Que sofrer uma derrota é difícil, todo mundo sabe e ninguém duvida. Mas como se recuperar da perda e seguir em frente? Afinal de contas, estamos falando de sonhos. Na semana passada, Talisca Reis, do taekwondo, e Giullia Penalber, do wrestling, passaram por isso na pele, depois de não conseguirem vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
É de se imaginar o tamanho do baque que um revés pode causa em um torneio classificatório para a maior competição do mundo. Aquela que os atletas se preparam por quatro anos, ou melhor, por quase uma vida, para participar.
“Eu esperei tanto para chegar até ali, disputar uma vaga olímpica, que sempre foi meu maior sonho… Eu não estava acreditando! Fiquei destruída e chorei muito”, contou Talisca Reis em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia.
“Me chamaram para fazer a disputa do bronze, mas o que eu mais queria naquele momento era ir embora de lá, ir para o hotel… Eu não queria lutar mais! Mas tive que fazer sem vontade nenhuma e ainda lutei chorando”, completou.
O mesmo aconteceu com Giullia Penalber, mas com uma diferença. Talisca já não tem mais como ir a Tóquio, enquanto a atleta do wrestling ainda terá a Seletiva Mundial (adiada pelo coronavírus e ainda sem data prevista) para tentar a vaga nas Olimpíadas.
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“Eu sabia que a Seletiva Pan-Americana seria bem difícil, porque na minha categoria não tinha ninguém classificado. Eu caí em um grupo muito complicado, mesmo sendo cabeça de chave, com a atual campeã dos Jogos Pan-Americanos, a atual campeã olímpica e a atual campeã mundial. E o resultado acabou não sendo do jeito que eu gostaria. Na hora dá uma certa tristeza, bate uma decepção, porque a gente tem uma expectativa de chegar lá, classificar… A gente trabalha muito duro para alcançar os nossos objetivos. Mas ao mesmo tempo, eu já tenho que estar pensando na próxima competição”, explicou Penalber, atual número 5 do mundo em sua categoria.
“Faz parte do esporte”
Além das frustrações recentes, Talisca e Penalber têm mais uma coisa em comum. Ambas concordam que apesar de ser um momento difícil, derrota faz parte do esporte.
“Com o tempo, a gente entende que isso faz parte. A gente não pode se abater por uma derrota, até porque para ser derrotado, a gente tem que estar lá. A gente vive de esporte e entende que nem sempre as coisas acontecem da maneira que a gente imagina. Mas para chegar lá, não tem escolha, tem que seguir em frente, apesar das adversidades”, pontuou Penalber.
“Às vezes ele é cruel, mas seguimos sempre em frente, ganhando ou perdendo”, completou Talisca.
Redes sociais e namoro
Em tempos de era digital, os atletas enfrentam um outro adversário: as redes sociais. Eles estão mais expostos do que nunca aos comentários dos torcedores, que muitas vezes vem carregados de críticas, quando não de palavrões. Esse é mais um fator que pode mexer com o psicológico do atleta, especialmente após uma derrota.
É o que conta Talisca, que após não conseguir a vaga no Pré-Olímpico de taekwondo, respondeu comentários de torcedores em seu perfil no Twitter.
“Nós atletas estamos expostos a todo tipo de crítica e respeito a opinião de todos, mas a partir do momento que uma pessoa faz um comentário chamando o atleta de fracassado e outros tipos de comentários desnecessários, eu não gosto. As críticas construtivas sempre são bem vindas para mim. Agora ter pessoas falando coisas que não sabem do esporte, que não tem nada a ver, isso me deixa brava. Falaram que fui um fracasso, que nem era para eu ter ido (ao Pré-Olímpico), mas ninguém sabe da minha luta diária para me manter no esporte. Falar sempre foi muito fácil para quem está de fora”.
Além desse ponto, Talisca precisou lidar com mais um: seu namorado, Netinho, também do taekwondo, participou do mesmo Pré-Olímpico e conseguiu a vaga em Tóquio. Apesar de sua derrota, Talisca fez questão de ressaltar sua felicidade por ele e disse que estará nas Olimpíadas para apoiá-lo.
“Fiquei muito muito feliz pelo Netinho, só quem convive sabe das lutas diárias que enfrentamos. Chorei de felicidade por ele e de muita tristeza por não ter conseguido essa vaga. É uma mistura de sentimentos, até um pouco difícil de explicar. Mas comemorei muito por ele e com certeza estarei lá em todo momento. Já estou até vendo passagem”, brincou bem humorada.
E agora?
O retorno aos treinos talvez seja um dos momento mais difíceis. É preciso deixar para trás a frustração da derrota e ao mesmo tempo conseguir motivação para seguir em frente. Nesse ponto, Talisca e Penalber optaram por caminhos diferentes.
Talisca decidiu dar um tempo nos treinos e vai aproveitar para realizar uma cirurgia, que vinha adiando. Ela disse que é momento de cuidar do seu corpo e com o tempo “quem sabe pensar no próximo ciclo olímpico”.
Penalber, por sua vez, voltou de viagem do Canadá, onde foi realizado o Pré-Olímpico, na última segunda-feira (16) e ainda vai usar esta semana para se recuperar da estressante competição. Apesar disso, ela já voltou com os treinos físicos e agora terá que se adaptar também às novas condições impostas pelo coronavírus. Mesmo assim, ela e seu técnico já tem de continuar trabalhando em cima dos seus erros e seguem acreditando na classificação. “A cabeça continua e precisa continuar esperançosa”.
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“Em nenhum momento eu desanimei. Nem chamo de deslize, porque todo mundo ali também se prepara. E foi uma derrota que vai trazer algo bom, vai me ensinar e eu vou ter a oportunidade de não errar de novo. Então é aprender com os erros”.
Olimpíada é todo dia e o show tem que continuar
Talisca Reis tem hoje 30 anos de idade, três a mais que Giullia Penalber. E destes anos, muitos foram dedicados ao esporte. Por isso, o sonho, como elas mesmas fazem questão de ressaltar, não termina assim tão fácil.
“Minha força sempre vem de Deus e também da minha família, porque esse sonho não é só meu, é também do meu pai, que sempre foi meu maior incentivador. Quem conhece e acompanha o esporte sabe que para o atleta chegar a uma Olimpíada, tem toda uma preparação por trás e por anos. A Olimpíada começa muito antes do ano dela. Sou grata por todos esses anos representando o Brasil no mundo todo e sempre dando o meu melhor em todo momento e o sonho nunca acaba”, destacou Talisca.
A gente trabalha muito duro para poder alcançar o primeiro lugar na seleção nacional, para poder classificar o nosso país para os Jogos Olímpicos. É um trabalho de muitos anos e é um sonho construído desde o início das nossas carreiras. Quando a gente começa, parece um sonho distante, mas você vai subindo de degrau em degrau até ver que aquilo é possível. Não é algo da noite para o dia e a gente tem que seguir dando certo ou não”, disse Penalber.