Ana Marcela Cunha já foi eleita seis vezes a melhor do mundo na maratona aquática. Fora isso, coleciona medalhas em Mundiais: são 11 ao todo: cinco de ouro, duas de prata e quatro de bronze. Aos 28 anos, falta à nadadora apenas o pódio olímpico, que lhe escapou nas duas edição que participou, em Pequim-2008 e Rio-2016, e ela não quer perder a oportunidade de alcançar o objetivo em Tóquio, no ano que vem. Para o técnico Fernando Possenti, a melhor estratégia para chegar lá é arriscar.
“Uma prova olímpica é totalmente diferente, principalmente pela quantidade de atletas. Uma prova de mundial tem 70, 80, 90 atletas e em Jogos Olímpicos são 25. Então, apesar de muitos acharem loucura, você precisa fazer algo novo, algo diferente”, apostou Fernando Possenti em entrevista concedida durante live no instragram da CBDA.
DUPLA ENTROSADA
Fernando Possenti sabe do que está falando. Se sua pupila já tem seis troféus de melhor do mundo, o treinador tem também um. Para o treinador, as coisas deram certo pois, no momento em que se conheceram e decidiram formar a parceria, os dois estavam dispostos a aprender. “Nós conhecemos em 2012 e nas conversas surgiu o interesse em formar essa parceira, que aconteceu em 2013. Quando começamos a trabalhar, ela estava preparada e aberta para mudar. Eu consegui aprender com o jeito dela e mostrar que poderia ajudar a Ana Marcela a ser ainda melhor do que ela já era. Acredito que isso fez dar certo”.
+ SIGA O OTD NO YOUTUBE, NO INSTAGRAM E NO FACEBOOK
São mais de sete anos de dupla e o nível da nadadora brasileira é referência no mundo. Fernando Possenti e Ana Marcela Cunha não só se colocaram entre as melhores do mundo, mas se mantém no posto durante alguns anos. Para o treinador, o segredo está na forma como cada etapa é comparada.
“Chegamos em um ponto que toda a competição é importante. Independente do tamanho, queremos vencer o que tiver pela frente. Se não é tão importante, não precisa participar. E somos eternos insatisfeitos. Sempre falta alguma coisa, hoje eu posso dizer que faltam a vitória nos 10 km do Mundial e a medalha olímpica”.
TÓQUIO SERÁ ESTREIA OLÍMPICA DA DUPLA
O curioso é que ano que vem em Tóquio será a primeira vez que Ana Marcela Cunha e Fernando Possenti estarão juntos numa edição de Jogos Olímpicos. Apesar da parceria entre os dois ter começado em 2013, eles tiveram que se separar porque a nadadora deixou o Sesi para voltar à Unisanta e, por isso, foi comandada por Márcio Latuf na Rio-2016.
Décima colocada nos Jogos Olímpicos de 2016, Ana Marcela Cunha resolveu retomar a parceria com Fernando Possenti e os bons resultados voltaram. Depois de um rápido período em que foram trabalhar na África do Sul, a dupla se estabeleceu no Rio de Janeiro e treina diariamente no Parque Aquático Maria Lenk, onde fica o CT do Time Brasil.
“Maria Lenk faz a diferença. É o nosso único centro de treinamento e é dos melhores do mundo. Já trouxe gente de diversos lugares do mundo e todos ficaram maravilhados com o que nós temos. Agradeço ao COB e a CBDA por permitirem o treinamento nele, com toda a estrutura”, elogia o treinador.
Apesar disso, Fernando Possenti ainda vê espaço para melhora. Olhando a maratona aquática como um todo, o técnico percebe o Brasil um pouco abaixo dos demais países que tem destaque na modalidade.
“Falta um pouco de acesso a modalidade e conhecimento sobre o esporte. Nos outros países, como a Espanha por exemplo, existem grupos de troca de ideias e informações, mas no Brasil ainda não temos”, finalizou Possenti
SOFRIMENTO NA QUARENTENA
Se no dia-a-dia, Ana Marcela Cunha e Fernando Possenti têm o Maria Lenk como local de trabalho, eles têm tido que respeitar o isolamento social e a quarentena por causa da pandemia do coronavírus. Os treinamentos tiveram que ser adaptados.
No caso de Ana Marcela Cunha e Allan do Carmo, que também é treinado por Fernando Possenti, a varanda do apartamento virou o local de treinos. Com o auxílio do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), os nadadores receberam o aparelho para conseguir realizar os treinamentos propostos e instalaram onde dava para usar.
Para Fernando Possenti, a maior questão com tudo que está acontecendo no mundo, é estar sem a água. “Ficar fora da água é o pior. O período que os atletas vão ficar fora dos treinos na piscina é a pior parte. O adiamento foi necessário, não tinha como ter uma Olimpíada nessa condição”.
Mesmo sabendo qual o maior problema que vai enfrentar com seus atletas, Fernando Possenti tenta se manter otimista. Para o treinador, o Brasil pode ter uma vantagem em relação a alguns países no mundo, pelo menos na maratona aquática.
“Penso que não teremos um situação parecida com o que aconteceu em outros países. Em alguns lugares do mundo o atleta ficou 9, 10 semanas fora da água, o que é um absurdo para o alto rendimento. Aqui eu acho que será diferente aqui, que vai ser possível deixar os atletas um período menor fora da água”.
SELETIVA OLÍMPICA
No começa da semana, a FINA divulgou as datas em que serão seus torneios pré-olímpicos. No caso da maratona aquática, a competição acontecerá na cidade de Fukuoka, no Japão, em maio de 2021.
Como Ana Marcela Cunha já está garantida em Tóquio por conta de sua classificação na prova dos 10 km no último Mundial, as atenções para a disputa deste pré-olímpico estão com Allan do Carmo.
Sobre o adiamento e o que esperar da participação do nadador brasileiro na competição, Possenti prefere ser consciente e manter a cautela. “Achei correta, justa, uma vez que a Olimpíada foi alterada para uma data parecida. Contudo, primeiro o Allan do Carmo precisa passar por uma seletiva nacional, para ai sim se garantir no pré-olímpico. Mas está muito focado em busca do que seria sua terceira olimpíada”.
Apaixonado declarado pelo monitoramento e o controle dos treinamentos de seus atletas, Possenti sabe que a pandemia deixou o mundo em uma nova realidade. Contudo, quando se pensa na volta para a normalidade e o quanto esse cenário pode acontecer perto de competições, diminuindo o tempo de treino dos atletas, faz o treinador ser direto.
“Monitoramento e controle era muito usado por mim e visto como importante. Nesse retorno, quando acontecer, vão ser ainda mais importantes. As equipes médicas vão ser essenciais para sabermos como cada atleta está reagindo e o que fazer em cada situação”.