“Não me arrependo de nada”. A voz é tímida, cheia de pequenas risadas intermitentes, mas firme como uma boa pegada na gola do kimono, sem perder a suavidade, Marcelo Fuzita é como a arte marcial que pratica, o judô. Paixão pelo que faz, dedicação e humildade de sobra para este judoca nascido no Brasil, criado no Japão e que defende as cores brasileiras pelos tatames ao redor do mundo.
Marcelo Fuzita tem vasto histórico na seleção brasileira, a concretização de um dos seus muitos sonhos. Porém não figura entre os principais nomes do judô nacional, pelo menos por agora. É apenas o 347º no ranking mundial da IJF na categoria até 66 kg. “Comecei com seis anos no Japão, cheguei aqui no Brasil com 18 anos e já entrando na seleção de base (sub 21), mesmo assim me colocavam em competições internacionais sênior, onde consegui evoluir bastante.”
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Só que um outro sonho acabou ficando distante e se perdeu na caminhada. “Consegui entrar na seleção brasileira, mas fiquei em segundo lugar na seletiva olímpica de 2017. Também acabei me lesionando e isso atrapalhou muito na minha trajetória.”
Golpe duro
Fora do tatame, mais um golpe duro, a morte do pai atingiu em cheio Marcelo Fuzita. “Meu pai era um cara que estava sempre me apoiando e então me abalou muito. Voltei para o Japão ajudar minha família e não consegui participar da última etapa seletiva. Tóquio 2020 era um sonho para mim, mas a família, naquele momento, precisava mais de mim. Minha família sempre está unida, um ajudando o outro. Na situação boa a gente comemora e na ruim a gente se une e supera. Admiro muito e tenho orgulho dessa minha família.”
Sem falar que o judoca teve que enfrentar um dilema que muitos atletas brasileiros passam. Dedicação total ao esporte ou dividir as atenções com os estudos. Marcelo Fuzita escolheu o curso de educação física, uma rotina maluca para seguir estudando, treinando e competindo.
“Às vezes acho que ter feito faculdade talvez tenha me prejudicado um pouco. Eu tinha que ir para faculdade, acordava cedo, estudava e fazia treino também, o dia inteiro fora. E o último treino era das 20h às 22h da noite. Até acabar o treino, me trocar e pegar o ônibus, já era quase meia noite. Minha aula começava 7h30, tinha que sair umas 6h de casa. Isso me prejudicou muito no meu descanso, acabei machucando um pouco mais.”
A rotina puxada certamente influenciou no desempenho do judoca, mas nada de lamentações. “Eu dei meu melhor até agora. Mas não me arrependo de nada. Porque hoje eu sou formado em educação física. Poderia ter trancado a faculdade, talvez, mas na época eu achei que foi minha melhor escolha e não me arrependo, não.”
Paris 2024?
Com a esperança renovada, Marcelo Fuzita já mira um novo sonho. Mesmo com o adiamento de Tóquio 2020, o ciclo olímpico já não lhe dá mais oportunidades, resta mirar o próximo. “Estou me esforçando para conseguir voltar a seleção e buscar a próxima Olimpíada da França, Paris 2024. Estou muito grato pelo clube Paineiras do Morumby a pela Ajinomoto que estão sempre me apoiando e me ajudando a ser um atleta melhor, dentro e fora do tatame.”
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Só que treinando, no começo de 2020, o judoca acabou lesionando o ombro esquerdo e teve que passar pela sua primeira cirurgia. “Alto rendimento é assim mesmo, mas foi minha primeira cirurgia. Eu estava treinando forte antes da quarentena, e no meio do treino, um amigo meu acabou me jogando errado e acabei deslocando meu ombro. Agora estou fazendo fisioterapia e me recuperando. Logo eu já estou de volta. Então nessa quarentena, eu estou treinando físico, fazendo fisio, tudo para melhorar o mais rápido possível.”
Mas não basta ser atleta, Marcelo Fuzita segue se virando. “Também dou aula de japonês e dava aula na academia do Tiago Camilo, mas infelizmente com toda essa crise do coronavírus, a academia tá fechada. Em breve, quando voltarmos, acalmando essa crise, a gente vai voltar a dar aula.”
Sim, a pandemia vai passar, e Fuzita seguirá em frente, dentro e fora dos tatames.