“Deus me fez perfeita. Ele já tinha um plano pra mim”. É assim que Edwarda Dias, a Duda, começa a entrevista para falar da sua carreira. A atleta é um dos nomes frequentes nas convocações da seleção brasileira de vôlei sentado nos últimos cinco anos e já conquistou duas medalhas de pratas em Parapan-Americanos, 2015 e 2019, e um bronze Paralímpico, em 2016.
Duda nasceu sem uma parte da perna direita e por isso encontrou no vôlei sentado uma forma de praticar esportes e se divertir. “Comecei no vôlei sentado com nove anos e ele me deu tudo. Amo jogar e sempre vou levar o esporte comigo”.
Depois de representar o país em vários campeonatos ao redor do mundo e colecionar medalhas para o Brasil, Edwarda Dias decidiu mudar. No começou de 2019, Duda passou a também jogar o parabadminton.
A história de Edwarda com a nova modalidade começou há pouco mais de um ano. Na época, tinha começado a namorar Rogério Junior, que é atleta do parabadminton, e passou a ver o esporte de uma maneira diferente.
Os dois amores começaram no Sesi-SP. Duda é do time de vôlei sentado do clube e Rogério do de Parabadminton. Entre os treinos, fizeram amizade, começaram a conversar e, quando viram, já estavam juntos. No relacionamento, Edwarda tentava ajudar como podia, e o que era para ser uma brincadeira virou uma opção de vida.
“Toda vez que eu estava na casa dele sempre brincava. Depois de um tempo, eu vi que poderia levar jeito e fui tentando, o pessoal do Sesi me chamou para treinar e me apoiam nos treinos das duas modalidades”, disse Duda.
Como nasceu sem parte da perna direita, a atleta se enquadrou na classe SL4, para pessoas com deficiência nos membros inferiores que andam e, apesar do pouco tempo competindo no parabadminton, já lidera o ranking nacional.
“Apesar do curto período e de pecar em algumas partes técnicas específicas, eu estou me saindo bem. Consigo usar algumas coisas do vôlei, principalmente minha parte física e tenho conseguido bons resultados. Conquistei dois ouros e uma prata nas etapas do circuito nacional em que participei”, comenta.
Com o amor no parabadminton e atleta em dois lugares
Assim como Duda, Rogério Junior compete pela SL4. Com isso, quando estão no mesmo torneio, o casal tem a chance de jogar junto na chave de duplas mistas, o que já ocorreu algumas vezes.
“Depois que comecei a pensar em ir praticar o parabadminton, jogar com ele sempre esteve em mente. Acredito que, por sermos namorados, temos uma conexão e um entendimento maior e mais fácil do que as outras duplas. Mas as broncas durante as partidas também acontecem e, por termos mais intimidade, elas são mais diretas”, continua Duda.
Atleta das duas
Com todo o sucesso dentro das quadras de parabadminton e depois de já ter conquistado quase tudo que é possível com a Seleção Brasileira de vôlei sentado, é de se imaginar que Duda já sacramentou a troca de modalidade e que pensa em se manter somente em uma delas. Errado.
“Me considero atleta das duas. Treino nas duas, me dedico e me esforço para que consiga ser o melhor que eu posso nelas. O Sesi me dá total apoio para ambas e penso em seguir competindo e tendo resultados no vôlei sentado e no badminton para que possa representar o Brasil nas paralimpíadas nelas”.
Apesar das diferenças de cada uma das modalidades, Edwarda consegue ver coisas muito parecidas e, com isso, leva alguma vantagem contra algumas adversárias que enfrenta em seus jogos.
“Tirando a parte técnica que é específica de cada uma delas, que no vôlei eu tenho muito mais facilidade, eu só vejo pontos positivos por enquanto. Tenho me preparado fisicamente para estar bem nas duas, o que faz eu ganhar uma vantagem física, de agilidade e resistência, quando estou treinando ou competindo em cada uma delas”
Uma escolha a ser feita
Nem tudo são pontos e conquistas na carreira de Duda. Apesar do desejo declarado de defender o Brasil nos Jogos Paralímpicos no vôlei sentado e no parabadminton, isso não será possível. Desde Atlanta 1996, o IPC, International Paralympic Committee, proibiu que um mesmo atleta dispute a mesma edição de uma Paralimpíada por duas modalidades.
Em 2016, no Rio de Janeiro, Matheus Evangelista, teve de escolher entre o futebol de sete e o atletismo. Acabou medalhista de prata no salto em distância.