Treinar ou não treinar? Ficar em casa ou ir à academia? Manter contato com pessoas ou não? Eis as questões. O mundo hoje enfrenta uma das maiores competições da história e tem pela frente um adversário de peso. O coronavírus avança a cada dia ao redor do planeta e já causa danos em todas as áreas: a da saúde, é claro, a econômica, a política e também a esportiva.
Há cerca de um mês, as primeiras competições começaram a ser adiadas, suspensas ou canceladas. E de lá para cá, o calendário internacional e nacional esportivo foi praticamente extinto. Tal medida já afetava os principais envolvidos, os atletas, mas o cenário se agravou.
A pandemia chegou de vez ao Brasil e com isso, medidas precisaram ser tomadas. A principal delas, o isolamento social. E como ficam, portanto, os atletas no país? As redes sociais passaram a ser inundadas de vídeos e depoimentos vindos de todo o mundo mostrando novas rotinas e estratégias de treino. Afinal de contas, o show não pode parar. Mas fica a pergunta: como minimizar os prejuízos em um momento delicado como este?
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Mais do que nunca, uma equipe multidisciplinar pode – e deve – fazer a diferença. O trabalho conjunto entre atletas, treinadores, fisioterapeutas, psicólogos e outros é fundamental para que a preparação física, técnica e mental seja mantida.
A união faz a força
Em um cenário de tantas incertezas e variáveis, não se tem uma única receita do que fazer. Cada confederação, clube, atleta vem tomando as melhores decisões possíveis para si, seguindo as orientações dadas pelo governo e pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) de prevenção e contenção ao coronavírus.
O Comitê Paralímpico do país (CPB), por exemplo, suspendeu todas as atividade no Centro de Treinamento em São Paulo. Com isso, segundo o fisioterapeuta da entidade, Everton Araújo, foram passados trabalhos preventivos aos atletas e a orientação é que eles fiquem em casa, controlem a dieta devido à diminuição dos gastos calóricos, e mantenham o pensamento positivo.
+Expectativa x realidade: o treino dos atletas confinados
“Tudo depende do tempo. Orientamos todos eles a se manterem o máximo possível em forma, porque não sabemos se vai ou não haver os Jogos na data prevista. Se houver, estaremos preparados. Se não houver, nos prepararemos novamente”, pontuou Araújo.
O mesmo procedimento foi adotado pelo Esporte Clube Pinheiros. Os treinos da equipe de ginástica artística, que conta com atletas como Arthur Nory e Chico Barreto, foram suspensos. De acordo com o treinador da equipe, Cristiano Albino, as séries de exercícios são passadas através do Whatsapp para que os atletas realizem-as em suas respectivas residências.
“Estamos buscando soluções e estratégias para minimizar o impacto. Temos alguns protocolos e vamos seguir com o que for possível fazer em casa. Passamos treinos para serem feitos duas vezes ao dia e seguimos com o trabalho de preparação física específica, geral, prevenção, mobilidades, fisioterapia, aeróbico, além da preparação mental e médica. Dessa forma, acredito que não haverá perda da parte física e força muscular. O pensamento é que devemos perder o mínimo possível e ter muita disciplina e paciência neste momento crítico que o mundo está vivendo. Todos precisam colaborar para normalizar a situação o mais rápido possível”, relatou Albino ao Olimpíada Todo Dia.
Confira um vídeo de Nory e Cristiano treinando antes da suspensão dos treinos no clube:
Força mental
Além da parte física, porém, existe também a questão psicológica. Como se manter focado e motivado em tempos como esse de coronavírus e ainda controlar a ansiedade? A situação seria complicada em qualquer momento, mas ela se agrava ainda mais por ser às vésperas dos Jogos Olímpicos, que seguem mantidos na data prevista por enquanto.
“O atleta precisa estar ativo. Precisa fazer aquilo que ama, da adrenalina. Então não poder treinar, não poder competir é muito desgastante. Mas a incerteza com relação aos Jogos é o mais difícil, causa ansiedade, expectativa e um mal-estar. Por isso é preciso ir um dia de cada vez. A recomendação é que eles se comportem todos os dias como se fosse ter Olimpíada, como se eles fossem competir e que eles estejam prontos sempre. Tem coisa que a gente controla e tem coisa que a gente não controla. A gente não controla o vírus, o governo, o COI… O que a gente controla é o que a gente pode fazer a respeito disso. Então é um dia de cada vez e fazer cada um a sua parte. Há ferramentas e exercícios para manter a mente ocupada e motivada, forte e blindada”, destacou a coach esportiva, Nell Salgado.
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É possível, porém, tentar enxergar um lado positivo em meio a tudo isso que o coronavírus vem causando. É o que aponta Adriana Lacerda, psicóloga do esporte e presidente da ASSOPERJ (Associação de Psicólogos do Esporte do Rio de Janeiro).
“Tudo que é desconhecido causa um certo desconforto, tira a gente de uma sensação de previsibilidade, de controle, que é inerente ao ser humano. Mas o que eu tenho visto são os atletas acatando mesmo as decisões e orientações. As comissões técnicas, clubes, e os próprios atletas estão buscando alternativas para não perder a rotina, o treino. E com isso, estão tendo que se reinventar de alguma forma”, concluiu.