Melhor brasileiro da história do badminton, Ygor Coelho vai trabalhar com Nadia Lyduch com o objetivo de alcançar o top 20 do ranking mundial em 2018
Maior nome da história do badminton brasileiro, Ygor Coelho entra a partir desta quinta-feira (08) numa nova fase em sua carreira. Atual 31º. colocado do ranking mundial, o carioca de 21 anos está em Copenhague, na Dinamarca, para começar a trabalhar com Nadia Lyduch, técnica do país, que já teve sob seu comando medalhistas olímpicos e mundiais. O acordo com a treinadora só foi possível graças a uma parceria da Confederação Brasileira de Badminton (CBBd) e o Comitê Olímpico Brasileiro. Além disso, a CBBd vai disponibilizar a partir de 2018 uma ajuda de custo de R$ 4 mil mensais para que o atleta possa disputar mais torneios do circuito mundial.
“Estou muito feliz. A caminhada até aqui foi só eu e meus patrocinadores e agora eu sinto que não estou mais sozinho porque tenho a ajuda da confederação e do COB. Estou muito ansioso para aprender. Já trabalhei com a Nadia Lyduch em 2015 e, se eu escutar ela bem, tenho certeza de que vou alcançar outros níveis”, afirmou Ygor Coelho, que tem como objetivo para a temporada entrar para o seleto grupo dos 20 melhores do ranking mundial.
“Não há dúvida de que o Ygor tem um grande potencial, principalmente se você considerar o quão longe ele chegou mesmo com o pouco treinamento de qualidade estruturada que ele teve em sua vida até agora. Isso não significa que ele tenha tido um treinamento ruim, mas comparado aos jogadores de sua idade em outros lugares do mundo, não foi tão detalhado e estruturado tecnicamente e taticamente. Com tudo isso, é realmente incrível que ele tenha chegado a esse pontos em uma idade tão precoce”, analisa Nadia Lyduch.
A treinadora sabe bem do que está falando. A Dinamarca é o país europeu com mais tradição no badminton, tanto que tem o atual número 1 do mundo, Viktor Axelsen, e é a quarta nação com mais medalhas olímpicas na modalidade, atrás apenas das potências asiáticas China, Indonésia e Coreia do Sul. Desde a entrada do esporte no programa dos Jogos, em 1992, oito medalhas foram dinamarquesas, uma de ouro, três de prata e quatro de bronze. De todos esses pódios, quatro tiveram a participação de atletas que trabalharam com Nadia Lyduch. O primeiro foi com Jens Eriksen, bronze nas duplas mistas em Atenas 2004. Em Londres 2012, Carsten Mogensen e Mathias Boe formaram a dupla vice-campeã masculina. Na mesma edição dos Jogos, Christinna Pedersen foi bronze nas duplas mistas. Para completar, no Rio 2016, Christina formou parceria com Kamilla Rytter Juhl, também atleta de Lyduch, para ficar em terceiro lugar nas duplas femininas. Com um currículo desses, Nadia Lyduch sabe muito bem o que Ygor Coelho precisa para chegar a Tóquio 2020 em condições de brigar por um lugar no pódio.
“Os próximos dois anos serão importantes e mostrarão até onde ele pode ir. Será que ele será capaz de aprender a viver e treinar como um profissional, ele será capaz de aprender as habilidades técnicas, tácticas, físicas, mentais e pessoais para que ele seja bem sucedido e levá-lo a um nível ainda maior? Eu farei o meu melhor para ajudá-lo nessa direção e eu sei que ele também tem outras pessoas importantes em sua equipe, que farão tudo para ajudá-lo a alcançar seu sonho. Mas, na realidade, é o Ygor quem terá que fazer o trabalho árduo e buscar o desenvolvimento. Se ele fizer isso, acho que tudo é possível”, acredita a treinadora.
Os grandes saltos na carreira de Ygor Coelho sempre tiveram relação direta com a Dinamarca. A primeira vez em que o brasileiro esteve no país foi em 2014, logo depois de disputar os Jogos Olímpicos da Juventude em Nanjing, na China. Então com 17 anos, o brasileiro foi trabalhar por três meses na academia de Michael Kjeldsen em Copenhague e teve a oportunidade de jogar alguns jogos pelo clube de Nadia Lyduch, em Greve. “Naquela temporada, o Ygor jogou em nossa segunda equipe e ele foi uma parte muito importante do time subindo da segunda divisão. Em 2014, também ganhamos a liga dinamarquesa com nossa equipe principal. Foi uma temporada muito boa”, lembra a treinadora.
