Lethícia Lacerda tem apenas 16 anos. É disparada a caçula entre os 28 atletas que vão representar o Brasil no tênis de mesa dos Jogos Parapan-Americanos. Com tão pouca idade, seria uma surpresa a presença dela em Lima. Só não é porque o esporte está no sangue da garota. Ela é filha de Jane Karla, bicampeã do tênis de mesa nos Jogos Parapan-americanos em 2007 e 2011, e medalha de ouro em Toronto 2015 no tiro com arco depois de ter trocado de modalidade.
“Eu tenho uma oportunidade muito boa por ter começado mais cedo. Ela me dá muita motivação, principalmente porque ela já participou disso e é uma coisa que ela gosta muito. Acho que esse amor acabou passando de mãe para filha e eu gosto muito de fazer o esporte. Ter ela como meu espelho me ajuda muito porque eu sei o que fazer. Eu tenho exatamente um espelho que mostra o que eu posso ou não fazer. É incrível ter alguém em quem me inspirar”, acredita a menina.
O começo de Lethícia Lacerda no esporte teve tudo a ver com a mãe. Desde pequena, ela companhava Jane Karla nas competições. “Pelo fato de eu estar sempre vendo ela participando de campeonatos, contando as experiências dela, acabou que deu uma luz no meu coração e deu uma vontade de participar disso também”, lembra. “Desde pequenininha ela já queria fazer o tênis de mesa. Então, quando ela já estava na altura da mesa, meu esposo começou a ensinar ela”, conta Jane.
Na época, Lethícia tinha sete anos e teve o padrasto, Joachin Gogel, ex-técnico da seleção alemã de tênis de mesa, como professor desde as primeiras raquetadas. Ela competiu na modalidade olímpica até os 12 anos, quando dores no quadril começaram a lhe atrapalhar.
“Eu desanimei muito e chegava a chorar no meu quarto, às vezes, sozinha mesmo porque era muito complicado para mim. Eu era muito nova e era uma coisa que eu não tinha sentido nunca. Começou do nada na minha adolescência e isso me afetou demais. Fique muito sentida, pensando que não podia mais fazer meu esporte por causa das dores. Eu fiquei realmente muito triste com isso”, se recorda Lethícia.
Até hoje não se sabe ao certo o que prova as dores e as limitações no quadril de Lethícia, que só voltou ao esporte graças ao movimento paralímpico. “Uma prima nossa acabou comentando de uma paralimpíada escolar, que teria em São Paulo, e eu acabei indo nesta competição e fiquei em primeiro lugar. Foi muito bom. Fiquei muito feliz. Eu vi que eu poderia fazer aquilo que eu tanto amo, mesmo sentindo dores e com um pouco menos mobilidade que eu tinha. Porém, continuo fazendo o que eu gosto”, sorri a atleta.
Como atleta paralímpica e uma das principais revelações do tênis de mesa brasileiro, Lethícia Lacerda chega a Lima. Na capital peruana, ela está pronta para dar o melhor de si, mas sabe que é só o começo porque a garota sonha alto.
“Meu maior sonho é ir numa Paralimpíada. Se desse para ir em Tóquio 2020, eu ficaria muito, muito feliz. Estou trabalhando muito para isso”, garante. “Eu também queria estar neste Parapan só que o tiro com arco não vai fazer parte da programação. Ia ser muito bacana eu e ela participando. Eu podendo estar lá junto com ela como uma mãe coruja. Agora, a torcida é para ela garantir essa vaga para a gente estar juntas em Tóquio”, espera Jane. “Tenho muita esperança que a gente vai estar junto algum dia. Vai ser muito legal. Quem sabe em Tóquio”, completa Lethícia.