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Pan 2019

Ele é albanês, viveu na Grécia e representará o Brasil em Lima

Refugiado de guerra, Serafim Veli conheceu a esposa em terras gregas antes de vir para o Brasil. Hoje, disputará os Jogos Pan-Americanos

(Foto: Wander Roberto/COB)

Boas histórias sempre atraem diversos jornalistas por aí. É inevitável. Aqui em Lima, isso não poderia ser diferente. Vários deles foram atrás de Serafim Veli, atleta do levantamento de peso e dono de uma das narrativas mais surpreendentes dos Jogos Pan-Americanos. Geralmente, por costume e método tradicional de escrita, os relatos são produzidos em ordem cronológica. Desta vez, talvez seja melhor apresentar o personagem antes de revelar como tudo começou. Nem todos o conhecem.

Serafim Veli é albanês naturalizado brasileiro, mas não pretende retornar ao país de origem. Veio para terras tupiniquins em 2015, quando começou a busca pela profissionalização. Agora, está enfrentando o frio da capital peruana e realizando treinamentos específicos às vésperas do torneio mais importante das Américas. Se pudesse, teria competido em casa, local que o cativa e lhe traz tranquilidade. O amor pelo Brasil é evidente. A adaptação foi praticamente instantânea. “Eu estou muito feliz por estar nos Jogos Pan-Americanos representando o Brasil, representando a Confederação Brasileira de Levantamento de Peso. Eu estou super feliz. Os resultados até agora são bons, a gente espera superar um pouco.”

Talvez tímido ou ainda inseguro com o idioma, ele mantém o sorriso no rosto apesar das poucas palavras em determinados momentos. O português falado é muito próximo do legítimo. Não o de Portugal, mas o do Brasil, onde Serafim deseja prosseguir sem qualquer previsão de volta. “O Brasil me trouxe tudo de bom. Eu estou aqui, não quero mudar. Eu amo o Brasil. Algo importante e que vale muito a pena. Falar português (era a maior dificuldade). Não sabia conversar com o pessoal. Aos poucos, eu consegui me adaptar.”

Medalhista de prata no Campeonato Pan-Americano do passado, Serafim Veli espera melhorar o retrospecto em Lima 2019. Ele também alcançou o recorde do país em uma edição do Mundial da modalidade. Os resultados expressivos garantiram uma vaga na Seleção Brasileira. “Antes de uma competição, eu sempre coloco um objetivo. Esses objetivos são o Mundial e subir um pouco no ranking, entrar entre os oito melhores. Agora, aqui (no Peru), o objetivo é a medalha. Eu treinei para a medalha. Só preciso fazer isso acontecer.”

Até aqui, a história pode não parecer muito contundente ou tão interessante. Em 1997, ano em que o autor deste texto nasceu, uma guerra civil dominava a Albânia. A crise econômica no país do sudeste europeu derrubou o governo e causou uma rebelião por uma grande parcela da população. Imigrantes albaneses partiram para Grécia e Itália, ajudando quem ficou para trás através de singelos recursos financeiros. O cenário de tiroteios e perigos intermináveis teria que acabar algum dia. A família de Serafim Veli encarou as adversidades e viveu a situação na pele.

O início da trajetória no território vizinho não foi dos melhores, claro. Viajou ao lado dos pais e das três irmãs. Lá, conheceu a futura companheira, agente de turismo à época, e descobriu o amor pelo levantamento de peso. Viver em solo grego não foi tão ruim assim, vai. Por influência da esposa, veio para o Brasil e passou por Londrina antes de parar em Santo André, cidade da Grande São Paulo. “Na Albânia, eu ainda tinha 11 anos, jogava bola ali na rua mesmo. Eu fui refugiado do meu país natal para a Grécia, algo que me marcou. Eu ainda era jovem, mas ficou na minha cabeça. Eu tinha que me adaptar em um novo país, aprender a respeitar. Eu tinha que engolir um pouco do bullying e do racismo que os caras têm com o povo albanês. Quando eu comecei no esporte, isso marcou a minha vida. Eu fiquei muito feliz de conhecer o esporte levantamento e as vitórias aos 13 anos, em 1999.”

“Desde a infância, eu entrei no esporte. A minha vida foi dentro do esporte, eu cresci dentro do esporte. Conheço o levantamento de peso muito bem. Eu vim para o Brasil sem saber o que iria fazer… Então, comecei novamente no esporte. Depois da aposentadoria, vou continuar de outra forma, como treinador, técnico e conselheiro. Vai ser sempre o esporte”, complementou.

A naturalização de Serafim Veli saiu em 2017, um ano após a Olimpíada do Rio de Janeiro. Todos os cidadãos precisam de um tempo mínimo de vivência para conseguirem a documentação necessária. Como não poderia ser diferente, defender as cores do Brasil no maior evento esportivo do planeta é o maior sonho do albanês-brasileiro. Entre idas e vindas, quais são principais lembranças desta jornada? “Quando eu conheci a minha esposa na Grécia, a minha vida no Brasil começou. Quando fui campeão brasileiro pela primeira vez, a primeira medalha que eu conquistei pelo Brasil, a vida do meu filho. Agora, se Deus quiser, uma medalha no Pan-Americano.”

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