A marcha atlética brasileira vive um momento histórico liderado por Erica Sena e Caio Bonfim! Destaque feminino, Erica tem 32 anos, nasceu em Camaragibe, no Pernambuco, em 3 de maio de 1985. Descobriu o atletismo na escola e a marcha atlética de forma mais curiosa ainda aos 13 anos. Recordista sul-americana, detém a melhor marca brasileira em competições internacionais da sua categoria na modalidade. Em 2017, vive um dos melhores anos de sua carreira e disputa neste domingo (13), às 12h45, os 20km, no Mundial de Atletismo, em Londres. Ela é uma das esperanças de medalha do Brasil na competição.
“Esse ano foi um ano totalmente diferente, né? Dos meus anos anteriores. Normalmente eu começava o ano muito forte, competindo já muito forte, esse ano a gente decidiu começar o ano um pouco mais tranquilo. Tentando não competir tão forte, para poder chegar bem no Mundial, que vai ser a competição mais importante do ano”, contou Erica Sena, em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia.
Erica conseguiu fazer 1h29min16s em La Coruña, baixando pela primeira vez em 2017 de 1h30min. No circuito challenger da modalidade disputou quatro provas, subiu ao pódio em três – garantindo duas medalhas de ouro. Além disso, também foi campeã do Troféu Brasil.
“Em La Coruña foi a prova que eu consegui fazer mais rápido, que é a minha melhor marca da temporada até o momento e eu também ganhei a prova. Então foi e está sendo um ano muito bom para mim. Espero marchar forte, a gente está treinando muito bem. Acredito que seja uma competição rápida, pelo circuito, pelo clima, por tudo. Então acredito que vai ser uma prova muito rápida e espero que tudo seja positivo e que venham bons resultados para o Brasil”, completou.
Na Marcha Atlética, no Mundial, a melhor colocação na categoria feminina foi o 6º lugar em Pequim 2015 com Erica Sena. Medalha de prata no pan de Toronto, na Rio 2016 ela terminou em sétima. Agora, a brasileira busca um resultado ainda maior. Participou de um camping na fase final de preparação e na última quarta (09) viajou para Londres. Para a prova do próximo domingo (13) já tem uma estratégia definida.
“Minha estratégia é muito simples para o Mundial agora. Minha estratégia é tentar sair com elas e ir até onde eu aguentar, né? E o máximo que eu posso. E no final tentar fechar forte para ganhar delas, essa é minha estratégia. Eu sei que vai ser uma prova muito forte. Porque eu acho que vai estar um bom clima, o circuito também é muito bom, então tudo isso ajuda. Então eu acredito que vai ser uma prova forte para isso eu estou fazendo uns treinos bem fortes aqui na França, fazendo um ritmo de competição forte que eu imagino que vai ser lá o ritmo. Então tentando me preparar o máximo possível para estar bem preparada aí para essa mudança de ritmo, que eu acho que vai ter bastante durante a prova. E vamos ver no que vai dar”, concluiu Erica Sena.
Além de marido e atleta, Andrés Chocho é treinador de Erica
Atual recordista sul-americano dos 50km na marcha atlética, o equatoriano Andrés Chocho é também marido da brasileira Erica Sena. O casal se conheceu na Bolívia, em uma Copa Sul-Americana e desde então muita coisa mudou.
“No final de 2011 eu me mudei para o Equador, porque meu esposo é equatoriano, ele também é atleta, ele também vai estar competindo no Mundial, então já faz um tempinho que eu moro. Na verdade eu moro na cidade Cuenca, no Equador”, conta.
E não acaba aí! Andrés “acumula a função” de treinador. Quando Erica começou a treinar tinha cerca de 1h41min, agora passa a 1h29min16s nos 20km.
“Sim, treinamos juntos, a gente vive junto. Ele é atleta, mas também é meu treinador. Então treinamos juntos pela manhã e pela tarde. Desde 2010”, diz.
A curiosidade trouxe a profissão
A história de Erica Sena no esporte começou com o atletismo ainda com 11 anos. Ela foi descoberta na escola Santa Polônia, em Camadagibe, no Pernambuco, pela professora de educação física Elizabeth Medeiros.
“Ela foi lá na minha sala, se apresentou e falou que tinha um grupo, que treinava atletismo. Eu estudava pela tarde e treinava pela parte da manhã. Então ela convidou todo mundo que quisesse fazer atletismo fosse pela manhã seria lá na escola mesmo, né? E foi assim que eu comecei. Comecei correndo, comecei fazendo todas as atividades, que ela passava”, relembra.
E o que viria a ser sua profissão começou por brincadeira. Aos 13 anos, motivada pela curiosidade em ver as conhecidas Áurea e Simone treinando separado resolveu perguntar sobre a, até então, “desconhecida” marcha atlética.
“No começo eu fazia várias provas, né? Era mais aquela fase de brincar. Da criançada brincar e tudo. Então eu adorava ir, era todo mundo do meu bairro e tal. Eu achava muito legal. Ia mais por diversão mesmo, era como se fosse a minha diversão. E daí um certo dia quando já estava muito próximo da competição, eu vi que tinham umas meninas que faziam umas coisas diferentes. Elas ficavam meio que separadas e começavam a marchar. E eram só duas meninas que marchavam na equipe. Por curiosidade eu perguntei a professora o que era aquilo que elas estavam fazendo e tal, porque eu vi que só as duas que estavam ali separadas. Aí a professora me falou: não, é marcha atlética e tal. Aí eu falei: eu também quero fazer isso. E a professora não acreditou muito em mim, né? Ela falou: não, acho que não vai dar certo e tal, não sei o que. Aí eu disse: não, professora, deixa eu fazer, deixa eu fazer. Aí de muito insistir ela aceitou e acabou deixando eu fazer. Aí eu fiz, treinei uma semana e tal. E no dia da competição eu ganhei para aquelas duas meninas que já treinavam fazia tempo. E daí a professora falou: não, você tem talento. E eu já não queria mais porque eu achei que eu tinha sofrido muito na competição e quando eu cheguei lá eu já não queria fazer mais porque eu via a pista, eu treinava no campo, né? E o campo eram 300m e eu cheguei lá na pista e vi aquela pista grandona, eu disse: não, professora, não quero mais. E ela falou: não, não, você tem talento, você tem talento. E ela gostou da minha técnica e tudo. Aí depois desse dia eu não parei mais, até hoje”, confessa.
Além do incentivo da professora, Erica sempre contou com o apoio dentro de casa.
“Meu pai faleceu quando eu tinha 10 anos, mas minha mãe já era separada dele há muito tempo. Eu nasci e não fui criada com meu pai, mas minha mãe sempre me apoiou muito. Ela adorava que eu fizesse atletismo, que eu fizesse marcha. A gente nem entendia muito o que eu estava fazendo, mas ela gostava, via meus resultados, ela me apoiava muito, ela gostava muito. Até nos dias que eu não ia treinar ela ficava chateada comigo, porque eu não ia treinar. Ela queria que eu fosse treinar todos os dias. Então ela acompanhava sempre de perto, sempre gostou muito que eu fizesse atletismo”, conclui.