Dia vinte e oito de abril de 2019. Essa seria a data em que Petrúcio Ferreira, da classe T47, do atletismo paralímpico, anotaria em sua agenda como o dia em que se tornou o mais rápido em sua modalidade com 10s37. No entanto, o vento a favor, acima dos 2.0 (2.3 especificamente) deixaram a sua marca invalidada para o recorde mundial. Petrúcio venceu a prova dos 100m no GP Brasil de Atletismo, realizado neste domingo, em Bragança Paulista, interior de São Paulo, onde fez a sua melhor marca até agora.
“Foi uma boa marca para mim, se o vento tivesse ajudado e estivesse um pouquinho mais baixo, então seria uma marca histórica para mim. Eu quis mostrar para mim mesmo que eu estou de volta nas pistas, devido ao susto que eu passei no início do ano, consegui virar essa página e chegar nessas competições forte. Ainda não estou 100%, estou 75%, voltei todo o início do treinamento pra chegar nessas competições. E eu já cheguei em um bom nível.”
A euforia do momento, logo virou uma decepção. Mesmo sem oficializar o recorde mundial, a marca de Petrúcio Ferreira em uma competição nacional mostra que pode ser repetida: “Fiquei muito alegre de ter batido aquela marca, apesar que o vento estava forte, me deixou triste no final, mas isso eu consigo entender, que nas próximas competições eu vou conseguir melhorar mais ainda. O vento hoje me ajudou, ajudou um pouquinho, pras pessoas que não entendem, acha que o vento não ajuda, não influencia… Se está no peito prejudica e se está nas costas ajuda. Então hoje ele me ajudou, mas quando ele não tiver, eu vou conseguir fazer essa boa marca.”
Esse foi o terceiro dia seguido de competição do atleta, que baixou de quinta-feira até agora treze centésimos: “Sim, como eu falei, eu não estou 100%, o susto que eu tive no início do ano prejudicou a preparação para esse ano. Agora, eu ainda estou no período de base, o período que o atleta ainda está pesado para entrar nas competições
A meta a ser batida continua sendo essa: a de se tornar o paralímpico mais rápido do mundo, que hoje é do irlandês Jason Smyth, com 10s46. Agora, Petrúcio Ferreira se prepara para o calendário que terá pela frente: Campeonato Nacional, Jogos Pan-Americanos de Lima 2019 e Mundial da modalidade.
“A gente teve que iniciar todo o trabalho… Como eu perdi muita massa muscular, tive muito desequilíbrio muscular, trabalhou com fisioterapeuta, nutricionista… Um trabalho de pista também… Trabalhar tudo pra voltar pra pista, pra voltar a correr em alto nível. Foi isso que a gente conseguiu trabalhar, mesmo não estando 100%. E eu consegui chegar na pista em alto nível. Então as metas principais são: Campeonato Pan-Americano e Campeonato Mundial.”
Neste domingo (28), Petrúcio Ferreira foi o vencedor da prova dos 100m paralímpico dentro de um evento olímpico da CBAt pela primeira vez e celebrou essa inclusão: “Isso é muito legal e importante pra gente, atletas paralímpicos. Estar tendo essa inclusão do esporte paralímpico com os olímpicos e a gente conseguir mostrar que a gente é atleta de alto rendimento. Porque algumas pessoas acham: ‘ah, é atleta paralímpico. É uma coisa mais fácil.’ Não, a gente é atleta de alto rendimento e hoje a gente está tendo a oportunidade de conseguir mostrar o nosso trabalho aqui dentro do esporte olímpico, nessa grande competição, que é esse GP Loterias Caixa, então é muito importante pra gente essa inclusão.”
Isso pode ser só o início. O tempo de Petrúcio daria a ele uma vaga no revezamento 4×100 olímpico. O tempo de hoje, de 10s37 é a sétima melhor marca brasileira nos 100m em 2019. O olímpico mais rápido é Paulo André, com 10s02. Para conseguir estar no revezamento, ele precisa ter uma das quatro melhores marcas do ano. Será que um dia esse feito pode acontecer? Se depender do atleta…
“Ah, então, tô sabendo desse resultado agora. Entrar no revezamento olímpico seria uma grande honra para mim estar correndo um revezamento com os atletas olímpicos e me deixaria muito feliz. E eu ia conseguir mostrar que não há dificuldade em nossa vida, que nada é impossível. Eu tenho essa dificuldade, mas não vai tornar nada impossível. Essa dificuldade sempre me permite estar largando um pouco atrás, ter aquele desequilíbrio nos primeiros 30m, mas eu consigo controlar isso na minha mente, que eu vou conseguir fazer boas marcas, que eu vou conseguir correr bem. Imagina eu entro no revezamento e um paralímpico corre um revezamento olímpico. Seria ótimo.”
O acidente assustou Petrúcio Ferreira, que ficou três meses sem treinar no início de 2019 e sem sair de casa. Trotava escondido na pista quando ninguém estava olhando. O resultado de toda a resiliência, espera e volta aos treinos agora pode ser vinda e sentida: “Agora, eu tirei o King Kong das costas. Tirei aquele peso que eu estava nas costas. Eu me cobrei, confesso que me cobrei muito para chegar nas primeiras competições do ano, devido o meu erro no início do ano, inventei de tomar banho naquele rio e acabei perdendo um bom tempo no início da temporada, mas me cobrei e consegui voltar em um bom nível nas pistas. Quero esquecer isso e virar essa página.”