A diferença no tratamento entre homens e mulheres não está fora do mundo esportivo. Recentemente, a experiente pivô Erika da seleção brasileira feminina de basquete falou sobre essa discrepância entre atletas do masculino e feminino em entrevista ao “Estadão”. Por conta disso, o Olimpíada Todo Dia conferiu os números que comprovam a diferença entre os gêneros, aprofundando o tema levantado por Erika em uma série de matérias sobre o basquete feminino no Brasil e no mundo.
+ A escancarada diferença no patrocínio de homens e mulheres
Diferença com os atletas da seleção brasileira
Um dos pontos citados por Erika em sua entrevista ao “Estadão” é a falta de apoio das marcas para o basquete feminino.
Para criar um parâmetro entre a seleção masculina e feminina e tentar entender a situação descrita pela pivô Erika, a reportagem decidiu fazer um comparativo entre os atletas. Para isso, foi levado em consideração a seleção brasileira de basquete que defendeu o país na última competição oficial de cada gênero.
No masculino, o último torneio oficial da seleção brasileira foi a Copa do Mundo, disputada na China em 2019. Dos 12 jogadores que disputaram o torneio, 10 possuíam contrato de patrocínio ou parceria com alguma fornecedora de material esportivo.
Entre as mulheres, a última competição oficial foi o Pré-Olímpico Mundial de 2020, que a seleção brasileira disputou na França. Diferentemente do que acontece entre os homens, entre as 12 atletas convocadas para o torneio, apenas Damiris tinha contrato de parceria ou patrocínio com alguma marca de material esportivo.
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É resultado que vocês querem?
Um dos mais importantes esportes do programa olímpico, o basquete possuí duas grandes competições de seleções em seu radar: o Campeonato Mundial (ou Copa do Mundo, como é chamado no masculino) e os Jogos Olímpicos. Se analisarmos os resultados do Brasil no masculino e feminino nas últimas três décadas, as mulheres têm mostrado melhor desempenho.
Em 1994, a seleção brasileira feminina de basquete fez história ao conquistar o título do Mundial disputado na Austrália. Dois anos depois, a equipe voltou a brilhar, com a medalha de prata na Olimpíada de Atlanta-1996. Quatro anos mais tarde, em Sydney-2000, voltaram para casa com o bronze.
Um pouco mais tarde, em 2011, a seleção brasileira formada por nomes como Damiris, Tássia e Isabela Ramona conquistou a medalha de bronze no Campeonato Mundial Sub-19, no Chile.
Neste mesmo período, a seleção brasileira masculina de basquete, seja adulta, sub-19 ou sub-17, não conseguiu subir ao pódio em nenhuma edição de Campeonato Mundial ou Jogos Olímpicos. Ou seja, nos últimos 26 anos o basquete do Brasil só conquistou medalhas nas grandes competições do mundo com as mulheres.
Palavra das atletas
Em entrevista exclusiva para o Olimpíada Todo Dia, Erika voltou a falar o que pensa sobre a relação das marcas com o basquete feminino. “Para falar a verdade, as marcas de material esportivo não olham para o basquete feminino. Eu acho que eles deviam olhar para a gente com um pouco mais de carinho, merecemos um pouco mais de carinho e igualdade. Queremos todos os direitos que o masculino”.
Minha indignação fica bem retratada nessa foto abaixo das redes sociais de vários jogadores de basquete que são apoiados e alguns também patrocinados. Por que isso não acontece com o feminino também? pic.twitter.com/KqmWkFWwVB
— Erika de Souza (@erikasouza14) June 21, 2020
Presente na seleção brasileira desde 2017 e destaque nas últimas edições da LBF (Liga de Basquete Feminino), Raphaella Monteiro também foi direta ao comentar sobre o assunto. “Eu não tenho patrocínio. Sei que o cenário está mudando, em comparação ao que era feito antigamente, com a CBB fazendo tudo que pode pelo feminino. Mas as 12 que estão na seleção não terem patrocínio é errado. Entendo não patrocinar todas, mas nenhuma? Ajuda seis meninas, quatro, mas ajuda. Não queremos nada além de igualdade. Não espere a gente falar que está tudo bem, que está tudo certo, porque não é certo e não está tudo bem isso que acontece”.
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Vale lembrar que, por conta do parceiro de material esportivo da seleção brasileira ser a Nike, normalmente, quando as equipes se reúnem para representar o país em competições oficiais, os atletas recebem alguns materiais.
Posição da marca
Parceira da CBB (Confederação Brasileira de Basquete) e do NBB (Novo Basquete Brasil) há alguns anos, a Nike tem seu nome e sua marca ligada a modalidade. Questionada pela reportagem do OTD sobre a questão reclamada pela pivô Erika, a fornecedora de material esportivo respondeu por meio de nota oficial, admitindo o cenário e ressaltando as iniciativas que realiza
“A Nike reconhece a lacuna existente na participação e incentivo às mulheres no esporte – o que inclui o basquete feminino. No Brasil, a Nike apoia o basquete profissional há várias décadas e continuaremos com esses esforços por acreditarmos no poder do esporte como uma força que move o mundo para frente. Para estimular a prática esportiva e incentivar a nova geração de atletas, a Nike devolveu uma quadra poliesportiva na Vila Buarque, em São Paulo, totalmente revitalizada ao coletivo de basquete Magic Minas, que agora possui um espaço seguro e adequado para uso. Outra grande ativação foi com o Nike Battle Force, uma competição que tem como objetivo promover a cultura do basquete na cidade”.
Citada na nota oficial de resposta da Nike, a reportagem do Olimpíada Todo Dia tentou contato com o projeto de basquete feminino “Magic Minas”, mas não obteve nenhuma resposta até o fechamento desta reportagem.
Confira a nota oficial da Nike na íntegra
“A Nike reconhece a lacuna existente na participação e incentivo às mulheres no esporte – o que inclui o basquete feminino. Por isso, procuramos remover barreiras para o acesso e crescimento do mercado, acelerando a cultura do esporte para mulheres de todo o mundo. No Brasil, a Nike apoia o basquete profissional há várias décadas e continuaremos com esses esforços por acreditarmos no poder do esporte como uma força que move o mundo para frente.
Para estimular a prática esportiva e incentivar a nova geração de atletas, a Nike devolveu uma quadra poliesportiva na Vila Buarque, em São Paulo, totalmente revitalizada ao coletivo de basquete Magic Minas, que agora possui um espaço seguro e adequado para uso. Outra grande ativação foi com o Nike Battle Force, uma competição que tem como objetivo promover a cultura do basquete na cidade. Pela primeira vez, o campeonato feminino foi realizado nos mesmos formatos que o masculino, em uma competição de 5 x 5 entre times de parques paulistanos e ligas amadoras.
Continuaremos ativando a comunidade global de milhões de pessoas – incluindo atletas de elite de todo o mundo e milhões de atletas* amadoras, esportistas do cotidiano. O objetivo final é fazer com que mais meninas e mulheres pratiquem esportes”.