O mês de maio mal começou e ainda existe um enorme ponto de interrogação sobre o esporte mundial. Tudo em razão da pandemia do coronavírus, que segue fazendo vítimas em todo o planeta, além de interromper atividades econômicas e criar a necessidade do distanciamento social.
No caso do esporte, o principal reflexo foi paralisar o calendário de todas as modalidades, com raras exceções para países que insistem em definir a Covid-19 apenas como uma gripezinha!
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Quase quarenta dias depois desde que foi confirmado o adiamento da Olimpíada de Tóquio para o ano que vem, as atualizações do calendário estão sendo feito a conta-gotas. As federações internacionais vão atualizando os critérios de qualificação, mas longe daquilo que o próprio COI (Comitê Olímpico Internacional) esperava, que era ter todo o calendário definido até o final de abril.
O otimismo exagerado dos cartolas do COI talvez tenha mais a ver com um desejo inconsciente. Óbvio que todos nós queremos que a vida retorne ao normal o quanto antes. O problema é que a realidade nos joga na cara um cenário muito mais nebuloso.
Previsões impossíveis
Não é possível prever quando o esporte voltará. Impossível, até porque os efeitos da pandemia variam de acordo com os países. Se na China a situação parece caminhar para retornar à normalidade, nos Estados Unidos a onda do coronavírus segue empilhando corpos, especialmente em Nova York. Sem falar que em países como França, Itália e Espanha, bastante afetados pela pandemia, ainda se discute os protocolos para este retorno.
Uma coisa, porém, é possível cravar: os Jogos Olímpicos, conforme conhecemos até a edição da Rio-2016, nunca mais serão os mesmos. Isso você pode ter certeza.
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Primeiro, pelo simples fato de se ter quebrado a tradição olímpica de respeitar o intervalo de quatro anos entre uma edição dos Jogos e outra. Inclusive, até agora o próprio COI ainda não deu uma justificativa que explique o fato de ter sido ignorada a Carta Olímpica, uma espécie de estatuto da entidade, para adiar os Jogos de Tóquio para 2021.
Outro fato que me dá a certeza de que teremos uma Olimpíada fora dos padrões em Tóquio é a própria indefinição da volta das competições. Enquanto isso não ocorrer, vai demorar para que sejam conhecidos os cerca de 40% de classificados que ainda faltam. É gente pra burro! E quanto mais demorar para os eventos qualificatórios começarem, o prazo aparentemente seguro de mais de 400 dias até a Olimpíada ficará bem apertado.
Por fim, já se fala, até com alguma naturalidade, da possibilidade de uma Olimpíada sem público.
E a torcida, como fica?
Parece maluquice pensar em um evento como Jogos Olímpicos ou Paralímpicos sem a presença de torcedores. Mas como tudo ainda é especulação, certos cenários não podem ser descartados.
O futebol, modalidade que mais vem se mobilizando para promover o retorno de campeonatos nacionais e internacionais, já colocou como condição básica que as partidas não terão público em um primeiro momento. Talvez até mais do que isso. Tudo dependerá da evolução da pandemia.
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No cenário olímpico, isso já começa a ser discutido também. Em uma entrevista ao site Globoesporte.com, o espanhol Emilio Peña, consultor do COI e diretor do Centro de Estudos Olímpicos da Universidade Autônoma de Barcelona, aponta para esta possibilidade. Segundo Peña, caso uma vacina contra o coronavírus não seja descoberta até julho de 2021, realizar os Jogos sem público talvez seja necessário. Mas isso não afetaria, segundo ele, a realização do evento em si, diante da enorme da cobertura da televisão e da mídia digital.
Já se discute também o próprio modelo da Olimpíada, que há muito tempo vem sendo criticado pelo seu gigantismo e custos astronômicos. O francês Guy Drut, ex-ministro do Esporte da França e membro do COI, escreveu um artigo publicado pela FranceInfo no qual diz que o modelo atual dos Jogos Olímpicos está obsoleto.
Drut, medalhista de ouro nos 110 m com barreira nos Jogos de Montreal-1976, disse que diante da crise que virá pela pandemia do coronavírus, o próprio modelo da Olimpíada de Paris-2024 precisa ser revisto, em razão dos custos astronômicos para construção de instalações, mesmo temporárias. Para ele, no futuro o ideal seria ter sedes fixas para determinadas modalidades. Citou como exemplo o surfe, que em 2024 será realizado no Taiti, na Polinésia Francesa.
Com tantas discussões sobre a mesa, me parece ainda ser utopia falar em como será a Olimpíada de Tóquio. Ao menos antes que a normalidade volte às nossas vidas.
Minha única certeza é que os próximos Jogos Olímpicos mudarão para sempre o conceito criado pelo Barão de Coubertain em Atenas-1896.