Em 2008, Ketleyn Quadros fez história. Na Olimpíada de Pequim, a judoca foi bronze e se tornou a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha olímpica em esportes individuais. Doze anos depois, a atleta de Ceilândia (DF) relembrou o feito, assim como a importância que ele teve para o judô feminino.
“Parece que é só chegar lá, que a gente acordou num dia bom… Mas não, é uma dedicação diária, enorme de tanta gente. Eu sabia que tinha caído em uma chave muito forte, mas a sensação era que eu me dediquei tanto, professores que deixaram seus fins de semana, sua famílias, que foram fantásticos… Eu queria dar estrelinha, cambalhota, gritar. Mas eu não tinha certeza se tinha acabado (a luta), se faltava alguma coisa. Era uma sensação de sonho. Demorou muito tempo para a ficha cair. É muito gratificante”, relembrou a judoca em live do Olimpíada Todo Dia.
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Se engana quem pensa, no entanto, que foi fácil para a judoca de 20 anos na época voltar de Pequim para o Brasil com uma medalha no peito. “Esse foi o filme que passou na minha cabeça. Tudo que eu abri mão na época… Ver meus amigos viajando, aproveitando… Porque você acaba abrindo mão do convívio social, a gente chega a não saber o que é o que significa um feriado, de tanto que a gente está focado, treinando muito. Isso é muito amor, muita dedicação. Mas não é fardo nenhum. Foram coisas que eu escolhi para mim. E ser a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha olímpica em esporte individual… Eu fico muito feliz, porque não foi uma conquista só minha. Dos meus professores, amigos, família. E de toda uma geração de mulheres que não tiveram oportunidade”.
Impulso no judô feminino
Como Ketleyn destacou, várias gerações de judocas mulheres não tiveram oportunidades. Por muito tempo, a modalidade foi proibida para as mulheres brasileiras e só foi liberada, assim, em 1982. No ano seguinte, Soraia André já conquistou o bronze nos Jogos Pan-Americanos e em 1987, ela foi a primeira brasileira a ser campeã no Pan.
“O judô feminino foi uma conquista muito recente e de todas essas guerreiras. Porque a gente conseguiu mudar a forma de olhar o judô feminino. Começamos a ter mais investimento, viajar mais. E não poderia ser diferente do masculino, porque diferente de outros países, no Brasil a gente treina feminino e masculino juntos. Então a gente só precisava desse voto de confiança. Eu fico muito feliz em fazer parte dessa história e procuro sempre retribuir tudo o que o judô me proporcionou”, pontou Ketleyn.
E o voto de confiança veio. Porque depois de Ketleyn em Pequim-2008, Sarah Menezes e Rafaela Silva colocaram o Brasil no lugar mais alto do pódio olímpico. E Mayra Aguiar conquistou dois bronzes.
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Apoio da família
Nascida em Ceilândia, perto de Brasília, Ketleyn deu os primeiros passos em sua carreira no Sesi da cidade, um projeto para pessoas carentes. Ela, no entanto, começou na natação e conheceu o judô no caminho. E foi amor à primeira vista.
“As pessoas perguntam quem foi o meu primeiro amor e foi mesmo o judô. Acho que uma das coisas que eu tive como diferencial foi o apoio incondicional da minha família. Porque eu sempre tive o apoio dos meus amigos, dos meus professores, pessoas que sempre acreditaram no meu potencial, independente de a gente ter estrutura ou não. A gente dava nosso jeito”.
E, assim, na maior conquista de sua carreira até aqui em Pequim-2008, Ketleyn teve a companhia de ninguém menos que sua mãe. “Ter o privilégio de ter a minha mãe lá comigo… Ela que não podia nem me ver em Belo Horizonte (quando defendia o Minas), estar na China! Foi incrível”.
Rumo a Tóquio
Aos 33 anos, Ketleyn Quadros quer reviver a sensação de Pequim-2008. Ela ainda não está classificada para Tóquio-2020, mas mantém o sonho vivo. E mais. Mostra a importância de manter o sonho vivo, porque só não consegue quem não tenta.
“A sensação foi incrível. Quando eu desci do pódio já queria viver tudo aquilo de novo. Mas não podia, não dava mais! E não à toa esse sonho é tão vivo dentro de mim. Sempre que você der o seu máximo, é uma conquista. E só de chegar a uma Olimpíada… Porque só não tem chance de medalha quem está fora”.