Na volta aos torneios depois do primeiro encontro com Nadia Lyduch, Ygor Coelho foi campeão do Portugal Internacional Júnior, do Sul-Americano Sub-19 e do Aberto de Porto Rico, seu primeiro título como adulto. Depois disso, em 2015, ele voltou à Dinamarca e morou por dois meses na casa dos pais de Nadia.
“A Seleção Brasileira entrou em férias e eu não queria parar de jogar porque era o ano olímpico. Então resolvi investir do meu bolso para ir treinar na Dinamarca com ela”, conta Ygor. Menos de duas semanas depois, ele foi o primeiro brasileiro a ser campeão do Brasil Open, derrotando na final Kevin Cordon, da Guatemala, bicampeão dos Jogos Pan-Americanos. Era o começo da arrancada dada pelo atleta para conseguir a vaga para representar o país na Olimpíada do Rio de Janeiro.
O terceiro salto na carreira de Ygor Coelho também teve a ver com a Dinamarca, mas, desta vez, sem a participação de Nadia Lyduch. Depois da Olimpíada, o brasileiro foi morar na França, onde passou a treinar com a seleção do país, que tem como técnico Peter Gade, dinamarquês que foi número 1 do mundo, cinco vezes campeão europeu e dono de cinco medalhas em Mundiais. Com o que aprendeu com Gade e trabalhando com os melhores atletas franceses, o brasileiro pulou do 76º. lugar do ranking mundial em janeiro de 2017 para ser o 31º. um ano depois.
Agora, para se aproximar ainda mais do nível dos melhores do mundo, Ygor Coelho continuará vivendo na França, mas terá também o acompanhamento de Nadia Lyduch. “Vou trabalhar com ele à distância. Então eu não vou treiná-lo em uma base diária, mas eu tenho que me certificar de que ele tem a estrutura certa e que está trabalhando as áreas técnicas e táticas em seu treinamento. Também é meu trabalho assegurar de que ele saiba o que fazer quando está no INSEP (Instituto Nacional do Esporte da França), mas também quando está em torneios. Então vou trabalhar com ele taticamente e também mentalmente e ter certeza de que ele tenha as ferramentas certas para melhorar nessas áreas”, explicou a treinadora, que também fará a análise de desempenho do brasileiro em partidas e torneios e vai viajar junto com ele para os torneios mais importantes. A estreia da parceria vai acontecer no Aberto da Suíça no final deste mês. Depois, ele vem sem a técnica para a disputa do Brasil Open, mas depois eles se juntam de novo em meados de março para o All England, torneio que reúne os 32 melhores colocados do ranking mundial.
“Os pontos fortes de Ygor são que ele é rápido e leve para se movimentar pela quadra. Nos últimos dois anos, ele também desenvolveu boas habilidades técnicas na frente da quadra e na defesa. Além disso, ele é uma pessoa feliz e aberta com um grande desejo de fazer bem e trabalhar duro. Sua deficiência é que eu não acho que ele sabe o quanto ele tem que trabalhar a partir de agora. O nível que ele alcançou agora é fantástico e muito bom, mas para dar o próximo passo, ele precisa avançar ainda mais. Ele também precisa melhorar taticamente e também criar um plano de jogo mais sólido para ele mesmo estar mais ciente de como ele deve ganhar suas partidas e onde machucar seus adversários. Por último, ele deve se desenvolver fisicamente e trabalhar em suas habilidades de ataque. Ou seja, temos muitas coisas para começar a trabalhar”, finaliza a treinadora.
O detalhe curioso da relação entre Nadia Lyduch é a maneira com a qual ela chama o brasileiro: Ygordinho. O apelido nada tem a ver com a forma do brasileiro, que é magro e esguio. Bom, é melhor ela mesmo explicar: “Nós o chamamos assim porque soa mais brasileiro. Ygor para os nossos ouvidos dinamarqueses soa muito russo”, se diverte a treinadora.