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Parapan 2019

O esporte é a esperança de Júnior França, ouro no halterofilismo

Quando criança, Júnior França andava plantando bananeira, mas o esporte mudou a vida dele: conheceu o halterofilismo aos 18 anos, se formou em direito e se tornou o medalhista de ouro nos Jogos Parapan-Americanos de Lima 2019 através da esperança

Daniel Zappe/CPB/MPIX

Foco! Essa foi a palavra que Júnior França usou para definir a conquista da medalha de ouro nos Jogos Parapan-Americanos, nessa quinta (29), mas a palavra da matéria é esperança. O atleta não reparou, mas foi a que ele mais usou durante a entrevista. O esporte transformou a vida dele. A criança que andava com os braços, plantando bananeira, que foi desacreditada e mostrou através do esporte que era possível. Aos 23 anos, Júnior França encontrou no halterofilismo a chance de mudar: se formou em direito e conquistou o primeiro lugar em Lima 2019. Além dele, Lucas dos Santos ficou com o bronze na mesma categoria -49kg, Bruno Pinheiro conquistou o ouro nos -50kg, Lara Ferreira ficou com a prata nos 41kg e 45kg e Rene Belcassia garantiu o bronze na categoria -55kg.

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Júnior França tem 23 anos, é natural de Natal e conseguiu o seu ouro logo na primeira edição que disputa dos Jogos Parapan-Americanos. Encontrou a sua modalidade depois de rodar outros esportes: “Eu nasci com artrogripose (doença que comprometeu o movimento de suas pernas) e várias pessoas falavam sobre o esporte, mas nunca me levavam até o local. Pra uma pessoa com deficiência para sair de casa é bastante complicado. Até porque eu venho de família humilde, minha mãe não conhecia o esporte. E eu fui conhecer o esporte aos 18 anos, através de um amigo, que também é halterofilista no Brasil. Diante mão entrei no basquete, depois o atletismo e me encontrei no halterofilismo. Porque depois da minha primeira competição, eu já consegui o índice para representar a seleção brasileira em uma competição no México. Foi muito rápido, muito precoce. E foi o momento que eu disse: eu me encontrei no esporte. Isso aqui pra mim não é só um esporte, não é lazer, isso aqui é vida, é esperança, é meta sendo batida. Eu me formei agora em direito, mas se for colocar na balança o que eu gosto mais de fazer seria competir, seria treinar, pra mim o esporte significa muito”, contou em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia.

O esporte não é tão conhecido em formato de competição paralímpica, até para explicar para as pessoas é difícil. Júnior França explica a diferença da competição olímpica e acaba simplificando para: ‘é levantamento de peso’. A identificação logo veio com o halterofilismo: “Meu técnico sempre me falou que eu tenho o biotipo correto pro movimento. Eu tenho pouco peso nas pernas e sou muito forte na parte superior. Desde criança, eu sempre fui forte, eu aos sete anos andava de cabeça pra baixo com as pernas pra cima, então eu era mais forte que as crianças da minha faixa etária de idade. Então, eu senti que essa modalidade é minha exatamente por isso. Porque eu tenho força e o esporte é de força. Então passou a ser não só o esporte e sim uma paixão.”

Vindo de família humilde, o esporte trouxe, além de esperanças, oportunidades para quem era visto como alguém que não precisaria fazer tantas coisas: “Mudou muita coisa. Muita coisa como pessoa, quanto cidadão, me deu esperança sobre a vida. Aquela criança que as pessoas diziam: ‘você não precisa trabalhar’, ‘você não precisa estudar’ e o esporte mudou muito. Através do esporte, eu fui orientado a fazer uma faculdade, terminei o meu curso aos 23 anos, sou bacharel em direito e para mim hoje é uma profissão, porque eu gosto de fazer isso. O esporte mudou muito a minha vida, porque me deu mais esperança. O esporte me deu a esperança de acreditar, lutar e persistir.”

Júnior França carrega uma nação

Foto: Giovana Pinheiro / OTD

Na conquista, dessa quinta (29), na categoria -49kg, nos Jogos Parapan-Americanos de Lima 2019, Júnior França levantou 135kg e, depois, 141kg. Acabou invalidando a tentativa dos 150kg. Terminou com a melhor tentativa 141kg, com direito a recorde da competição.

“Na prova nós começamos baixo, pra garantir o ouro. Em busca de uma segurança a mais. Começar garantindo a medalha. Depois fomos aumentando para melhorar no ranking paralímpico. Infelizmente, na terceira pedida eu não validei, mas estou muito feliz porque aqui conseguimos o objetivo, que foi garantir a nossa medalha de ouro. Ser o campeão das Américas, nós tínhamos isso como meta”, contou Júnior França.

Ele começou no esporte faz cinco anos, viaja pelo mundo e está aprendendo até a lidar com o nervosismo. “Pra você ter ideia, ontem que caiu a minha ficha que eu estava em um grande evento. Ultimamente, eu tenho ficado muito tranquilo em relação aos eventos internacionais, porque tenho participado de alguns. A adrenalina e a ansiedade vem bater bem em cima da competição. Vem tudo de uma vez só. Ontem, caiu a ficha que eu estou no segundo maior evento do mundo em jogos paralímpicos. Eu estou bastante feliz. Minha estreia nos jogos Parapan-Americanos e sair daqui com medalha de ouro é muito gratificante, porque o atleta busca cada dia mais a chegar no auge. Eu estou passando por ele, que é estar num grande evento como esse e trazer a medalha de ouro.”

Júnior França se formou em direito, mas a profissão atleta tem algo muito mais legal que qualquer outra:”Motivo de orgulho, sempre foi, carregar uma nação, eu costumo dizer que você pode ser médico, você pode ser juíz… Mas não se compara em carregar uma nação, representar uma nação em outros países e isso para mim é de grande valia. Um orgulho para mim estar carregando a bandeira. Chegar aqui e poder dar esse orgulho para o Brasil levando a medalha de ouro e ouvir o hino nacional é bastante emocionante,” confessou.

Resultados do dia do Brasil no Halterofilismo

🥇Júnior França -49kg

🥇Maria Luzineide -50kg

🥇Bruno Pinheiro -54kg

🥈Lara Ferreira 41kg e 45kg

🥉Lucas dos Santos -49kg

🥉Rene Belcassia -55kg

Jornalista formada pela Cásper Líbero. Apaixonada por esportes e boas histórias.

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