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Laguna Olímpico

O tropeção que marcou a história da Olimpíada de Los Angeles

O incidente entre a americana Mary Decker e a sul-africana Zola Budd foi um dos grandes assuntos dos Jogos de 1984

Mary Decker e Zola Budd Olimpíada de Los Angeles-1984
A sul-africana Zola Budd (nº 151) e americana Mary Decker (373), antes do tropeção histórico (Reprodução/YouTube)

Em tempos de pandemia de coronavírus e sem competições mundo afora, as lembranças de eventos antigos acabam salvando a vida do blogueiro.  A de hoje, com inestimável ajuda do amigo e colega Adalberto Leister Filho, relembra uma das grandes polêmicas da Olimpíada de Los Angeles-1984: o incidente entre a americana Mary Decker e a sul-africana Zola Budd, na final dos 3.000 metros.

Adalberto, atualmente editor na “CNN Brasil”, é autor do livro “2016 Histórias que Fizeram 120 anos de Olimpíadas” (em parceria com o também jornalista Guilherme Costa). Em postagens no Twitter, ele recordou que na última terça-feira (26) foi o aniversário de Zola Budd, agora com 54 anos. Essa foi a deixa para que eu relembrasse daquele episódio marcante na primeira Olimpíada que acompanhei como jornalista.

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O tropeção que entrou para a história dos Jogos Olímpicos de 1984 causou uma espécie de comoção nos Estados Unidos. Antes da Olimpíada (marcada pelo boicote da União Soviética e seus aliados), Decker era aposta certeira para uma medalha de ouro nos 1.500 m e 3.000 m. Afinal, um ano antes, no Mundial de Helsinque (FIN), ela havia conquistado a medalha de ouro nas duas provas. A conceituada revista “Sports Illustrated” a escolheu como Atleta do Ano em 1983.

Para os Jogos de Los Angeles, a americana resolveu concentrar os esforços apenas nos 3.000 metros, após ficar em segundo lugar na seletiva americana dos 1.500. Decker intensificou sua preparação treinando até entre os homens, pois assim se acostumaria com os encontrões e cotoveladas tão comuns nesta prova.

Descalça e sem pátria

O que Mary Decker não contava era que os planos para brilhar em Los Angeles fossem frustrados por uma pequena fundista de 1,58 m, que tinha o hábito de correr descalça e não podia representar sua própria pátria.

Nascida em Bloemfontein, Budd tinha apenas 17 anos em janeiro de 1984, quando assombrou o atletismo ao bater o recorde mundial dos 5.000 m, com a marca de 15min01s83. O problema é que este tempo nunca foi homologado. Em razão do regime racista do apartheid, a África do Sul estava banida das competições internacionais. Desde os Jogos de Roma-1960, o país era barrado pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) dos Jogos Olímpicos.

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Os pais de Budd então tiveram a ideia de tentar colocar a filha para competir pela Grã-Bretanha. O jornal inglês “Daily Mail” inclusive ajudou na tarefa, fretando um avião em março de 1984, com destino a Southampton. Em pouco mais de um mês, a cidadania foi concedida e a vaga para a Olimpíada assegurada ainda em abril.

Culpada ou inocente?

No dia 10 de agosto, o Estádio Olímpico lotado aguardava ansiosamente a final dos 3.000 metros. Mary Decker e Zola Budd se mantiveram no primeiro pelotão disputando a liderança durante os primeiros 2.000 m, quando em plena reta principal, aconteceu o tropeção fatal.

Decker estava logo atrás da sul-africana e quando ensaiava uma ultrapassagem pelo lado de fora da pista, se enroscou nas pernas da rival e caiu feio na parte externa. Budd, que mais uma vez corria descalça, tomou um susto, se desequilibrou mas seguiu na prova.

As imagens de Decker aos prontos, em um choro que misturava dor e frustração, foi o sinal para que a torcida americana sentenciasse Zola Budd como culpada. E dá-lhe vaia! A pequena sul-africana acabou emocionalmente destruída e foi ficando para trás, terminando a prova apenas em sétimo lugar.

Em um gesto um tanto melodramático, Decker foi carregada pelo treinador no colo até a sala de coletivas, e não perdoou Budd. Consta que a sul-africana tentou pedir desculpas, mas foi ignorada. Pressionados pela situação, os árbitros chegaram a desclassificar Zola Budd, mas ao revisarem a prova, constataram o que as imagens deixam claro. Tudo só aconteceu por uma trapalhada de Mary Decker.

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O tropeção em Los Angeles-1984 foi o único momento de protagonismo de Mary Decker e Zola Budd na história dos Jogos. Como uma espécie de maldição, nunca mais tiveram o mesmo brilho de antes.

Decker disputou os Jogos de Seul-1988 e Atlanta-1996, mas o seu melhor resultado foi um simples oitavo lugar nos 1.500 m em Seul.

Budd iria para mais uma Olimpíada, já com o sobrenome de casada Budd-Pieterse. Desta vez, podendo representar a sua África do Sul nos Jogos de Barcelona-1992. Na pista, mais uma vez sobrou frustração e não conseguiu passar das eliminatórias dos 3.000 m.

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