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Ginástica Rítmica

Descobridora de campeãs: segredos de Monika Queiroz

Dona da Escola de Campeãs virou referência e revelou talentos como Natália Gaudio e Deborah Medrado, que falam sobre o sucesso da treinadora

Monika Queiroz, Natália Gáudio e Deborah Medrado
Natália Gaudio, Monika Queiroz e Deborah Medrado, da Escola de Campeãs (Instagram/Monikagrd)

“Quem não se apaixona por um grande talento?” E se tem alguém que entende de talento, esse alguém é Monika Queiroz. Há quase três décadas, a capixaba de 56 anos é referência na ginástica rítmica brasileira. Mais do que referência, no entanto, ela é uma descobridora de campeãs. E desde 2011, ela tem o seu próprio projeto para seguir na missão de revelar talentos: a Escola de Campeãs.

Com quatro unidades no Espírito Santo, a Escola de Campeãs faz jus ao nome. Nela, já foram revelados vários destaques da ginástica rítmica brasileira, como Natália Gaudio e Deborah Medrado. Pois então, qual é o segredo? Antes de contá-lo, no entanto, é preciso entender a longa trajetória de Monika Queiroz, que começou ainda nos anos 1980, e que a levou à Escola de Campeãs. 

Ponto de partida

“Não fui atleta. Sempre fui bailarina, dançarina de jazz. Mas depois fiz Educação Física na Universidade Federal do Espírito Santo, e lá conheci a ginástica rítmica. Me encantei e vi que eu poderia juntar aquilo com tudo que eu já conhecia da dança. E foi o que fiz. Fui adaptando a minha experiência da dança para o formato da ginástica rítmica”, contou Monika em entrevista ao Olimpíada Todo Dia. 

Logo de cara, ela foi estagiar com uma das treinadoras de maior renome da modalidade, Marzy Perim. Foi como assistente dela que Monika teve sua primeira experiência de técnica, nos Jogos Escolares. Mas isso não era suficiente para ela. 

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“Fiquei uns dois, três anos (como assistente da Marzy) e percebi que eu poderia fazer mais, que eu queria participar de Campeonatos Brasileiros, torneios maiores… E aí montei uma equipe que se chamava Dançarte, o nome da academia em que eu fazia dança. Já em 1991, fui para um campeonato em São Paulo com duas atletas, Fernanda Marquezi e Flávia Fernandes. E de 45 ginastas, a gente ficou em 20º. Já pensei: opa, sou boa nisso”. 

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No ano seguinte, no entanto, Monika decidiu que não queira treinar apenas as meninas mais velhas. Ela queria começar do início. “Queria as mais novas, até para eu já colocar o meu estilo, a minha escola de ginástica”. E deu certo.

“Fui para o Campeonato Brasileiro Infantil em 1992 e ficamos em nono lugar, de um total de 20 equipes. Depois dessa experiência, já pensei: beleza, ano que vem eu venho para ganhar. E fomos bronze. Desde então, até 2019, estive sempre no pódio”, contou orgulhosa. 

A Escola de Campeãs e da vida

Aos poucos, os clubes do Espírito Santo começaram a implantar a ginástica rítmica. Monika Queiroz passou por vários deles e deixou seu toque mágico, treinando alguns dos maiores nomes da modalidade, como Tayanne Mantovanelli, a primeira ginasta do Brasil a conquistar uma medalha individual nos Jogos Pan-Americanos (bronze em Santo Domingo-2003), além da seleção brasileira que foi ouro no Pan de 2007 e que foi a Pequim-2008. 

Chegou um momento, no entanto, em que Monika não queria mais trabalhar para um clube. Ela queria um projeto próprio, à sua cara e à maneira. “Queria ter a minha equipe, o meu clube. Foi aí que eu montei a Escola de Campeãs, em 2011, e coloquei o nome de um dos livros de ginástica rítmica mais famosos do mundo, que fala da história de uma grande treinadora búlgara, Neska Róbeva”.

“Ela conta a história dela paralelamente aos treinamentos, e aí eu pensei: eu não quero campeãs só nas medalhas, eu quero que minhas alunas sejam campeãs na vida. E uma escola para ser campeã é uma escola para vida. A base, a formação é o mais importante. Depois, se for consequência, vem as medalhas”, completou.

A Escola de Campeãs começou com três alunas: Eduarda Queiroz, a filha de Monika, Natália Gaudio e Camila Perdigão. Aos poucos, o número de alunas foi crescendo, crescendo e hoje, o projeto se mantém apenas com a mensalidade das aulas. 

“Eu sou uma pessoa muito trabalhadora, fui atrás, paguei muito aluguel do meu bolso. Por muito tempo, só paguei o salário dos professores, sem ficar com nada para mim, porque ser empresário no Brasil é assim mesmo. Mas eu acreditei. E hoje o clube é particular e vive das mensalidades”. 

A perda da filha

Antes da criação da Escola de Campeãs, no período em que Monika Queiroz treinava em outros clubes, uma pessoa especial entrou em sua vida: Natália Gaudio, um dos maiores nomes da ginástica rítmica atualmente. Mas em 2012, um acidente de carro mudou a vida delas. 

