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Basquete

Atletas param a NBA pelo fim da violência policial contra negros

Movimento iniciado pelos jogadores dos Bucks suspende jogos após mais um caso de brutalidade contra uma pessoa negra, desta vez em cidade do Wisconsin

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Atletas ajoelhados em protesto contra a violência policial (twitter/BleacherReport)

A rodada da NBA desta quarta-feira (26) vai entrar para a história. Mas não por causa de mais um triplo-duplo de LeBron James ou uma pontuação monumental de James Harden. Pelo contrário, não haverá um ponto sequer, uma cesta. É justamente por isso que ela nunca mais será esquecida. É um dia de boicote.

Tudo começou quando os jogadores do Milwaukee Bucks decidiram não disputar o jogo desta noite em protesto a mais um caso de violência policial contra uma pessoa negra nos Estados Unidos. Os atletas se negaram a entrar em quadra contra Orlando Magic pelo quinto jogo da série entre ambos pela primeira rodada playoffs da liga. Os rivais do Magic mostraram que são adversários só em quadra e minutos antes do horário de início da partida retiraram-se para os vestiários e também recusaram o duelo.

Após o protesto da primeira partida da noite, as outras equipes decidiram apoiar a decisão dos Bucks e também não entram em quadra. Minutos mais tarde a NBA confirmou o adiamento dos três confrontos do dia, sem nova data. Além de Bucks e Magic, jogariam Houston Rockets contra Oklahoma City Thunder e Los Angeles Lakers versus Portland Trail Blazers.

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Quadra vazia pouco antes do jogo que entrou pra história por não ter acontecido (divulgação/NBA)

Milwaukee, Wisconsin

A cidade de Milwaukee fica no estado do Wisconsin, palco da violência contra Jacob Blake, mas na cidade de Kenosha. Segundo o noticiário dos Estados Unidos, Jacob, negro, tentava apartar uma briga entre duas mulheres quando policiais chegaram.

Um vídeo mostra Jacob caminhando em volta de seu carro com dois policiais atrás, um deles apontando uma arma. Assim que a vítima abre a porta do carro, sete disparos pelas costas são efetuados contra Blake diante dos filhos dele, de três, cinco e oito anos, que estavam dentro do veículo (assista abaixo, mas atenção, as cenas são fortes).

Blake, sempre de acordo com a imprensa dos Estados Unidos, foi levado para o hospital e passou por uma cirurgia. As balas atigiram a coluna vertebral causando sérios danos.

Doc Rivers, LeBron e cia

O caso reacendeu a revolta na bolha da NBA, já marcada pela onda do Black Lives Matter, ou Vidas Negras Importam, gerada pela violência policial contra outras vítimas negras: George Floyd, morto após ação policial na cidade de Minneapolis meses antes, e Breonna Taylor, morta em casa por policiais em Louisville.

+ ‘Levante a bola delas’: atletas e LBF se unem por mais apoio

Nos jogos da bolha, a frase Black Lives Matter está pintada nas quadras que recebem as partidas e também nas costas dos uniformes dos times, que recebem outras frases de protesto.

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(twitter/BleacherReport)

Além disso, os atletas ajoelham-se durante a execução do hino nacional antes das partidas, gesto de protesto imortalizado anos antes pelo jogador de futebol americano negro Colin Kaepernick, durante a execução do hino nas partidas do San Francisco 49ers, pela NFL.

Na noite de segunda (26), Doc Rivers, técnico do Los Angeles Clippers, deu uma entrevista marcante. “Somos nós que estamos sendo mortos, somos nós que estamos sendo baleados, nós que estamos sendo impedidos de viver em certas comunidades. Estamos sendo enforcados, alvejados”, disse, visivelmente emocionado e com a voz embargada.

