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Em solidariedade à Emily, Cristiane se aposenta da Seleção

divulgação

Em solidariedade à Emily Lima, demitida depois de apenas dez meses de trabalho, a atacante Cristiane anunciou nesta quarta-feira sua aposentadoria da Seleção Brasileira

A demissão da técnica Emily Lima, a primeira mulher a comandar a Seleção Brasileira de futebol feminino, depois de apenas dez meses de trabalho continua dando o que falar. Nesta quarta-feira, a atacante Cristiane, de 32 anos, dona de duas medalhas olímpicas de prata ganhas em 2004 e 2008, postou uma sequência de vídeos em sua conta no instagram, anunciando sua aposentadoria da Seleção em solidariedade à treinadora. A jogadora, que é a maior artilheira da história dos Jogos Olímpicos, fez duras críticas à CBF e à forma com que a modalidade é tratada pela entidade.

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“Foi a decisão mais difícil que tomei na minha vida profissional. Pensei nisso em todos esses dias diante das cobranças das pessoas por uma posição das atletas. Falei com minha família e com meus amigos. Recebi vários pedidos para que eu repensasse, mas eu não vejo outra alternativa. Não tenho mais forças para aguentar. Aguentei por 17 anos, mas não aguento mais. Hoje se encerra meu ciclo na Seleção Brasileira. Muito triste por saber que não vou jogar meu último Pan-Americano, minha última Copa América, minha última Olimpíada e minha última Copa do Mundo. É muito difícil para mim porque era meu sonho. Era o que eu sempre quis e sempre sonhei colocar uma medalha de ouro no peito e levantar o troféu de campeão mundial”, lamentou Cristiane, que explicou os motivos pelos quais ela queria que Emily Lima permanecesse como técnica da Seleção Brasileira.

“Foi bem difícil apra mim quando essa comissão foi mandada embora. Ano passado eu tinha me chateado bastante depois da Olimpíada por causa da minha lesão e eu tinha meio que perdido a vontade de voltar à Seleção e essa comissão me mostrou algumas coisas diferentes. A Emily pediu para mim e eu retornei. Mas veio o balde de água fria porque simplesmente tiraram a comissão em pouquíssimo tempo. Todas as atletas estavam gostando do trabalho e ficamos sem entender porque todas as comissões que passaram tiveram tempo grande de trabalho, fizeram o ciclo todo e essa não teve sequer a oportunidade. Por que era mulher? Brigava demais? E não só porque era mulher porque era mulher e brigava demais. Porque brigava além da conta não só por coisas de dentro de campo, mas também extra-campo. Então são coisas que a gente não entende. todo mundo teve sua oportunidade de trabalho. Por que essa não? Do mesmo jeito que foi com a comissão do Renê Simões em 2004. Ele teve de cinco a seis meses de trabalho, conseguiu uma medalha e foi mandado embora. Por que? Porque ele brigava. São porques que a gente não vai ter resposta e eu já não sei se eu quero saber a resposta”, lamentou Cristiane, que fez questão de dizer que o fato do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, não ter dado bola à carta feita pelas jogadoras pedindo a manutenção de Emily Lima foi a gota d´água para que ela resolvesse se aposentar da Seleção.

“É por conta de detalhes que eu não tenho mais força, que às vezes são mínimos, mas que fazem a diferença. São coisas pequenas que mudariam um pouco. De 26 jogadoras, 24 assinaram esse pedido e ele não foi ouvido. Quantas vezes vão acontecer vários pedidos e ninguém vai escutar. Toda vez foi assim de pedir e ninguém escutar. Então eu cansei de pedir”, lamentou. “Por favor, senhor presidente (Marco Polo Del Nero), escute as meninas. Quando várias atletas mandarem uma carta com um pedido é porque esse pedido é imporatnte e estava fazendo a diferença”, reclamou Cristiane, sem esquecer de mostrar a falta de suporte dado pela CBF à Seleção feminina.

“É muito fácil bater no peito e ir na televisão dizer que dá todo suporte que a gente precisa sendo que tem muita coisa errada. Por favor, melhore essa diária de 250 reais que as meninas recebem. Estamos há anos recebendo a mesma diária. Explique direito como funciona o direito de imagem, se é que existe direito de imagem porque ninguém nunca sabe. Ano passado servimos a Seleção Brasileira o ano todo, disputamos uma Olimpíada que o mundo inteiro assistiu e eu recebi 2500, 2700 reais, outras meninas a mesma coisa. Mas caiu valor diferente pra cada uma. Por que isso? Por que não colocam nossas camisas à venda? E eu cansei de ouvir de diretor que nós só sobrevivemos por causa do dinheiro do masculino. Por que não se cria um plano para que possamos depender de nós mesmas? Se tem pessoas que não tem vontade de trabalhar para que isso aconteça, tem um monte de gente com vontade de fazer isso, inclusive ex-atletas. Para que serve o curso de treinadores que é cedido para as ex-atletas se a gente não vai poder trabalhar ou não vai ter tempo para trabalhar? É futebol feminino e quase não tem mulher”, desabafou a atacante, insistindo para que a CBF dê mais atenção aos pedidos das atletas.

” Faça o senhor (Marco Polo Del Nero) uma reunião com as atletas. O senhor e só as atletas. Ouça o que elas têm a dizer. Nós temos tantas ideias boas e positivas para que a modalidade possa andar e crescer mais ainda. Eu não tive mais voz aí dentro porque todas as vezes que eu pedi ou eu era chamada de chata ou era a que falava de mais. Eu fiquei na berlinda de me tirarem daí várias vezes. Então eu já estou saindo antes. Não vão ter mais com o que se preocupar. Eu tentei de coração várias vezes, mas eu não tenho mais forças”, voltou a dizer sem esc0nder a emoção.

Apesar de anunciar sua saída da Seleção Brasileira, Cristiane incitou as jogadoras que vão continuar a brigando por melhores condições de trabalho. “Meninas, sejam fortes e unidas. Briguem por coisas que não vão mudar a vida de vocês hoje, mas vão mudar a vida de meninas no futuro, que sonham em estar aí dentro. Briguem! Se vocês tiverem no grupo meninas que não querem brigar, coloquem elas de lado e briguem vocês porque o grupo é maior do que uma, duas, três ou quatro. As outas seleçoes estão conseguindo isso porque as meninas estão brigando juntas e vocês precisam fazer isso. Eu não tive mais força para fazer isso com vocês. Queria ter tido mais. Queria poder encerrar meu ciclo aí dentro e ter feito muito mais do que eu fiz, muito mais do que eu contribuí durante todos esses anos, mas eu não consigo mais”, disse com a voz trêmula e lágrimas nos olhos.

Para encerrar, Cristiane fez questão de dizer que sua aposentadoria da Seleção Brasileira foi uma decisão tomada em solidariedade à Emily Lima, mas fez questão de dizer que nada teve a ver com o retorno de Vadão ao comando da equipe. “Minha decisão não é por causa da comissão do Vadão de maneira nenhuma. Eu conversei com ele antes disso. Ele pediu para que eu ficasse e conversou bastante comigo, me falou da minha importância para o grupo. Eu agradeci demais porque ele é uma pessoa incrível, ele é um ser humano incrível. E com todo o respeirto à comissão técnica do Vadão, eles tiveram a chance deles e a da Emily não teve”, lamentou novamente.

Fundador e diretor de conteúdo do Olimpíada Todo Dia

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