Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. Cerimônia da medalha do rúgbi feminino. O Brasil terminou a competição em nono lugar e já tinha participado da celebração, mas a festa não tinha acabado. Marjorie Enya, que estava no comitê organizador, entro no campo e pediu Isadora Cerullo em casamento. A atleta da seleção brasileira ficou sem entender por alguns segundos, mas respondeu. “Eu estava pronta pra dar a resposta, tinha toda certeza no mundo do que eu queria”.
Mas e depois da euforia, do “sim”, beijos, aplausos, fotos e ao fim de tudo que foi a Olimpíada, o que aconteceu? Quase quatro anos depois do pedido, Marjorie Enya e Isadora Cerullo estão juntas e casadas.
A cerimônia aconteceu em Raleigh, na Carolina do Norte nos Estados Unidos, em 7 de julho de 2017. Mesmo atuando pela seleção brasileira, Isadora Cerullo nasceu em Nova Jersey e, como os pais ainda moram no país, a cerimônia aconteceu lá.
Atualmente, Marjorie e Isadora vivem juntas em São Paulo. Em cerca de três anos juntas, contando somente o casamento, o casal não esconde a alegria que é estar junto. “Não sabia que existiam tantas maneiras de ser feliz. Ter passado este último ciclo juntas (mais quatro anos) me fez refletir quanto crescemos juntas neste tempo”, comenta a atleta da seleção brasileira.
‘Pra gente bastava estarmos juntas’
Nascida e criada nos Estados Unidos, Isadora Cerullo escolheu o Brasil em 2014. Com pouco tempo para se colocar a disposição da seleção brasileira de rúgby, tudo acabou sendo uma correria. Porém, desde os primeiros dias que estava vivendo a escolha, o amor esteve presente.
“Nós nos conhecemos em 2014, quando eu vim pro Brasil fazer um teste para integrar a seleção brasileira. Na época, a Marjorie era manager do Brasil e foi assim que nos conhecemos. A primeira vez que nos vimos foi quando eu tinha que buscar algumas coisas no escritório da confederação e fazer uma reunião com o treinador. Ela me perguntou se eu preferia que ela falasse em inglês ou português, e eu disse, no meu orgulho por querer ser reconhecida como brasileira, que português seria bom. Ela falou tão rápido, mais rápido do que eu sabia que era possível, e eu tentei fingir plenitude e compreensão”.
Desde o começo do relacionamento, Isadora Cerullo e Marjorie Enya estão juntas há praticamente seis anos. Apesar de contarem o período entre namoro, noivado e casamento, o fato é que a relação não teve tantos rótulos assim.
Relação antiga
“A história é um pouco engraçada. Já estávamos passando mais tempos juntas, saindo em “dates”, mas nunca rolou um famigerado pedido de namoro. A Marjorie vai dizer que ela foi enrolada, mas em minha defesa, tem essa diferença cultural entre o Brasil e os Estados Unidos. Estamos juntas há quase 6 anos”.
Da mesma forma como o namoro simplesmente “aconteceu”, a vida de Isadora e Marjorie mudou pouco no intervalo entre o pedido de casamento na Olimpíada até o dia 7 de julho de 2017. Claro, as duas queriam oficializar a união, mas, para ambas, o que de fato mais importava já existia.
“(O casamento) foi super pequeno, só meus pais e irmãos e a mãe dela, onde meus pais moram nos EUA. Fomos pro cartório e depois saímos pra jantar. Meu pai insistiu em contratar um fotógrafo e a Marjorie insistiu pra gente comprar um bolo enorme. A minha comprou um vestido (porque até então nossa ideia era ir com a roupa que estivéssemos usando no dia), acho que foi um evento em que as nossas famílias estavam muito mais ansiosas que nós em ter esses signos tradicionais de casamento. Pra gente bastava estarmos juntas”.
O sarrafo está alto
“Dentro dos círculos no rugby, brincam que agora a barra tá super alta”, comenta Isadora aos risos. A jogadora da seleção brasileira se refere a forma que foi pedida em casamento.
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Tudo que envolveu o pedido de Marjorie Enya para Isadora Cerullo foi pouco usual. Usar a cerimônia de encerramento da modalidade que as uniu para selar um compromisso de vida não é algo que se vê com frequência. Contudo, além do que foi noticiado e falado, o que aconteceu com o casal no Rio de Janeiro teve um outro marco.
“O sonho olímpico me trouxe pro Brasil e foi assim que conheci a Marjorie. Então era um momento em que nós duas estávamos realizando este sonho, eu como atleta e ela como gerente da no maior evento esportivo do mundo. O lema dos jogos era também essa ideia de “Um Novo Mundo”, então sempre refletimos muito sobre que mundo novo era esse que gostaríamos de ajudar a criar”, comentou Isadora.
Perguntada sobre como surgiu a ideia para o pedido inusitado, Marjorie Enya falou o que a levou a fazer tudo daquela forma.
“A ideia do pedido de casamento na verdade surgiu em conversas com meus colegas de equipe no Comitê Organizador Rio 2016; eu mencionei que estava pensando em pedir a Isadora em casamento e todos ficaram muito animados com a ideia. Quis compartilhar esse momento com eles, que estavam ajudando a construir o nosso sonho olímpico (em esferas diferentes), e com as colegas de time dela, sem as quais eu nunca teria tido todas as oportunidades que o esporte me deu.
‘Ser quem a gente é’
Desde o momento da chegada de Isadora Cerullo ao Brasil até o fim deste texto, as coisas só aconteceram na vida do casal por conta do rúgby. Foi por causa dele que as duas se conheceram, se entenderam, o namoro aconteceu, o sonho olímpico e o casamento.
“Muito da nossa identidade se formou no e pelo esporte, então acho justo dizer que o esporte nos ajudou a construir um espaço pra gente ser quem a gente é, e sem essa autenticidade essa relação não teria sido nem feliz, nem possível”, comentou Isadora
Faltando menos de um mês para completarem as bodas de trigo, Isadora e Marjorie seguem aprendendo e tomando gosto por cada detalhe que a vida de casal apresenta. Passando a quarentena juntas na capital paulista, Izzy e Marj, como se chamam, não escondem o que mais admiram em cada uma.
“Ela me traz tranquilidade e clareza em qualquer momento do dia, me passa segurança pra enfrentar o desconhecido. O que mais gosto na Marjorie é sua autenticidade e sensibilidade. Ela também é a mulher mais inteligente e determinada que já conheci”.
“A Izzy é a minha maior parceira, minha certeza. Tudo nessa vida pode ser incerto, inconstante, mas ela é a pessoa da minha vida, essa certeza eu tenho. O que eu mais gosto nela é a sua fibra moral, sua integridade. As vezes penso como eu consegui ter tanta sorte”.
Com sorte ou sem sorte, é possível dizer que na história de Isadora Cerullo e Marjorie Enya o maior vencedor foi o amor, que segue marcando os tries.