Aos 34 anos, Maria Carolina Santiago está em sua primeira temporada no esporte paralímpico. Praticante da natação convencional desde criança, por falta de informação em Recife, sua terra natal, ela só conheceu a modalidade para deficientes em 2018, quando foi treinar no Grêmio Náutico União, em Porto Alegre. Mas, competição para valer, ela só começou em abril, quando foi classificada de acordo com sua deficiência e disputou uma etapa do Circuito Nacional em São Paulo. De lá para cá, foram muitas marcas batidas e o auge aconteceu nesta terça-feira, quando ela venceu os 100m costas S12 e quebrou o recorde dos Jogos Parapan-americanos.
“Ah! Meu Deus! Ouvir o hino nacional… fazer ele tocar porque eu nadei e porque a gente conquistou essa medalha é emocionante. Tive que me segurar várias vezes. Estava totalmente emocionada e muito feliz. Realmente eu faço natação desde novinha, desde criança, mas sem dúvida eu nunca passei pelas emoções que estou passando desde que entrei no Paralímpico”, relevou a medalhista de ouro.
Maria Carolina Santiago é portadora da síndrome de Morning Glory, alteração congênita na retina que reduz seu campo de visão. A atleta só enxerga vultos com o olho esquerdo e não tem visão periférica no olho direito, apenas focal. Apesar disso, desde pequena competia na natação convencional. Ela começou no esporte com oito anos e, aos 17, foi forçada a parar.
“Eu sempre quis ser nadadora profissional e isso está se realizando só agora. Nadei na natação convencional toda a minha infância e adolescência, mas tive que interromper por causa do problema da água na retina, que me deixou sem enxergar”, fala sobre o acúmulo de água na retina lhe tirou por completo a visão por cerca de oito meses. Apesar do problema não ter sido causado diretamente pela natação, Maria Carolina Santiago resolveu parar e só voltou dez anos depois.
Na volta à natação, ela não era mais federada, mas resolveu se desafiar e passou a praticar maratona aquática. Mesmo com a deficiência visual, ela encarou diversas provas disputadas no mar. “Era um desafio. Eu sempre fazia com alguém que pudesse me acompanhar, mas eu acho, sem dúvidas, muito mais interessante nadar na piscina”, se diverte a atleta, que, mesmo com as dificuldades de visão, conseguiu títulos como um Rei e Rainha do Mar. Em 2014, foi primeira colocada nas provas de Sprint (1k) e Challenge (4k) para atletas de 25 a 29 anos.
Hoje Carolina mora no Centro Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, onde treina de segunda a sábado, e compete defendendo as cores do gaúcho Grêmio Náutico União. Apesar de ser deficiente visual desde a infância, a atleta conta que não experimentou o esporte paralímpico antes por pura falta de informação. “A divulgação no Nordeste não existia e eu só conheci por causa do pessoal do Grêmio Náutico União, fui apresentada ao esporte paralímpico e comecei a nadar. Mudou minha vida”, acredita.
Nos Jogos Parapan-americanos, Maria Carolina Santiago pode fazer história. A nadadora pernambucana vai disputar ainda mais quatro provas, mas já tem um objetivo claro na cabeça: a Paralimpíada de Tóquio. ”
Não deixou de participar de eventos convencionais, a exemplo do Troféu Maria Lenk, mas os objetivos dela agora estão no esporte paralímpico. Depois do Parapan, tem o Mundial e, ano que vem, a Paralimpíada de Tóquio. “Meu sonho maior é conquistar a vaga na Paralimpíada, chegar lá bem treinada e, sem dúvida nenhuma, tentar conquistar uma medalha lá”, sonha.
Além de Maria Carolina Santiago, o Brasil subiu ao pódio na manhã desta terça-feira com Thomaz Matera, que ficou com a medalha de prata nos 100m costas masculino S12. O atleta tem retinose pigmentar e era praticante da natação convencional. Com a visão sendo afetada cada vez mais, buscou a modalidade adaptada. Nascido no Rio de Janeiro, tem 30 anos e foi ouro nos 100m livre e nos 100m borboleta, bronze nos 50m e nos 400m livre e nos 100m costas no Mundial na Cidade do México, em 2017.