Excelente a iniciativa anunciada nesta quinta-feira (13) pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil), sobre a criação do Hall da Fama. A homenagem será feita durante a próxima edição do Prêmio Brasil Olímpico, no próximo dia 18, no Rio de Janeiro.
Em um país conhecido pelo absoluto desleixo com a sua própria memória, a decisão do COB é louvável. Embora, sejamos justos, já deveria ter sido implantada há muito tempo.
Haverá um mural no Parque Aquático Maria Lenk onde os moldes das mãos ou pés dos homenageados ficarão disponíveis à visitação. Também será criado um espaço virtual dentro do site oficial do COB, com o perfil de cada um dos homenageados.
Foram selecionados para esta primeira homenagem nomes inquestionáveis do esporte olímpico do Brasil. Ou alguém seria capaz de ver algo errado com as indicações de Torben Grael, da vela, cinco vezes medalhista olímpico? Ou a dupla Jaqueline Silva e Sandra Pires, do vôlei de praia, primeira mulheres do Brasil que foram campeãs olímpicas? Ou Vanderlei Cordeiro de Lima, único brasileiro que recebeu a medalha Pierre de Coubertin, pelo espírito olímpico mostrado após a tragicômica maratona de Atenas-2004, aquela do padre irlandês?
Ninguém seria louco de ser contra estes nomes. Mas o papel do bom jornalismo é questionar sempre, às vezes até mesmo incomodar. Pois eu vejo problemas nesta lista inaugural do Hall da Fama do COB, independentemente de critérios ou da questão logística para incluí-lo na (longa) noite de homenagens do Prêmio Brasil Olímpico.
Em primeiro lugar, não consigo conceber que um Hall da Fama do esporte brasileiro seja inaugurado e que Adhemar Ferreira da Silva não esteja nele.
Sim, vão me dizer que ele já é homenageado, dando nome a um dos troféus do Prêmio Brasil Olímpico. O deste ano, inclusive, será entregue de forma justíssima à Jaqueline Silva.
Mas como aceitar que o atleta que colocou o Brasil no radar do mundo esportivo, nosso único bicampeão olímpico consecutivo no salto triplo (Helsinque-1952 e Melbourne-1956), várias vezes recordista mundial, não esteja na lista inaugural? Para mim, indesculpável.
Outros esquecidos
O brilhante passado olímpico do Brasil teve outros nomes esquecidos também, em minha opinião. O grande Wlamir Marques, maior jogador da história do basquete brasileiro, bicampeão mundial (1959 e 1963) e dois bronzes olímpicos (Roma-1960 e Tóquio-1964, quando inclusive foi o porta-bandeira do desfile de abertura). Acho que Wlamir tinha que estar na lista.
E seria uma linda homenagem, até para reparar a gafe absurda que foi feita no tal revezamento da tocha, antes da Rio-2016. Na ocasião, um inacreditável procedimento burocrático exigido para os carregadores da tocha olímpica afastou o mestre Wlamir do desfile.
Também poderiam perfeitamente já participar da inauguração deste Hall da Fama nomes de algumas pioneiras do esporte olímpico feminino. Como Maria Lenk, a referência da natação do Brasil, que esteve na Olimpíada de Los Angeles-1932 e hoje dá nome ao parque aquático dentro do Parque Olímpico da Barra.
Ou então Aida dos Santos, do atletismo, que nos Jogos de Tóquio-1964 brilhou no salto em altura. Única mulher na delegação brasileira, ela foi para sua prova sem técnico ou qualquer outro dirigente. Ninguém acreditava que ela passaria das eliminatórias. Não apenas se classificou como ficou muito perto da medalha, terminando em quarto lugar.
Como dito acima, nada contra a criação do Hall da Fama do COB. Mas sua estreia, ainda mais por acontecer em um momento de gala do esporte olímpico nacional, poderia ter acrescentado mais um ou dois nomes. Que os ajustes necessários sejam feitos nos próximos anos.
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