“É incrível, porque a gente continua amando esse país, e esse país não nos ama de volta. Isso é tão triste. Eu deveria ser apenas um treinador, mas frequentemente sou lembrado da minha cor. É tão triste”, acrescentou. “A gente protesta e eles mandam tropas de choque. Mandam pessoas fardadas. Esse treinamento tem de mudar na força policial. Meu pai era um policial, eu acredito em bons policiais”, continuou. “Estamos tentando fazer com que eles nos protejam da mesma forma que eles protegem todos os outros”.

“É tão duro apenas ficar assistindo a aquele vídeo. Não precisa ser negro para ficar indignado”, seguiu Rivers. “Que pai branco tem de falar com seu filho para ter cuidado quando for parado pela polícia? É tão ridículo, e não tem mudança, não tem acusações. Breonna Taylor, sem acusações, nada! Tudo o que estamos pedindo é que se viva de acordo com uma constituição. Obrigado”, completou.

Além de Rivers, LeBron James, maior nome da NBA, também foi às redes sociais em protesto. “Dane-se isso, cara!!! Nós exigimos mudança. Cansado disso”, disse o atleta do Los Angeles Lakers, um dos mais eloquentes durante toda a onda de protestos, desde os tempos de Kaepernick.

Outras personalidades do basquete também se pronunciaram, como Bam Adebayo, Donovan Mitchell, Paul Gasol e DeMar DeRozan. Diversos times em contas oficiais nas redes sociais apoiaram o boicote.

https://twitter.com/spidadmitchell/status/1298715363203403778
https://twitter.com/paugasol/status/1298722316830957569

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WNBA

A rodada da WNBA também foi cancelada. Não havia clima para seguir. Como esperado, as jogadoras se solidarizaram com o movimento dos homens na NBA e decidiram boicotar as partidas.

As Washington Mystics foram para a quadra com camisetas brancas, cor da camiseta de Blake usava quando foi alvejado, com sete furos das costas. Na frente, cada uma com uma letra do nome da vítima.

Pouco antes, Ariel Atkins, atleta da equipe, manifestou-se sobre o ocorrido. “As jogadoras da WNBA estão tentando achar sua voz dentro da justiça social. Está em tudo o que a gente faz, já que a nossa liga é composta por praticamente 80% de mulheres negras. Nós sabemos da força que vem com nossa voz e queremos encorajar todos a erguerem-se e serem ouvidos”.

Na MLB, a liga de beisebol dos Estados Unidos, os atletas do Milwaukee Brewers, segundo Bob Nightengale, jornalista especializado da liga do “USA Today”, não iriam a campo na partida desta noite, em casa, contra o Cincinnati Reds. O jogo, de fato, foi adiado.

As partidas entre Seattle Mariners e San Diego Padres, e Los Angeles Dodgers contra o San Francisco Giants também não serão realizadas.

Tênis

Naomi Osaka anunciou que não vai jogar a semifinal de Cincinnati em protesto contra a injustiça racial e violência. A partida estava marcada para esta quinta-feira (27).

“Antes de ser uma atleta, eu sou uma mulher negra e sinto que há coisas mais importantes e que precisam de uma atenção mais imediata nesta altura do que jogar tênis”, escreveu em sua rede social.

https://www.instagram.com/p/CEX5X-WJH3j/

MLS

A principal liga de futebol dos Estados Unidos também não terá seus jogos realizados. Os jogadores decidiram apoiar os protestos e se recusaram a entrar em campo. Cinco partidas marcadas para esta quarta-feira (26) foram cancelados.

NHL

A principal liga de hóquei sobre o gelo do mundo, que conta com equipes dos Estados Unidos e do Canadá, foi a única que não teve nenhum boicote por parte de seus jogadores.

Matt Dumba, defensor do Minnesota Wild, mostrou toda sua insatisfação com a liga e com os jogadores. “A NHL é sempre a última a se manifestar sobre esses assuntos. Isto é muito triste e desanimador para mim e para os membros da Aliança pela Diversidade no Hockey, e com certeza para outros caras da liga.”

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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