Por Giovana Pinheiro e Luiz Fernando Teixeira
Bia Neres é uma atleta que impressiona. Não apenas pelos resultados alcançados em uma carreira que começou “sem querer” e depois do convencional para a prática de um esporte de alto rendimento. O que impressiona é a capacidade de superação que a fez voltar a competir em provas oficiais de triatlo três meses após dar a luz a Bella, filha que nasceu no dia 16 de agosto de 2016, em meio aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Acompanhe a entrevista exclusiva de Bia Neres ao Olimpíada Todo Dia!
Quando Bia descobriu que estava grávida, ela estava entrando na reta final da preparação para a Olimpíada. “Foi um susto, eu não esperava. Demorou para a ficha cair, a gente não entendeu o que estava acontecendo, mas depois que você começa a sentir o que estava ali na sua barriga não tem preço. Você esquece tudo e entra em uma nova fase da sua vida”, afirmou a campeã brasileira.
Ser mãe foi um baque, mas a gravidez inesperada não impediu que a determinação de Bia a fizesse repensar sua carreira, ainda enquanto esperava Bella. O treinamento pesado foi reduzido para uma carga menor de exercícios que consistiam em musculação, natação e bicicleta ergométrica para evitar quedas. A única coisa que foi eliminada da rotina foi a corrida: “Não me sentia confortável correndo, parei de correr cedo”.
Bia agora tem que dividir sua rotina entre treinamentos e o cuidado da filha. Para isso, conta com o apoio da mãe e do marido, Daniel Orzechowski, que foi nadador olímpico e esteve presente nos Jogos de Londres, em 2012. Eles ficam com a pequena Bella enquanto a mãe treina duro para recuperar a forma pós-gravidez e tentar se qualificar bem no ranking para disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.
“Tenho muitos sonhos. Eu sei que sonhos são difíceis, mas não são impossíveis. O que eu construí já foi meu sonho, sonhava em ser campeã brasileira e sou a campeã brasileira, sonhava em ser a número um do ranking e também fui. É duro conquistar medalha no triatlo, porque são apenas três, então estar lá já é uma medalha”, afirmou Bia.
“Depois da gravidez a gente volta melhor e mais forte”
Desde que voltou a competir, Bia Neres praticamente não sabe o que é ficar fora do pódio. Ela venceu a 26ª edição do Triathlon Internacional de Santos e a Copa Americana de Triathlon, disputada na Costa Rica, foi vice-campeã do Campeonato Sul-Americano de Triathlon, realizado no Uruguai, além de vencer o Campeonato Brasileiro e ficar em quarto lugar na etapa de Montevidéu, da American Cup.
“Eu acho que eu sou bem realista, mas bem determinada. Quando eu coloco uma coisa na minha cabeça eu vou até o fim”, afirmou Bia, que se planejou para isso. “Não me surpreendo em vencer porque acho que é o mínimo que eu tenho que fazer pelas pessoas, pelos patrocinadores, porque lá fora o nível é bem maior”, declarou.
Aos 30 anos, Bia está caminhando para entrar no auge da forma física para uma triatleta. De acordo com ela, o esporte é voltado para corpos mais maduros, como o da atual campeã olímpica Gwen Jorgensen (30 anos), que, inclusive, acabou de ser mãe, mas pensa em voltar a competir a tempo de buscar o bicampeonato em Tóquio.
Bia começou no triatlo em 2011, já com 23 anos, de forma amadora. Ela conheceu triatletas na academia em que frequentava e acabou se interessando pela prova. Mesmo sendo amadora, ela conquistou resultados melhores do que alguma profissionais, o que acabou chamando a atenção do Pinheiros, que a convidou para ser defender o clube.
Linha de chegada
“Ser mãe é descobrir novos sentimentos, ter responsabilidade de ensinar uma pessoa a viver, a aprender as coisas, sentir amor único. Ser mãe pra mim está sendo especial”. Bia e Bella já cruzaram juntas a linha de chegada de uma prova, o Troféu Brasil de Triathlon, ato voluntário que a atleta tomou ao ver a filha nos braços do pai.
“Na prova eu vejo tudo que acontece, quando ele (Daniel Orzechowski) tá com ela no colo torcendo… Ela não tá entendendo nada, mas é muito legal. Dá um incentivo, já fiz chegada com ela no colo, é muito emocionante”, declarou Bia. Apesar de toda a felicidade proporcionada pela chegada de Bella, ela confessou ter sido difícil dar adeus ao sonho de disputar os Jogos do Rio de Janeiro, mas não tem arrependimento de nada.
“Foi difícil, você tem que pensar muito no ser que está vindo, não pode ser egoísta. você está gerando uma vida, é um dom, não posso parar esse processo, não posso me culpar por isso, tenho que agradecer. Pensando nos Jogos Olímpicos, foi muito duro sim, porque é muito sofrimento pra chegar lá, você não tem férias, não tem final de semana, não tem nenhuma regalia, não existe feriado, tanto é que no Dia das Mães estarei competido, isso tudo você abdica em buscas de um sonho maior”, afirma a mãe-atleta.