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Em ano sem Olimpíada, eleição no COB ganha protagonismo

Pela segunda vez na história do Comitê Olímpico do Brasil, eleição terá dois candidatos de fato disputando a presidência

Alberto Murray eleição COB
O advogado Alberto Murray será o candidato da oposição na eleição do COB (Arquivo Pessoal)

Sem ter mais no radar a disputa da Olimpíada de Tóquio, que foi adiada para o ano que vem, um outro compromisso assume protagonismo na agenda do Comitê Olímpico do Brasil em 2020. No próximo mês de novembro, como já estava previsto antes mesmo da pandemia do coronavírus, ocorrerá a eleição no COB.

E não será uma eleição qualquer. Pela segunda vez na história da entidade, haverá dois candidatos de fato disputando a presidência do órgão que comanda o esporte olímpico nacional.

Já se sabe que a chapa da oposição será encabeçada pelo advogado paulista Alberto Murray, de 54 anos, que até o início do último mês de janeiro ocupava a presidência do Conselho de Ética do COB. Ainda não se sabe quem ele enfrentará no pleito. O Comitê Olímpico, que é comandado por Paulo Wanderley Teixeira, disse que no momento o foco está na estratégia da preparação brasileira para a Olimpíada em 2021.

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De qualquer forma, pode-se dizer com certeza que será uma eleição histórica. Há mais de 40 anos que não havia uma disputa direta pelo poder no COB. A última ocorreu em 1979, quando o então presidente da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei), Carlos Arthur Nuzman, saiu como opositor ao então presidente Sylvio de Magalhaes Padilha, avô de Murray, que acabou vencedor. Ele comandou o COB entre 1963 e 1990.

Fora esta ocasião, nas demais eleições o vencedor sempre foi escolhido por aclamação. “É pouco, né?”, reconhece Murray, em entrevista exclusiva ao blog. Para ele, a eleição prevista para o final de novembro será de fato uma novidade dentro do Comitê Olímpico do Brasil.

Alberto Murray candidato da oposição na eleição no COB
Alberto Murray foi presidente do Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil até o começo deste ano (Arquivo Pessoal)

“Todas as pessoas que vivem o movimento olímpico irão se deparar com uma situação nova. E acho que é salutar. Toda eleição é boa, inclusive para mostrar que o COB existe, que há possibilidade de fazer um diálogo e isso não é traumático, faz parte do jogo democrático. Até lamento que nestes anos todos não tenha havido chance de mais eleições, justamente para realçar a importância do Comitê Olímpico na sociedade”, afirmou.

Quebra de paradigma

A primeira disputa eleitoral para valer na era moderna do esporte olímpico brasileiro irá causar, na opinião de Alberto Murray, uma espécie de quebra no paradigma existente.

“Antigamente, ser presidente do COB era quase uma profissão de fé. A entidade sobrevivia com o dinheiro da Solidariedade Olímpica e com um teste de Loteria Esportiva em ano de Jogos Olímpicos ou Pan-Americanos. A partir do momento em que foi criada a Lei Geral do Esporte e depois a Lei Agnelo/Piva, o COB ganhou poder, mas ao mesmo tempo o estatuto foi alterado de forma que as eleições fossem dificultadas”, lembra o candidato da chapa de oposição.

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A pandemiatambém alterou o ritmo da campanha que Murray vinha fazendo. “Antes da pandemia começar, tinha visitado vários presidentes de confederações, representantes da Comissão de Atletas e pessoas da sociedade civil que mostram interesse pelo esporte. Tínhamos feito uma agenda de visitas que foi emperrada em razão da pandemia. Desde então, estamos fazendo os contatos por telefone”, afirmou.

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Ele terá como vice em sua chapa o presidente da CBBoxe (Confederação Brasileira de Boxe), Mauro José da Silva, que abriu mão de sua vaga no Conselho de Administração antes de abril, prazo máximo pelo estatuto.

“Ele tem feito um trabalho vitorioso no boxe e também na base, um tema que eu valorizo muito. Basta ver que nos Jogos Olímpicos da Juventude o boxe ganhou três medalhas e vem subindo ao pódio desde Londres-2012, espera-se que em Tóquio mantenha esta sequência”, disse Murray.

O candidato da oposição assegura que sua plataforma de gestão, baseada em um documento que ele chama de “Agenda Positiva para o COB”, irá privilegiar o atleta e as confederações. “Se vencermos, a nossa equipe será formada por atletas e dirigentes de confederações. Vamos valorizar muito estas duas vertentes. Acredito muito na gestão colegiada e vou contar demais com o Conselho de Administração”, explica.

Mudança de prioridade

Outra promessa de campanha da chapa de Alberto Murray será em dar mais liberdade para as confederações e difundir de fato os ideais olímpicos. “O COB tem muitas outras coisas para fazer e tem que dar liberdade para as confederações agirem. Não pode suprir o papel das confederações. Além disso, tem que se preocupar em divulgar e massificar a educação olímpica. Tornar e criar uma mentalidade esportiva no país. É preciso colocar o COB de fato em contato com as escolas do país”, explicou.

O fato de a Olimpíada ter sido adiada deveria servir, na opinião de Murray, para uma mudança de prioridades dentro do Comitê Olímpico. “Com o adiamento dos Jogos para 2021, esse ano temos duas coisas fundamentais a fazer. Primeiro, observar a retomada da periodização de treinamentos dos atletas e fazer com que só voltem com segurança. O segundo ponto é a eleição. Eles [COB] têm que estar preocupados pela relevância do que representa uma eleição”, afirma.

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Sobre seu rival no pleito de novembro, enquanto a situação não lança oficialmente sua chapa, resta apenas especulação. Murray acredita que terá como adversário o próprio Paulo Wanderley, buscando sua reeleição, ou então o presidente da CBT (Confederação Brasileira de Tênis), Rafael Westrupp, que também deixou o Conselho de Administração.

Paulo Wanderley presidente do COB, eleição no COB
Aina não se sabe se Paulo Wanderley irá se candidatar à reeleição no COB em novembro (Ana Patrícia/Exemplus/COB)

O colégio eleitoral do COB é formado com os votos das 33 confederações olímpicas, dos 12 integrantes da Comissão de Atletas e dos dois membros do COI (Comitê Olímpico Internacional) no Brasil. São eles Bernard Rajzman e Andrew Parsons, que também dirige o IPC (Comitê Paralímpico Internacional).

Posicionamento do COB

Procurado pelo blog, o COB emitiu uma nota, na qual afirma que não está neste momento preocupado com o processo eleitoral que ocorrerá no final deste ano.

“A prioridade absoluta agora está em oferecer as melhores condições aos atletas e equipes para que o Brasil se prepare de forma adequada para fazer uma excelente campanha nos Jogos Olímpicos, apesar de todos os contratempos trazidos pela pandemia e adiamento dos Jogos.

Por toda complexidade do contexto atual e os desafios que virão pela frente, o presidente Paulo Wanderley acredita que que este não seja o momento mais adequado para abordar este tema.

As eleições no COB estão programadas para o final do ano e até lá existe muito trabalho a ser feito.”

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