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Laguna Olímpico

O legado do coronavírus será mudar as Olimpíadas para sempre

Cada vez mais fica claro que o modelo dos Jogos que conhecemos até agora passará por profundas mudanças

Olimpíadas de Tóquio - Coronavírus - Vacina
Tóquio 2020 foi adiado para o ano que vem por causa do coronavírus (Foto: Divulgação/Tóquio 2020)

O mês de maio mal começou e ainda existe um enorme ponto de interrogação sobre o esporte mundial. Tudo em razão da pandemia do coronavírus, que segue fazendo vítimas em todo o planeta, além de interromper atividades econômicas e criar a necessidade do distanciamento social.

No caso do esporte, o principal reflexo foi paralisar o calendário de todas as modalidades, com raras exceções para países que insistem em definir a Covid-19 apenas como uma gripezinha!

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Quase quarenta dias depois desde que foi confirmado o adiamento da Olimpíada de Tóquio para o ano que vem, as atualizações do calendário estão sendo feito a conta-gotas. As federações internacionais vão atualizando os critérios de qualificação, mas longe daquilo que o próprio COI (Comitê Olímpico Internacional) esperava, que era ter todo o calendário definido até o final de abril.

O otimismo exagerado dos cartolas do COI talvez tenha mais a ver com um desejo inconsciente. Óbvio que todos nós queremos que a vida retorne ao normal o quanto antes. O problema é que a realidade nos joga na cara um cenário muito mais nebuloso.

Previsões impossíveis

Não é possível prever quando o esporte voltará. Impossível, até porque os efeitos da pandemia variam de acordo com os países. Se na China a situação parece caminhar para retornar à normalidade, nos Estados Unidos a onda do coronavírus segue empilhando corpos, especialmente em Nova York. Sem falar que em países como França, Itália e Espanha, bastante afetados pela pandemia, ainda se discute os protocolos para este retorno.

Uma coisa, porém, é possível cravar: os Jogos Olímpicos, conforme conhecemos até a edição da Rio-2016, nunca mais serão os mesmos. Isso você pode ter certeza.

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Primeiro, pelo simples fato de se ter quebrado a tradição olímpica de respeitar o intervalo de quatro anos entre uma edição dos Jogos e outra. Inclusive, até agora o próprio COI ainda não deu uma justificativa que explique o fato de ter sido ignorada a Carta Olímpica, uma espécie de estatuto da entidade, para adiar os Jogos de Tóquio para 2021.

Outro fato que me dá a certeza de que teremos uma Olimpíada fora dos padrões em Tóquio é a própria indefinição da volta das competições. Enquanto isso não ocorrer, vai demorar para que sejam conhecidos os cerca de 40% de classificados que ainda faltam. É gente pra burro! E quanto mais demorar para os eventos qualificatórios começarem, o prazo aparentemente seguro de mais de 400 dias até a Olimpíada ficará bem apertado.

Por fim, já se fala, até com alguma naturalidade, da possibilidade de uma Olimpíada sem público.

E a torcida, como fica?

Parece maluquice pensar em um evento como Jogos Olímpicos ou Paralímpicos sem a presença de torcedores. Mas como tudo ainda é especulação, certos cenários não podem ser descartados.

O futebol, modalidade que mais vem se mobilizando para promover o retorno de campeonatos nacionais e internacionais, já colocou como condição básica que as partidas não terão público em um primeiro momento. Talvez até mais do que isso. Tudo dependerá da evolução da pandemia.

Coronavírus na Olimpíada de Tóquio
O novo Estádio Olímpico de Tóquio poderá ficar sem torcedores em 2021 (Wikimedia)

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No cenário olímpico, isso já começa a ser discutido também. Em uma entrevista ao site Globoesporte.com, o espanhol Emilio Peña, consultor do COI e diretor do Centro de Estudos Olímpicos da Universidade Autônoma de Barcelona, aponta para esta possibilidade. Segundo Peña, caso uma vacina contra o coronavírus não seja descoberta até julho de 2021, realizar os Jogos sem público talvez seja necessário. Mas isso não afetaria, segundo ele, a realização do evento em si, diante da enorme da cobertura da televisão e da mídia digital.

Já se discute também o próprio modelo da Olimpíada, que há muito tempo vem sendo criticado pelo seu gigantismo e custos astronômicos. O francês Guy Drut, ex-ministro do Esporte da França e membro do COI, escreveu um artigo publicado pela FranceInfo no qual diz que o modelo atual dos Jogos Olímpicos está obsoleto.

Drut, medalhista de ouro nos 110 m com barreira nos Jogos de Montreal-1976, disse que diante da crise que virá pela pandemia do coronavírus, o próprio modelo da Olimpíada de Paris-2024 precisa ser revisto, em razão dos custos astronômicos para construção de instalações, mesmo temporárias. Para ele, no futuro o ideal  seria ter sedes fixas para determinadas modalidades. Citou como exemplo o surfe, que em 2024 será realizado no Taiti, na Polinésia Francesa.

Com tantas discussões sobre a mesa, me parece ainda ser utopia falar em como será a Olimpíada de Tóquio. Ao menos antes que a normalidade volte às nossas vidas.

Minha única certeza é que os próximos Jogos Olímpicos mudarão para sempre o conceito criado pelo Barão de Coubertain em Atenas-1896.

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