Maior nome do boxe brasileiro na atualidade, Bia Ferreira vai para o grande desafio de sua vida neste final de semana. A atleta estreia domingo (06), no Mundial da modalidade feminina de 2019 e começa sua trajetória atrás da única medalha que perdeu neste ciclo de Tóquio 2020. A boxeadora conversou com o Olimpíada Todo Dia de forma exclusiva e disse o que espera do torneio.
Em 2018, na segunda rodada da competição, Bia Ferreira enfrentou a sul-coreana Oh Yeon-Ji, adversária que já havia vencido por decisão unânime, e no Mundial acabou derrotada por 3 a 2. Com o resultado, a brasileira foi eliminada da competição e deu adeus ao sonho da medalha.
“A pior coisa que tem é decepção. Naquele momento (da derrota no Mundial), eu me decepcionei comigo mesma. Mas penso que tudo de ruim que já aconteceu na minha vida é para que eu tire uma lição e para que eu amadureça. Aquele momento ruim serviu para que percebesse que é preciso ter confiança, ter experiência, mas nunca deixar transbordar, nunca pensar que é a melhor de todas. Dessa vez eu vou para fazer diferente, para buscar o medalha que eu perdi”, confessou Bia Ferreira visivelmente emocionada.
Aos 27 anos, a baiana tem um retrospecto quase perfeito nos últimos anos. Desde o começo de 2017, a boxeadora participou de 24 competições e chegou ao pódio em 23 oportunidades. Neste período, de acordo com a contagem da Confederação Brasileira de Boxe, Bia Ferreira possui somente cinco derrotas. Apesar do bom momento que vive no ciclo olímpico de Tóquio, a atleta assume que teve que fazer uma mudança.
“Teve uma época que eu só era a atleta. Hoje, eu sei separar a boxeadora, da pessoa e acho que isso é amadurecimento. Eu vou subir no ringue e me divertir lá na Rússia. Ano passado (no Mundial), eu só fui a atleta e quando eu me divirto lutando é quando eu consigo os resultados”, ressalta.
Apesar de todas as conquistas que teve nos últimos anos, Beatriz Ferreira vai aos treinos todos os dias e sobe nos ringues ao redor do mundo por outro motivo: “É o orgulho que meus pais sentem de mim, que me faz seguir. Eu não desisti graças a minha perseverança para superar todos os obstáculos que existiram até aqui e que ainda vão vir. Eu corro atrás do meu sonho e estou realizando ele aos poucos”.
A importância da família
Se agora, no auge de sua carreira no boxe, Bia Ferreira luta pelos pais é porque eles foram essenciais no momento mais difícil de sua vida. Aos 21 anos, a boxeadora foi proibida de lutar. Em 2014, a Federação Internacional de Boxe divulgou uma regra que impedia os atletas de lutarem outra arte marcial que não fosse o boxe.
Para poder se manter financeiramente, Beatriz Ferreira já havia feito algumas lutas de muay thai. Quando a atleta estava prestes a disputar o Brasileiro de boxe o mundo veio a baixo. Momentos antes de entrar no ringue, uma das oponentes entrou com um recurso pedindo a exclusão de Bia por conta dessa regra. Como havia infringido a norma, Beatriz foi excluída e, posteriormente, suspensa por dois anos.
Longe do que mais ama, Bia assume que ficou perdida nesse tempo. Sem saber o que faria. Dentre as pessoas da família que estiveram por perto, uma foi especial. Se Bia Ferreira subiu no ringue pela primeira vez, aos 15 anos, a “culpa” é de Raimundo Ferreira. Seu Sergipe, como é conhecido, é muito mais do que o pai da atleta.
“Ele é tudo para mim. Ele me ensinou a amar esse esporte. Se ele não estivesse presente (em todos os momentos), eu acho que eu não teria o sentimento pelo boxe que eu tenho. Eu não seria a atleta e a pessoa que eu sou hoje”, disse.
Apesar de competir o primeiro ciclo olímpico da carreira, Bia Ferreira sabe o tamanho da expectativa que as pessoas colocam nela. Mesmo assim, a boxeadora não perde o sorriso e o jeito brincalhão. Bia tem na resposta sobre a relação com o boxe a explicação para levar tudo de forma leve no dia a dia, superando os obstáculos que aparecem no caminho.
“Eu sou um ser humano apaixonado pelo boxe. Adoro boxe. Eu sou movida pelo esporte e tenho o sonho de conquistar uma medalha olímpica. Me apaixonei pela modalidade por causa do meu pai, sou muito feliz em poder trabalhar com o que eu mais amo e estou ajudando a escrever a história do boxe feminino do Brasil”, finaliza.