Futebol, basquete e handebol. Nenhuma dessas modalidades conseguiu tirar a natação do caminho de André Brasil. O nadador paralímpico de 34 anos de idade ainda lembra com carinho da primeira medalha que viu em uma Olimpíada: a prata de Gustavo Borges nos 100m, nos Jogos de Barcelona 1992.
“O esporte me escolheu porque foi a primeira oportunidade dentro de um nicho, de uma sociedade, onde eu pude colocar minha deficiência de lado, deixar ela muito mais transparente, porque não tem como esconder a deficiência na piscina”, contou André em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia.
A deficiência a que se refere é a poliomielite (Paralisia Infantil), diagnosticada quando tinha apenas dois meses de idade, depois de reação à vacina.
“Não é a deficiência que vai te limitar. É o indivíduo descobrir quais são as suas próprias limitações, aprender onde ele pode mesclar todo esse conformismo que ele vive e quem sabe superar e crescer, com tudo aquilo que ele possa fazer de diferente. Falar que preconceito não existe, eu vou estar sendo hipócrita. Então, sem sombra de dúvidas, o esporte é transformador”, considerou o nadador.
Trabalhando, lutando e vivenciando muitas situações para buscar seus sonhos, hoje, André é o segundo maior medalhista paralímpico do Brasil. Atrás apenas do também nadador Daniel Dias, André já conquistou 14 medalhas, entre elas sete de ouro, cinco de prata e duas de bronze.
E os números não param por aí. O nadador, que só começou praticar o esporte em 2005, também conquistou 32 medalhas em Mundiais – além de ter batido quatro recordes -, e 21 em Parapan-Americanos.
“Acho que o esporte olímpico me deu a oportunidade de chegar preparado para o que vinha pela frente. Não dá para dizer antes e depois de André, assim como antes e depois de Cristo, mas eu tenho convicção de que minha parcela para o esporte foi bastante produtiva. O esporte era de um jeito quando eu entrei”, acredita.
“Depois dessas medalhas, resultados, recordes, marcas quebradas, eu posso dizer que me sinto contente de ter retribuído. Não vou dizer ‘dever cumprido’ porque eu ainda não acabei aquilo que quero fazer, mas é essa sensação de ter ajudado o esporte a evoluir, de ter levantado uma bandeira”, acrescentou, acreditando que atualmente o esporte paralímpico está mais coeso.
Do esporte convencional ao adaptado
Apesar de acumular tantas conquistas no esporte paralímpico, André Brasil começou sua carreira disputando na modalidade convencional. Até que se deu conta de que suas limitações era um divisor de águas.
“Eu via os atletas evoluírem e eu estava vendo meu tempo ficar cada vez mais para trás”, contou.
A atuação do nadador paralímpico canadense Benoit Huot nos Jogos de Atenas 2004 foi essencial para a migração ao esporte adaptado. Acompanhando a Paralímpiada com seu pai, Carlos, André se deu conta de que poderia seguir o mesmo caminho.
“E naquele ano a gente foi buscar federação, entidades, o próprio Comitê Paralímpico Brasileiro. Eu lembro que no ano seguinte eu já participei da minha primeira competição adaptada, isso já em 2005, e bati o recorde mundial”, lembrou o atleta.
Entretanto, surgiram dúvidas em relação à deficiência de André. Também em 2005, o nadador foi considerado inelegível para o esporte, e se viu impedido de disputar competições da modalidade adaptada.
“Eu acho que foi mais uma pedra no caminho. Foi muito engraçado receber um parecer negativo do esporte que teoricamente deveria receber pessoas com deficiência”, considerou.
O impedimento durou “sete meses, quatorze dias e algumas horas”, pelas próprias palavras de André. Após seu retorno, entrou definitivamente para a seleção brasileira de natação e caminhou até suas conquistas.
“Entender essa diversidade em toda essa trajetória, é olhar para trás e falar: ‘olha, cara, eu realmente não me arrependo de nada, é mais um degrau que vem pela frente e ainda tenho outros para caminhar até que eu feche esse objetivo de esportista”, finalizou o atleta.
Atualmente, André Brasil se recupera de uma cirurgia no ombro esquerdo, realizada em maio do ano passado. Nove meses após o procedimento, o nadador está pronto para voltar às piscinas.