As paratletas brasileiras Jane Karla e Lethícia Lacerda convivem hoje com uma expectativa diferente. Paratletas do tiro com arco e tênis de mesa, respectivamente, a dupla está muito próxima de ter uma experiência especial e única: disputar os Jogos de Tóquio juntas, como mãe e filha.
Esse desejo familiar começou a ganhar forma no começo desse mês, quando Lethícia Lacerda foi surpreendida com uma mensagem de seu treinador informando sobre as mudanças nas regras do ITTF (Federação Internacional de Tênis de Mesa) que confirmou a sua vaga para os Jogos Paralímpicos, adiados para 2021.
“Meu técnico mandou mensagem para a minha mãe com a confirmação e foi muito engraçado porque fiquei meio sem reação na hora. Acho que a ficha ainda não tinha caído. Mas aí no outro dia, quando eu acordei que eu comecei a entender o que tudo aquilo significava”, relembrou a mesa tenista, bronze nos Jogos Parapan-americanos de Lima, em live feita neste domingo (21) ao lado da mãe para o Olimpíada Todo Dia.
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Apesar do evento ser uma novidade para a jovem de 17 anos, disputar uma Paralímpiada não vai ser uma coisa nova para a família. Isso porque a mãe de Lethícia Lacerda, Jane Karla, já participou de três edições da competição sendo duas disputando o tênis de mesa (Pequim 2008 e Londres 2012) e uma com o tiro com arco (Rio 2016), sua atual modalidade.
Ao lado da filha durante a transmissão, Jane relembrou o momento conturbado em que precisou fazer a corajosa escolha de mudar de esporte já com aos 40 anos e com uma trajetória consolidada no tênis de mesa, com duas medalhas de ouro em Jogos Paralímpicos.
“Em certo momento eu precisei fazer uma escolha entre família e esporte. Por ter vivido um período muito difícil (lutou contra um câncer de mama e a sua mãe faleceu), eu não poderia deixar os meus familiares que tanto me ajudaram pra trás e me mudar. Então precisei trocar de esporte para que pudesse permanecer em Goiânia, e encontrei o tiro com arco”, relembra Jane, que teve poliomielite na infância.
A arriscada decisão tem se mostrado certeira. Isso porque, além de uma campanha no Mundial e três quebras do recorde mundial paralímpico na modalidade, Jane Karla garantiu a vaga nos Jogos Paralímpicos do ano que vem por conta da sexta colocação no Mundial realizado na Holanda no ano passado. A expectativa agora é de que o Comitê confirme que a vaga conquistada pela arqueira seja dada para ela mesma para que possa carimbar o seu passaporte para o Japão.
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Mesmo tendo escolhido permanecer em Goiânia num primeiro momento, algum tempo depois a família não só decidiu deixar a cidade como também o país e ir morar em Portugal, onde já vivem há dois anos. Se num primeiro momento a mudança aconteceu por contas de problemas vividos no Brasil, hoje Jane e Lethícia já sabem bem o tanto que a transição de país contribuiu em vários sentidos.
“A gente vive num lugar mais seguro, estamos mais próximas das competições, que na grande maioria acontece por aqui na Europa. Temos melhores condições de treino, principalmente no caso da Lethícia. Então por mais que a gente ame muito o Brasil, morar aqui nesse momento faz mais sentido pra gente”, avaliou Jane Karla.