Começou aos poucos, até de forma meio tímida. Mas nos últimos dias, tem aumentado consideravelmente as manifestações de atletas, das mais variadas modalidades, contrários à realização da Olimpíada de Tóquio-2020 na data prevista. O motivo é o agravamento da pandemia do coronavírus em vários países, especialmente na Europa. A crise parou o esporte mundial, mas aparentemente não sensibilizou os dirigentes do COI (Comitê Olímpico Internacional) a adotarem uma medida mais sensata e já decidir pelo adiamento dos Jogos.
Pelo contrário, o inacreditável comunicado do COI emitido na terça-feira (17) apenas serviu de ponto de partida para que a comunidade dos atletas começasse a mostrar sua contrariedade com a manutenção do calendário original.
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Se a questão da saúde já não seria bastante preocupante, afinal o vírus ainda vem infectando pessoas em todos os continentes e impondo até restrições de circulação, há a questão esportiva. Simplesmente não há nem condição de atletas treinarem, afetando diretamente a preparação de todos, muitos inclusive que nem vaga olímpica conquistaram. Daí a revolta com a frase do COI dizendo para que “todos sigam se preparando normalmente”.
Campeã olímpica do salto com vara na Rio-2016, a grega Katerina Stefanidi foi o primeiro nome de peso a bater forte na postura excessivamente “cautelosa” do COI. Em sua conta no Twitter, Stefanidi disse sem meias palavras que a entidade coloca a saúde dos atletas em risco ao relutar em adiar os Jogos.
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“Não se trata como as coisas serão daqui a quatro meses. É sobre como as coisas estão agora. O COI quer que continuemos arriscando nossa saúde, a saúde da nossa família e a saúde pública para treinar todos os dias? Vocês estão nos colocando em perigo hoje, não daqui a quatro meses”, escreveu Stefanidi, respondendo ao tuíte do próprio COI, com o comunicado oficial.
A saltadora grega, por sinal, participou da esvaziada cerimônia de entrega da chama olímpica para Tóquio, que ocorreu nesta quinta-feira (19), em Atenas, em um esvaziado Estádio Panathinaiko vazio.
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Assustado com a repercussão negativa, o COI organizou na quarta (18) uma videoconferência reunindo cerca de 200 atletas. A intenção era tranquilizá-los e reforçar a crença da entidade que tudo estará em condições no final de julho para os Jogos de Tóquio acontecerem normalmente.
A representante dos atletas no COI, a ex-nadadora e campeã olímpica Kirsty Conventry, fez uma postagem para falar sobre o que foi discutido e recebeu uma resposta direta do nadador brasileiro Bruno Fratus, que fala sobre a impossibilidade de tratar a situação como normal.
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“Kirsty, como nadador e atleta olímpico, peço a você a reconsiderar e consultar outros atletas ao redor do mundo. Não tenho certeza se você está ciente dos muitos atletas, como eu, que estão incapazes de treinar”, escreveu Fratus. E o brasileiro foi ainda mais incisivo. “O conselho de ‘continuar o que você está fazendo’ parece desconectado da realidade, quando diariamente temos líderes mundiais diariamente na televisão pedindo às pessoas que fiquem em casa e se isolem”, escreveu.
Pressão aumentando para cancelamento
Nesta quinta-feira, os comitês olímpicos da Espanha e Grã-Bretanha já manifestaram contrariedade com o plano do COI em manter os Jogos de Tóquio em seu calendário. Sebastian Coe, presidente de World Athletics (Federação Internacional de Atletismo) e que presidiu o comitê organizador de Londres-2012, disse que “tudo é possível, até mesmo um adiamento”.
A pressão aumenta a cada dia. Ficará mais difícil para o COI seguir tentando encontrar uma saída política que não incomode patrocinadores e o governo da Japão, que segue dizendo que os Jogos estarão prontos.
O adiamento parece inevitável. É a coisa mais coerente a ser feita. A minha dúvida é se a cartolagem do COI se fará de surda e manterá a aposta da Olimpíada ainda em 2020 ou então irá romper os preceitos da Carta Olímpica e teremos então Tóquio-2021.