Natália, o namorado e Duda voltavam de uma casa noturna, quando ele perdeu o controle do veículo. Eles caíram em uma ribanceira, capotaram e bateram em uma árvore. Natália estava com cinto de segurança e sofreu apenas ferimentos leves. Mas Duda, aos 17 anos, no banco de trás e sem cinto, não resistiu.

O baque e a tristeza foram grandes. Mas felizmente, Monika tinha à Natália e Natália tinha à Monika. “Eu sempre digo que a Monika me fez muito mais forte depois da perda da Dudinha. Quando eu via o quão forte ela era, eu pensava: se ela perdeu uma filha e consegue ser forte e superar a dor por maior que seja, eu também preciso superar. E depois que isso aconteceu, a nossa relação só se fortaleceu, ficamos muito mais unidas. Eu sei que posso contar com ela para tudo e ela sabe que também pode contar comigo”, contou Natália Gaudio ao OTD. 

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“Aprendi com a Monika que a gente tem que superar as dificuldades, porque a vida continua. E porque temos que ser forte para orgulhar as pessoas que a gente perde. A gente sabe que a Duda está sempre do nosso lado, olhando por nós, iluminando o nosso caminho, e que ela está muito feliz por nós”, completou.

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Duda Queiroz, filha de Monika e melhor amiga de Natália Gaudio (Instagram/Monikagrd)

“Superar a gente não supera nunca. Nada vai substituir a minha filha. Mas eu coloquei como meta da minha vida ser feliz. Eu não quero ser infeliz, não mereço isso. E eu sei que, onde ela estiver agora, ela está iluminando os nossos caminhos”.

As pupilas

A veia batalhadora de Monika Queiroz não deixou que ela desistisse em momento algum. E fez ainda com que ela, depois de quase 30 anos, descobrisse várias campeãs, além de comandar a seleção. Mas então, qual é o segredo desse sucesso? Como descobrir tantos talentos?

Antes de a própria Monika revelar, nada melhor do que ouvir quem conhece ela de perto. “Eu acho a Monika uma treinadora muito inteligente e estratégica em tudo o que faz. Ela aproveita tudo que a ginasta tem de melhor, e o que não tem, ela ensina. E do que ela me ensinou, eu levo muito comigo a qualidade. Você tem de fazer os movimentos com qualidade e não quantidade. Não precisa ficar repetindo muitas vezes, você tem de treinar com a cabeça. E eu levo isso comigo nos treinamentos e na vida também”, elogiou Deborah Medrado, capitã da seleção de conjunto e que entrou na Escola de Campeãs em 2016.

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“A Monika é muito estudiosa, muito determinada, focada. Acho que isso fez com que ela tivesse tanto sucesso. Ela estuda muito e consegue pôr isso em prática, pensando sempre na melhor maneira que a atleta pode conseguir executar o movimento. Tem gente que nasce com o dom de ensinar, de fazer campeões. E ela nasceu com esse dom”, completou.

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Monika e a pupila Deborah (Instagram/escola_de_campeas)

E quem concorda é a própria Natália Gaudio, medalha de bronze no Pan de Lima-2019 e que já está com a Monika há 20 anos. “A Monika tem algo muito especial, porque ela sabe trabalhar a individualidade de cada pessoa. Ela não trata todas da mesma forma, porque ela entende que cada atleta tem a suas individualidades e sabe potencializar exatamente isso. E ela tem um olhar muito especial, sabe quando uma menina tem futuro. Ela vê isso desde pequena, como viu em mim”.

Enfim, os segredos

“Eu digo que são três segredos: feeling, ciência e boa vontade. Precisa ter boa vontade. Porque às vezes você olha para uma pessoa e não dá nada por ela. Mas se você acreditar e ficar com ela por um tempo, pode descobrir um novo talento. E a gente pode chegar a uma montanha de pedras e achar que são apenas pedras comuns. Mas se você olhar com cuidado, vai ver que tem um diamante escondido ali. Essa é a missão de um treinador”, explica Monika. 

Hoje, a capixaba pode dizer que a missão foi cumprida e se depender dela, continuará assim por um bom tempo. “Hoje me considero uma profissional super realizada, vejo que era isso mesmo que eu queria. Desde o primeiro dia na faculdade, que eu conheci a ginástica rítmica, eu já sabia que aquilo era minha vida. Claro que tiveram altos e baixos, mas a vida é uma roda viva… Um dia eu estou em cima, no outro estou embaixo. Nada nem ninguém são para sempre”. 

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Monika, Natália e a relação vitoriosa e de mãe e filha (Instagram/Monikagrd)

E nove anos depois da criação da Escola de Campeãs, Monika Queiroz tem um sonho: a medalha olímpica. Mas faz questão de ressaltar que isso é consequência de um trabalho de formação, que revela campeãs para a vida. 

“Parece ser um sonho (a medalha olímpica), mas não é. Hoje, a gente tem metas concretas para alcançar isso. Mas a ginástica rítmica para mim é uma paixão. Então a gente acaba se apaixonando por essas crianças também. Quem não se apaixona por um grande talento?” 

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