaga entre as mulheres pelo ranking e chega com a experiência de 12 anos no tour, além do vice-campeonato do ISA Games de 2019.
Tati Weston-Webb, por sua vez, tem ficado entre as cinco melhores do ranking constantemente. Nos cinco anos em que ela está na elite do surfe mundial, sempre foi top 10. Sa melhor marca foi a quarta colocação do ranking, em 2016 e 2018, e terminou 2019 na sexta posição.
Masculino
As chances de medalha no masculino, no entanto, são altíssimas. Um lugar no pódio seria a coroação do crescimento estrondoso da modalidade no Brasil nos últimos anos, desde que Gabriel Medina se tornou o primeiro brasileiro a ser campeão mundial do CT em 2014.
De lá para cá, as cores verde e amarela passaram a dominar o circuito mundial, mostrando que chegaram para ficar, com quatro títulos mundiais em seis anos. “Eu acho que [a medalha olímpica] seria a cereja do bolo. Iria coroar o bom momento que o surfe do Brasil vive. Eu espero que consiga sair de Tóquio com a medalha de ouro”, disse Ítalo em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia.
Considerado o grande nome do surfe atualmente, Medina chega como o único bicampeão da modalidade no Brasil e com fome por mais um título inédito, além de dar a volta por cima após o vice em 2019.
Já Ítalo Ferreira chega à Olimpíada com o status de atual campeão mundial e um dos favoritos ao ouro após vencer o ISA Games, torneio disputado no ano passado, também no Japão, com ondas parecidas às que serão encontradas na disputa olímpica. Esta, inclusive, contará com os principais nomes da modalidade, como Jordy Smith, John John Florence, Jeremy Flores e, claro, Kelly Slater.