A natação feminina, e mais especificamente sua luta por maior apoio, vem sido debatida na última semana, desde que as atletas se manifestaram contra a convocação de apenas uma mulher da modalidade para a Missão Europa. E quem também falou sobre o assunto foi a dona de 12 medalhas mundiais na maratona aquática, Ana Marcela Cunha.
“Acho que a maratona é um caso a parte. O feminino sempre teve mais olhares do que o masculino, que está sempre correndo atrás. No feminino, querendo ou não, eu e a Poliana [Okimoto] sempre fomos mais destacadas, tanto que nem tivemos seletiva. Eu fui contra, mas foi o que fizeram e fui convocada desta forma. Acredito que possa ter uma melhora, um olhar diferenciado sim para a natação feminina, mas eu não vejo que é algo da Confederação em si, do COB… Eu acho que tem que vir um pouco mais debaixo, os técnicos lutarem por elas”, pontou Ana Marcela em live com o portal “Surto Olímpico”.
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“Hoje, a maratona aquática vai com seis atletas homens e só eu estou classificada. Mas eles só vão, porque os técnicos se reuniram e brigaram por isso. As meninas têm que ter voz, isso é muito importante, mas quando são criados os critérios, quem aprova são os técnicos, a comissão técnica. São poucas meninas e a gente precisa sim de um olhar diferente, um investimento diferenciado, mas tem que vir mais debaixo, de os técnicos querem crescer junto com elas”, completou.
Inspiração
Ana Marcela, por tudo que já conquistou e ainda tem para conquistar, é e deveria ser uma grande inspiração para as meninas mais novas. Mas a inspiração dela mesma está em outro esporte.
“Eu me inspiro em mim. Eu não tenho muito essa coisa com atletas daqui ou mesmo de fora. Minha inspiração maior é o Ayrton Senna. Sou fã de carteirinha, tenho tatuagem e queria muito ter tido a oportunidade de conhecê-lo. É uma pessoa que me inspira muito, assim como o Bernardinho, que sou fã do trabalho dele, como ele é. Então são pessoas que eu me espelho e procuro melhorar e querer ser como eles”.
A nova geração
Se o problema da falta de apoio persiste até hoje, há de se falar sobre a nova geração. E mesmo com a maratona aquática feminina estando no holofote há anos, com os resultados expressivos de Poliana Okimoto e da própria Ana Marcela Cunha, ainda não vemos meninas despontando como promessas da maratona aquática. Para Ana Marcela, isso é motivo de preocupação.
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“A gente sabe que a maratona ainda tem um precariedade, mesmo tendo a Poliana [Okimoto] como medalhista olímpica, eu como diversas vezes eleita melhor do mundo, campeã mundial… Então ainda pode melhorar. E o mais difícil é as meninas também quererem. A gente vem de uma geração que gosta muito de treinar, de competir, e para a maratona, tem que gostar de ficar quatro, cinco horas dentro da água. Você sabe do sofrimento que vai passar, pelo tempo e pela força dos treinos”, afirmou.
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“A gente é carente de meninas que querem isso, que se identifiquem com isso. Então a gente vê o circuito brasileiro carente de uma nova geração e reza para que tenham mais meninas no circuito. A gente tenta com a nossa imagem fazer com que outras meninas possam se identificar com a maratona…. Mas de maneira geral, é preocupante, porque a gente não sabe quem vai vir depois. Eu até tento participar de algumas etapas no Brasil, quando não há choque com as da Copa do Mundo, justamente para mostrar para a galera que eu vim dali. Que eu saí do circuito brasileiro para ser o que eu sou hoje”, concluiu.