Os últimos meses de distanciamento social, imposto pela pandemia do coronavírus, ao menos serviram para trazer dois documentários esportivos espetaculares. O primeiro foi “Last Dance”, da Netflix, que conta os bastidores da última conquista de Michael Jordan com o Chicago Bulls. No final de maio, a ESPN promoveu a estreia de “Lance”, que conta a trajetória do ciclista americano Lance Armstrong, disponível em sua plataforma de streaming.
+ O blog está no Twitter. Clique e siga para acompanhar
Com direito a entrevistas com Armstrong, colegas de equipe, familiares e até desafetos, “Lance” mostra desde a luta do americano para derrotar o câncer, passando pela glória das sete vitórias na Volta da França e até chegar ao fundo do poço, quando ele confessou que todas as conquistas foram obtidas com ajuda do doping.
Só que enquanto o documentário da Netflix conta uma jornada de glórias, mesmo com um personagem tão complexo como é Jordan, a produção irretocável da ESPN desnuda sem dó Armstrong, expondo sua dificuldade em aceitar seu papel de maior trapaceiro da história do esporte.
+ Curta a página do blog no Facebook
Incrível como aquele que durante muito tempo foi responsável por popularizar o ciclismo com vitórias espetaculares, intercaladas com sua batalha vitoriosa contra um câncer e a criação de uma fundação, seja tão descolado da realidade. É significativo quando Armstrong se vira para a documentarista Marina Zenovich, diretora do programa, e diz sem pestanejar. “Eu não vou mentir para você, Marina. Eu vou te contar a minha verdade”.
O problema é que mesmo sete anos depois de confessar que utilizou substâncias proibidas ao longo de sua carreira, Lance Armstrong ainda tem enormes dificuldades em lidar com o conceito da verdade. Quando o documentário contrapõe suas falas atuais com depoimentos de ex-companheiros, a reconstrução da imagem que Armstrong tenta fazer ao longo dos dois episódios cai por terra.
Aliás, “reconstrução” talvez seja a palavra que melhor possa definir “Lance”. Uma tentativa (frustrada, na minha opinião) de Armstrong em reencontrar o seu lugar de protagonista, sem fazer a necessária autocrítica sobre toda a patifaria que protagonizou.
+ O blog também está no Instagram. Siga
O único momento de sinceridade em toda a série é quando o americano conta sobre a visita que fez ao alemão Jan Ulrich, seu grande rival nos tours europeus. Também eliminado do ciclismo por doping e abalado psicologicamente, Ulrich estava internado em uma casa de repouso. Ao falar sobre Ulrich, Armstrong travou e ficou visivelmente emocionado.
+ SIGA O OTD NO YOUTUBE, NOINSTAGRAM E NO FACEBOOK
Imperdível para quem gosta de esporte ou para quem só quer entender um pouco mais do maior escândalo do esporte mundial deste século, o documentário de Lance Armstrong escancara uma pessoa que ainda não sabe lidar com a destruição de sua condição de ídolo.